Uma avalanche de fake news sobre autismo e por que isso é preocupante

Fake news e muita desinformação sobre autismo Foto: Freepik

Foi o que descobri ao ler um estudo da organização Autistas Brasil, em parceria com o DesinfoPop da FGV. O levantamento analisou quase 60 milhões de mensagens em grupos do Telegram entre 2015 e 2025. E o dado que me deixou de queixo caído: a desinformação sobre o autismo cresceu mais de 15.000% na América Latina desde a pandemia. Sim, você leu certo. Quinze mil por cento.

E tem mais: quase metade de todas as narrativas falsas sobre autismo circulando na região vem do Brasil. Como mãe, isso me acende um alerta enorme.

Fake news e muita desinformação sobre autismo
Foto: Freepik

Um mar de mentiras e famílias vulneráveis ​​no meio

Entre as 47 mil publicações descobertas, os pesquisadores encontraram mais de 300 narrativas falsas sobre causas e “curas” do autismo. Algumas são tão absurdas que parecem brincadeira, até lembrarmos que muita gente, desesperada por respostas, acredita.

As falsas causas mais comuns incluem:

  • 5G, Wi-Fi e micro-ondas
  • “Parasitas” escondidas no corpo
  • Campo magnético da Terra
  • Água da grávida
  • Corantes, cosméticos e salgadinhos
  • Alimentos

Nada disso tem qualquer base científica. Mas repetidas vezes, em grupos fechados, essas teorias ganham cara de verdade. E para quem está fragilizado, tentando entender o diagnóstico do filho, essas supostas “pistas secretas” podem parecer tentadoras.

E quando chegam as falsas curas, o risco fica ainda maior

O estudo também encontrou mais de 150 “tratamentos milagrosos”, muitos perigosos e alguns assustadores.

Entre os principais estão:

  • ingestão de dióxido de cloro, uma substância tóxica
  • ozonioterapia e eletrochoque de Tesla
  • prata coloidal
  • protocolos agressivos de “desparasitação”
  • dietas extremas e suplementos sem orientação médica

Além de não funcionarem, muitos desses métodos colocam crianças em risco real de intoxicação, danos permanentes e traumas emocionais. E tudo isso custa caro, no bolso e no coração das famílias.

Eu penso muito nisso. Quando somos vulneráveis, qualquer promessa de solução rápida é como esperança. É exatamente esse ponto frágil que grupos conspiratórios exploram.

O impacto é maior do que a gente imagina

Além de colocar crianças em risco, a desinformação ainda alimenta preconceitos. Reforça mitos ultrapassados, atrapalha o diagnóstico, cria culpa nos pais e afasta famílias de intervenções eficazes e baseadas em evidências, como acompanhamento multidisciplinar, apoio educacional e terapias adequadas.

Guilherme de Almeida, presidente da Autistas Brasil, explicou isso em entrevista ao Canguru News:
“Estamos diante de uma epidemia silenciosa de desinformação. O que está em jogo não é apenas a verdade, mas a segurança e a dignidade das pessoas autistas e de suas famílias.”

E é exatamente isso.

Como saber em quem confiar

No meio de tanto barulho, existe sim um caminho seguro, e ele começa com informação de qualidade.

Alguns cuidados importantes:

  • Desconfie de qualquer promessa de “cura”
  • Evitar tratamentos sem comprovação científica
  • Buscar médicos habilitados, como pediatras, neuropediatras, psiquiatras e terapeutas
  • Procurar instituições, seções e grupos de apoio moderados
  • Conversar com outras famílias em espaços acolhedores e confiáveis

A internet pode ser uma grande aliada, mas só quando a gente sabe onde pisar.

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