Quem lida diariamente com o uso excessivo das telas pelos filhos – seja com jogos, vídeos ou redes sociais – e já assistiu a algum episódio da novela Travessia, na Rede Globo, deve ter se identificado com as dificuldades enfrentadas pela família do personagem Theo. O adolescente, interpretado pelo ator Ricardo Silva, é viciado em jogos virtuais e a dependência tem provocado uma série de problemas em casa com os pais – o casal Laís e Monteiro, representado pela atriz Indira Nascimento e pelo ator Aílton da Graça.
Em uma das cenas do folhetim, Theo chega a ter um ataque de fúria devido à queda na conexão com a internet. Ele atira móveis, quebra uma cadeira e até grita com a mãe. Certa vez, o pai tentou forçar o filho a desligar o computador e quase levou um soco do adolescente. As cenas são fictícias mas retratam uma realidade que muitas famílias reconhecem.
Nos próximos episódios, a família de Theo buscará ajuda para falar dos desafios enfrentados com o filho caçula. O profissional que aparecerá nas cenas é um psicólogo na vida real. Cristiano Nabuco coordena o Grupo de Dependências Tecnológicas (PRO-AMITI) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, e fará uma participação especial na novela, além de ter prestado consultoria para a criação da história dos personagens.
À Canguru News, Nabuco disse que o vício em jogos é um problema cada vez mais comum, e uma das mais novas patologias de saúde mental do século 21. O vício foi inclusive classificado como doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo incluído no documento conhecido como CID-11, que se refere à Classificação Internacional de Doenças e é usado para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo.
“Jovens chegam a jogar sem parar por 10, 20, 30, 40 e até 50 horas, sem pausa para almoçar, dormir, se alimentar ou usar o banheiro. Alguns chegam até a urinar e evacuar na calça, para não interromperem a performance no jogo”, ressalta o psicólogo.
Ele acredita que abordar a temática na novela tem uma importância imensa, “pois a maioria dos pais e cuidadores possuem uma visão ainda muito romantizada acerca das telas digitais e não se atentam aos riscos”.
O especialista orienta os pais a que prestem mais atenção aos filhos, principalmente, no que diz respeito ao uso das telas digitais. “Se os filhos apresentarem sinais de uso abusivo como, por exemplo, negligenciar a escola e ter queda nas notas; se ficam trancados jogando no quarto o tempo todo, incluindo as madrugadas; e não saem mais do cômodo para poder ficar conectados, é bom buscar ajuda de algum profissional especializado, psicólogo ou médico”, alerta Nabuco.
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