Brincar é essencial para o desenvolvimento integral da criança, tanto para habilidades psicológicas e emocionais, quanto para as cognitivas e motoras. Durante a infância, estimular competências como a coordenação motora nos pequenos possui papel fundamental para que eles realizem uma série de atividades na fase adulta. Quando esse estímulo é feito por meio de brinquedos e atividades educativas, seu desenvolvimento é exercitado de forma divertida e eficiente, e pode até fortalecer vínculos com os pais.
Renata Viana é diretora lúdica da Leve Brincar, uma empresa de recreação e entretenimento lúdico infantil, e ressalta que, além de importante para o futuro de cada criança, a brincadeira é uma parte do desenvolvimento pela qual todos passam desde o nascimento. “A gente acha que brincadeira é uma coisa sem sentido, mas não é. Toda brincadeira tem um fundo educacional, pedagógico e nós brincamos desde que o mundo é mundo. Todo mundo brinca, e todo mundo sabe brincar. É algo que está dentro da gente”.
Por que estimular a coordenação motora nas crianças?
A coordenação motora consiste na habilidade de desenvolver determinados movimentos corporais de forma coordenada. Pular, correr e outras atividades que utilizam os músculos e o corpo requerem habilidades da chamada coordenação motora grossa, enquanto ações como segurar um lápis, recortar algo e outras que requerem maior precisão de detalhes exercitam a coordenação motora fina.
É essencial que os pais e as próprias escolas se atentem e estimulem a participação das crianças em atividades que exercitem sua coordenação motora, pois essa habilidade será determinante para elas na fase adulta, contribuindo para o desenvolvimento de questões como a agilidade, o pensamento lógico e o trabalho em equipe, explica Gabriele Lemos, pedagoga, ecobrinquedista e recreadora da Leve Brincar.
“Não trabalhar a coordenação motora é um problema na infância. Nós dependemos muito dela no nosso dia a dia, para comer, dirigir, trabalhar, independentemente da área”, relata a pedagoga Gabriele.
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8 brinquedos para desenvolver a coordenação motora nas crianças
Desenvolver a coordenação motora nas crianças por meio dos brinquedos é possível por meio de atividades diversas, para todos os gostos e necessidades. Os brinquedos com teor educativo podem ser encontrados tanto em lojas especializadas nesses produtos, quanto dentro da própria casa, confeccionados com materiais do dia a dia das famílias, como proposto por Renata e Gabriele. Confira 8 dicas variadas de brinquedos que ajudam a estimular a coordenação motora na infância:
1. Alinhavos
Brinquedos de alinhavo correspondem a um grupo que trabalha a destreza manual a partir dos detalhes, desenvolvendo a coordenação motora fina. Eles são geralmente de madeira, e consistem numa forma de costura simples, com pontos largos e mais espaçados. Os brinquedos que estimulam esse movimento de pinça na hora de passar uma linha por pequenos buraquinhos pertencem aos alinhavos e estimulam a coordenação desde os primeiros anos de vida.
2. Varal de roupas adaptado
Com prendedores e “camisetas” feitas pela própria criança, a construção de uma espécie de varal de roupas exercita a imaginação, criatividade e a coordenação. “Você pode pedir pra criança fazer roupinhas, camisetinhas com dobraduras, que é super fácil de fazer, ou cortar mesmo um quadradinho de camiseta, e dar uma temática para a criança desenhar naquela camiseta. Por exemplo, ela pode desenhar só frutas, e as camisetinhas só serão com estampa de frutas. Depois ela vai no varal, de roupa mesmo, e pendura”, sugere Renata Viana. O manuseio dos prendedores de roupa fortalece a musculatura da mão, o que irá refletir numa boa movimentação do lápis quando a criança for alfabetizada.
3. Brinquedos de empilhar
Torre Inteligente, Torre Bamba, Torre Serial e Torre Multiformas são alguns dos modelos citados por Lucelia Freita, sócia e proprietária da loja de brinquedos educativos e pedagógicos Bambinno, como boas opções desse grupo. Há vários estilos diferentes de brinquedos de empilhar disponíveis para as crianças, e sua proposta trabalha o raciocínio lógico, coordenação motora e concentração.
4. Pulseiras de miçanga
Quer estimular a coordenação motora fina da criança? Segundo Gabriele Lemos, realizar uma oficina de pulseiras com miçangas é uma atividade ideal para a faixa etária de 4 a 12 anos. Além de exercitar movimentos precisos com a mão e os dedos, confeccionar esse tipo de acessório desenvolve competências como a paciência e perseverança. “É surpreendente a dificuldade que as crianças têm de sentar e fazer uma pulseira, porque, além de tudo, você trabalha concentração e um projeto com começo, meio e fim”, explica a pedagoga.
5. Bambolê
Trabalhar o corpo como um todo, desenvolvendo a coordenação motora grossa, é tão importante quanto o exercício dos movimentos mais específicos. Brincar de bambolê é uma ótima forma de realizar esse estímulo corporal coordenado, e permite que a criança utilize a criatividade para brincar de diferentes maneiras com ele.
