6 desafios da Comunicação Não Violenta (e como superá-los)

Nem sempre é fácil seguir à risca os quatro passos da CNV, porém o principal é levar em conta o propósito de conectar pessoas por meio da empatia e compaixão

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Mãe abraça filha adolescente fazendo uso da comunicação não violenta em família
Mais que resolver problemas, é importante estar presente e fazer companhia ao outro, quando necessário
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No Brasil, muitas mães e pais utilizam a Comunicação Não Violenta como forma de resolver conflitos em família. Popularmente conhecida como CNV, trata-se de uma metodologia criada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que tem como propósito criar conexões entre as pessoas através do uso da empatia. A metodologia ganhou força nos anos 1990, e foi muito utilizada por órgãos governamentais, principalmente no setor judiciário, para desmantelar conflitos por meio da empatia. 

Eu sou um grande adepto da CNV e atuo como mediador de rodas de conversas sobre essa abordagem há mais de sete anos. Mas percebo nas falas dos participantes uma dificuldade de pôr em prática o que lhes é proposto. Nos encontros, com frequência ouço muitas pessoas dizendo frases como: 

  • Acho incrível a CNV, mas não funciona em casa. 
  • Já tentei usar a CNV com meu marido e não deu muito certo. 
  • Eu nem consigo passar da escuta empática, quando vi já estou gritando
  • Eu tentei usar a CNV com a minha família por um tempo, mas desisti, pois não via resultado e olha que seguia à risca os quatro passos. 

Essas são algumas das afirmações, dentre outras muitas, que sempre escutei sobre o uso da CNV nos ambientes familiares, e por incrível que pareça elas não estão erradas, mas é importante analisar como é o entendimento dessas famílias em relação à aplicação da CNV dentro do âmbito familiar. 

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Um exemplo claro é a última frase, onde a pessoa diz seguir todos os passos à risca e não funcionar. 

A CNV nos orienta escolher caminhos dentro dos quatro passos, porém como ela é uma metodologia dinâmica e muito versátil, o que significa que não é sempre que a receita de bolo dos quatro passos terá sucesso, mas sim, o conceito poderosíssimo que há por trás, que é a conexão entre as pessoas através da empatia e compaixão.  Por isso digo que depende muito do entendimento de aplicação de cada família. 

Veja o caso da segunda frase, pode acontecer de você praticar a escuta ativa com o seu marido, por exemplo. Então, você deixa ele falar tudo o que precisa, provavelmente descarregando muitas coisas acumuladas dentro dele, e depois deve tentar identificar os sentimentos dele, se for seguir à risca os quatro passos. Nesse instante, você poderia lhe dizer algo como “acho que você está se sentindo triste”. Parece tranquilo, correto? Mas para alguém que vem de um acúmulo de estresse não é. Seu marido então diz: “Claro que estou triste, não está vendo?”  

Resumindo, os quatro passos da CNV servem como um guia, uma referência, o que realmente ajuda é lembrar que a CNV só existe porque seu propósito é conectar as pessoas de forma genuína através da empatia e compaixão. 

Abaixo vou mostrar seis exemplos de aplicações da CNV que são mal-entendidas e o que pode ser feito para ter sucesso na sua realização. 

1 – Escuta ativa 

Muitas pessoas acreditam que a escuta ativa é somente ouvir o que a outra pessoa tem a dizer, mas esquecem que esse princípio tem como base estar presente de coração aberto para ouvir de forma genuína o que a outra pessoa tem a dizer. Para que isso aconteça, devemos lembrar que o tempo, o ambiente e a forma como se convida para a escuta influenciam muito, ou seja, não vamos ter escuta ativa com tempo cronometrado, com ambiente barulhento e com um convite forçado.  

