Você sabe o que são os 9 minutos “mágicos”?

Teoria baseada em estudos de neurociência viralizou na internet. Para especialista, faz sentido e funciona, mas está longe de ser o bastante na criação dos filhos. Entenda a discussão
Acorde seu filho com carinho, beije, abrace, converse, veja como ele se sente, fale sobre as programações do dia
Foto: Freepik
Acorde seu filho com carinho, beije, abrace, converse, veja como ele se sente, fale sobre as programações do dia Foto: Freepik

Com a correria do dia a dia, muitos pais têm a sensação de que não conseguem dedicar tempo suficiente aos filhos. E a gente sabe: não é fácil mesmo! Talvez por ser uma questão com a qual tantas famílias se identificam hoje, a promessa de uma técnica que promete resolver a questão com a bagatela de 9 minutos por dia viralizou na internet. Baseado em estudos neurocientíficos, o conceito consiste em oferecer atenção plena às crianças em três blocos de três minutos, divididos em momentos cruciais do dia. São dicas importantes e que fazem sentido, mas não dá para acreditar que essa quantidade de tempo é o suficiente para se dedicar integralmente aos filhos, como alerta o pediatra Daniel Becker, autor do perfil @pediatriaintegralbr.

Antes, é preciso entender o que é e como se aplica a chamada teoria dos nove minutos mágicos. Segundo o neurocientista estoniano Jaak Panksepp, pioneiro da chamada “neurociência afetiva”, os pais ou cuidadores precisam se dedicar a uma conexão integral – com atenção plena, presença, sem distrações como telas ou tarefas – aos filhos, em três momentos cruciais do dia:

No despertar – Acorde seu filho com carinho, beije, abrace, converse, veja como ele se sente, fale sobre as programações do dia.

Na volta da escola – Antes mesmo de fazer a clássica pergunta (e que nunca tem uma resposta satisfatória) de “como foi a aula hoje” e suas variações, abrace a criança ou o adolescente, conecte-se com ele, perceba como ele está, ouça, sem pressa e sem sufocar com questionamentos.

Ao dormir – Nos três últimos minutos, antes de a criança dormir, tenham uma rotina de carinho juntos, lendo uma história, falando sobre o dia, abraçando e colocando as cobertas em cima dele, de forma aconchegante.  

O conceito derivou de alguns estudos de Panksepp sobre as bases neurais das emoções. Segundo o pesquisador, os afetos que fundamentam os seres humanos não são construções culturais ou apenas cognitivas, mas sistemas emocionais inatos, herdados dos nossos ancestrais, localizadas em estruturas profundas e antigas do cérebro. Estes sistemas são fundamentais para o desenvolvimento emocional e social saudável. Essas ideias reforçam o valor da presença consciente, da atenção afetiva e dos pequenos rituais — que, embora simples, ativam camadas profundas de bem-estar e vínculo.

A partir disso, surgiu a proposta de reservar nove minutos por dia de atenção total às crianças, para criar e reforçar estes sistemas emocionais. Sem celular, sem distrações, sem dividir o foco com tarefas domésticas ou trabalho. Apenas estar ali — conversando, brincando, escutando ou acolhendo. A ideia é que esses pequenos blocos de conexão, fundamentados nos estudos de Panksepp sobre neurociência afetiva, criem uma sensação de segurança emocional que acompanha a criança pelo resto do dia – e pelo resto da vida.

Pesquisas internacionais apontam que interações breves e positivas com os cuidadores, de fato, reduzem níveis de cortisol (o hormônio do estresse) nas crianças, além de fortalecer competências socioemocionais como empatia, cooperação e autorregulação. Na prática, isso significa menos crises, mais diálogo e maior confiança. “Tem consequências muito positivas para o desenvolvimento mental e emocional da criança”, afirma Daniel Becker, em um vídeo compartilhado em suas redes sociais.

A questão é que isso não basta. “O que eu acho perigoso é achar que esses nove minutos dão conta de tudo”, explica o médico, que reforça que 9 minutos, dentro de 24 horas, para dedicar à conexão com os filhos estão longe de ser suficientes. Ele reforça que o tempo de qualidade é importante, sim, mas a quantidade também é. Becker destaca que é fundamental os pais estarem presentes e conectados com os filhos na maior parte do tempo que estão com eles. “Isso não quer dizer que a gente vai abrir mão do nosso trabalho, das nossas tarefas domésticas, do nosso autocuidado, da nossa capacidade de estar conosco mesmo também, o tempo todo, em função dos filhos”, pontua. “Mas, sim, eles são prioridade e, sim, merecem essa conexão mais profunda, mais afetuosa, mais presente, a maior parte do tempo”, acrescenta.

“É claro que a vida atual, o excesso de trabalho, o isolamento, a falta de apoio (especialmente para as mães) dificultam muito esse contato profundo”, reconhece o médico, que explica que os nove minutos são uma pequena base, mas é preciso buscar mais. Além de ser um alicerce para o desenvolvimento físico e emocional da criança, esse vínculo forte, que se forma a partir dos momentos de entrega e de intimidade, também trazem vantagens para os adultos cuidadores, porque reduz o estresse e aumenta a capacidade de educar, sem pender para a permissividade ou para a agressividade – ambos extremos nocivos. “Procure estar junto, em conexão afetuosa e atenta, escutando, sempre que a vida te permitir”, completa o especialista.

 

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