Em um trecho bastante profundo do livro “Não espere pelo epitáfio” do filósofo Mário Sergio Cortella lê-se: “sempre é tempo de achar o fio da meada”.
O próprio nome do livro nos convida a refletir sobre o que vamos deixando para depois, postergando necessidades, planos e desejos em prol de prioridades que nem sempre são reais.
Foi um ano intenso. Em 2020, fomos privados em diversos aspectos da vida e pudemos nos confrontar de maneira muito dramática com o pior, mas também com o melhor do ser humano. Tivemos que nos reinventar alguns pares de vezes, mudar de estratégia, aceitar que muitos novos comportamentos vieram para ficar e, então, chegamos até aqui.
Por mais que tenha sido um ano em que a doença causada pelo novo coronavírus foi assunto unânime e diário, o que procuramos durante todo o tempo foi manter a saúde – nossa e dos nossos entes queridos. Saúde essa que é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença. Alguns pesquisadores propõem uma nova definição ainda mais abrangente: a capacidade de adaptação e autogerenciamento frente a desafios físicos, emocionais e sociais.
Estamos saudáveis? Qualquer seja a definição preferida, ambas nos fazem parar para pensar. É época de balanço e nós somos o resultado do equilíbrio entre o que acontece nas diferentes dimensões da nossa saúde. Meu convite é para que dediquemos um tempo a analisar as dimensões abaixo.
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7 dimensões da nossa saúde
Saúde física: manter o corpo em funcionamento harmônico, adaptado a quaisquer limitações impostas, bem nutrido e equilibrado entre atividade e descanso.
Saúde mental: estar bem consigo e com os outros, e saber lidar com emoções de maneira resiliente, sem deixar de reconhecer os próprios limites.
Saúde social: manter relações estáveis, duradouras e recíprocas com a família, amigos, colegas de trabalho e com a sociedade, criando uma rede de apoio que pode ser acessada em momentos de dificuldade.
Saúde espiritual: ter liberdade para viver a fé, os valores e propósitos pessoais, independente da crença escolhida.
Saúde ocupacional: exercer uma função em que o potencial individual máximo possa ser atingido, com significado e encontrar a sensação de ser útil.
Saúde financeira: não é sobre ter ou não dinheiro. Saúde financeira envolve a organização do dinheiro para suprir as necessidades essenciais, ter momentos de lazer, poupar para realizar planos e sonhos e ter uma reserva financeira para o caso de emergências.
Saúde intelectual: encontrar atividades que estimulem a aquisição de novos conhecimentos, enriquecendo o repertório pessoal e o autodesenvolvimento.
Enquanto pais e cuidadores, nos cabe também fazer esse balanço da vida dos nossos filhos e, dependendo da idade, COM os nossos filhos. Por quais caminhos os temos conduzido? A parentalidade envolve desafios diários e a responsabilidade é gigantesca. Temos em mãos seres em desenvolvimento que se espelham nos nossos próprios comportamentos e ações para se moldarem, se adaptarem e serem o melhor que puderem ser nesse mundo.
Se algo não vai bem, ou até mesmo se muitos aspectos dessas dimensões da saúde não vão bem, é a partir dessa análise que podemos elaborar um plano de ação para obter melhorias com metas específicas, factíveis e em etapas. Essas metas devem ser compartilhadas e por meio do esforço coletivo da família, pequenos objetivos podem ser alcançados e, na somatória, grandes mudanças são possíveis.
Os próximos meses ainda serão repletos de incertezas e receios, mas relembro a frase do filósofo que me fez refletir: sempre é tempo de achar o fio da meada. É época de nos cuidarmos e também de renovar ou readequar parcerias que nos permitem melhor conduzir o florescimento dos nossos filhos: o pediatra, a escola, os amigos, a rede de apoio. A intenção é que possamos criar o meio mais adequado para o melhor desenvolvimento das nossas crianças e adolescentes.
Que em 2021 seja prioridade o compromisso com o futuro. Cuidar da infância e da adolescência para que possamos mudar o mundo para melhor. Saúde!
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