2 – O não julgamento  

O não julgamento é um princípio relacionado à liberdade, ou seja, se a pessoa que está falando se sente julgada, ela para de falar, como uma forma de proteção. Todos nós julgamos, é comum do ser humano, então não se culpe, já dizia Marshall Rosenberg. O que muitas pessoas fazem é tentar se controlar para não julgar, o que vai contra as necessidades humanas, então ao invés de tentar não julgar é mais fácil tentar guardar o julgamento para você, afinal ele é seu e não da pessoa que está sendo julgada. 

3 – Identificar o sentimento do outro 

Aqui vai uma pergunta bem simples: por que preciso saber qual é o sentimento da pessoa? Identificar os sentimentos é um caminho bem importante, o que não é importante é dizer para a pessoa o que ela está sentindo, pois isso pode causar um certo desconforto, lembrando que nem todo mundo se sente cômodo em expor seus sentimentos. Então, identifique os sentimentos, mas confirme esses sentimentos de outra forma que não seja por meio de perguntas diretas. 
E para se aprofundar mais na identificação dos sentimentos, vale procurar temas relacionados com a linguagem do corpo, afinal, os sentimentos são involuntários, não conseguimos controlá-los. É bem provável, por exemplo, que uma pessoa triste ande encurvada e cabisbaixa, enquanto uma pessoa feliz tenda a apresentar uma postura erguida e confiante.  

4 – Saber qual é a necessidade não atendida do outro 

Todo ser humano tem necessidades, porém admitir isso é entrar em um nível de vulnerabilidade bem grande e dificilmente alguém gosta de expor sua vulnerabilidade ao outro. Então, quando queremos saber qual é a necessidade não atendida de qualquer pessoa, lembre-se que estará mexendo nas vulnerabilidades dela, e como lidamos com isso? Simples, se for legítimo o interesse em descobrir a necessidade não atendida, também deve ser legítimo a vontade de ajudar, antes de adivinhar qualquer coisa, ofereça a sua ajuda e apoio.   

5 – O que fazer ao descobrir o sentimento e a necessidade do outro? 

Esse é um ponto super mal-entendido pela maioria das famílias com quem converso. Nós, seres humanos modernos, somos pessoas criadas pela sociedade para resolver problemas, então depois que descobrimos os sentimentos e as necessidades involuntariamente queremos resolver a situação da pessoa. O ponto é, será que devemos ajudar a resolver, ou simplesmente estar do lado, só para fazer companhia, ajuda mais do que tentar resolver? 

6 – O pedido malfeito 

Se seguirmos à risca os passos da CNV, chegaremos aos pedidos, porém 90% das famílias com quem converso dizem que não conseguem concretizar um pedido, ou seja, ele não é atendido. Para se fazer um pedido sincero e honesto, primeiro você deve se perguntar se esse pedido faz sentido para a outra pessoa, pois se não fizer pode até ser interpretado como uma ordem ou como uma obrigação. Uma dica extremamente importante que me deram foi: Antes de fazer qualquer pedido para outra pessoa, repita essa frase em sua cabeça “o que faz a minha vida e a do outro mais maravilhosa”, assim você encontrará um pedido que seja importante para os dois e não somente para um. 

Se você gostou deste conteúdo e tem um interesse legítimo de utilizar a CNV com a sua família, porém esbarra nessas dificuldades, talvez o jogo de cartas Aprendendo CNV para pais e crianças seja uma ótima ajuda, à medida que permite trabalhar de forma lúdica os princípios dessa abordagem. Criei o jogo com a finalidade de ajudar pais e crianças a resolverem seus conflitos promovendo desenvolvimento emocional por meio dos princípios da CNV. Para quem se interessou em conhecer melhor o jogo, clique neste link e descubra como ele pode ajudar sua família. 

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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Mauricio Maruo
É pai da Jasmim e do Kaleo, e companheiro da Thais. Formado como artista plástico, atua como educador parental desde 2016. É fundador do "Paternidade Criativa", uma empresa de impacto social que cria ferramentas de transformação masculina através do gatilho da paternidade. Criador do primeiro jogo de Comunicação Não Violenta direcionado para pais e crianças do Brasil.

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