Além disso, a essência dos movimentos do bambolê pode ser conservada para uso em brincadeiras adaptadas, que também unem diversão e coordenação. Renata e Gabriele sugerem um formato diferente da atividade:
“Se você não tiver bambolê em casa, você pode fazer uma flor no chão da calçada com giz de lousa. Então vai ter o núcleo, que é o miolo da flor, e as pétalas circulares em volta, como se fosse um bambolê. A ideia é que com dois amigos, um na frente do outro, um pare com as pernas no círculo e ponha as pernas juntas no miolo da flor. E aí vai trocando, como step. Se você faz com o amigo, além da coordenação, você precisa ter o pensamento em dupla e também a agilidade do movimento do outro. Então um for mais devagar, você não pode bater com ele no miolo da flor. Você vai entrar no miolo quando ele estiver fora da pétala. É uma troca, rola até a empatia com o amigo”.
6. Fidget Toy
Os fidget toys se tornaram uma febre entre as crianças em 2021, principalmente pelos Bubble Fidget Toys, popularmente conhecidos como Pop It. Eles são vendidos em uma grande variedade de cores e formatos. Além de ser um brinquedo relaxante para os pequenos, sua proposta também estimula questões sensoriais e desenvolve a coordenação motora através do movimento de repetição que é feito ao brincar com suas “bubbles” – as bolinhas do brinquedo.
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7. Encaixe de macarrão
Até mesmo o macarrão pode se tornar um brinquedo educativo, na visão de Renata e Gabriele. Uma dica da Leve Brincar que pode ser facilmente feita em casa é a de oferecer macarrão cru, do tipo penne, para que as crianças encaixem em palitos de churrasco ou separem, um a um, em diferentes recipientes. “Você pode dispor as ferramentas, como colher, pinça e palito de churrasco – que, dependendo da faixa etária da criança, é importante cortar a pontinha – e prende numa caixa de ovo”, explica Gabriele. A brincadeira pode ser feita também com a transposição de grãos como arroz e feijão, para que a criança sinta diferentes texturas enquanto trabalha a coordenação motora.
8. Bloquinhos de montar
Os blocos de montar são clássicos, simples e permitem que a criança desenvolva uma série de ações que estimulam sua imaginação e habilidades motoras, como ressalta Lucelia Freita. “Ela utiliza as mãos, segura o brinquedo, tenta encaixá-lo em outra peça, joga no chão, todas essas ações contribuem para o desenvolvimento da coordenação motora”.
Independentemente da escolha de brinquedo pelo qual as crianças serão estimuladas, o importante é que as atividades que desenvolvam a coordenação motora com os pequenos sejam feitas de forma frequente. Gabriele explica que todo o progresso é alcançado com treinamento: “Não adianta você fazer uma pulseira, por exemplo. Você tem que trabalhar o que você quer desenvolver na criança todo dia, toda semana. É importante ter essa paciência, porque uma criança de três anos vai colocar três miçangas e abandonar o projeto. Precisa insistir, e quando você ver, ela vai ter finalizado. Aí você aumenta a dificuldade, e assim ela vai desenvolvendo atividades. Não adianta fazer a brincadeira uma vez só e esquecer, é preciso sempre trabalhar o núcleo que quer ser desenvolvido com a criança várias vezes, com repetição, até que ela finalize com sucesso e possa ir para um nível mais avançado”, conclui a pedagoga.
Brinquedos educativos x brinquedos pedagógicos
Uma boa forma de estimular as habilidades das crianças é por meio de alguns brinquedos educativos que são pensados para que elas exercitem a coordenação motora por meio de alguns movimentos do corpo. Entretanto, há uma diferença entre brinquedos educativos e brinquedos pedagógicos, que também estimulam a criança, mas com outra proposta e objetivo. Lucelia Freita explica as distinções: “Os brinquedos educativos são aqueles que estimulam a autonomia da criança no brincar, ou seja, eles não funcionam sozinhos, é preciso que haja uma ação por parte da criança, e a brincadeira acontece de forma livre de maneira que a ela possa explorar o brinquedo da maneira que preferir. Já os brinquedos pedagógicos são aqueles que têm o objetivo de ensinar algo específico, como português ou matemática, por exemplo, e estes necessitam da presença de um adulto para conduzir e ensinar o que o brinquedo propõe”.
Lucelia comenta que os benefícios de usar esses brinquedos e brincadeiras ao longo do desenvolvimento da criança trazem uma série de benefícios devido ao exercício não só da coordenação motora, mas também de outras habilidades sociais e emocionais:
“A manipulação de brinquedos e objetos contribui para a construção de sistemas internos e para a comunicação com o mundo externo”, afirma Lucelia Freita.
Ela ressalta que é através da brincadeira que a criança passa a se inserir na sociedade, aprende a compartilhar, tolerar, compreender e se comportar diante dos outros, e “os brinquedos proporcionam novas experiências, aumentando suas potencialidades, formando conexões neurais que serão importantes para o seu desenvolvimento mental e corporal no futuro”.
Renata Viana também ressalta que, dentro dos brinquedos capazes de instigar as crianças de forma mais autônoma, é possível encontrar os brinquedos “frios”, vindos da linha dos plásticos, e os “quentes”, de materiais como madeira ou tecido, que costumam ser os que estimulam com maior afinco. “Esses trabalham com a criança intensamente, porque muitas vezes ela tem que descobrir a funcionalidade do brinquedo. Então ela vem trabalhando o raciocínio, coordenação, criatividade. Se os pais brincam junto, isso estimula a afetividade, a memória afetiva. Logo, os brinquedos têm um papel muito importante”, diz Renata.
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