Ultraprocessados ameaçam saúde das crianças e UNICEF acende alerta global

Nova revisão reúne as evidências mais recentes sobre os impactos dos ultraprocessados no desenvolvimento de crianças e adolescentes e reforça a urgência de ambientes alimentares mais saudáveis, dentro e fora da escola
Foto de Annie Spratt no Unsplash
Foto de Annie Spratt no Unsplash

 

O que as crianças comem hoje molda quem elas vão ser amanhã. A questão requer atenção imediata, porque o cenário mundial é crítico. É o que diz um novo alerta, publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A organização lançou a revisão global Alimentos Ultraprocessados e Crianças, o documento mais completo já produzido sobre os efeitos desses produtos na saúde infantil. A publicação reúne pesquisas de instituições de referência, como Universidade de São Paulo, Universidade de Sidney e Instituto Nacional de Saúde Pública do México, e aprofunda um tema que há anos preocupa especialistas, pais e educadores: o crescimento rápido do consumo de ultraprocessados entre crianças e adolescentes.

A revisão reforça o que a gente já sabe (mas, às vezes, acaba querendo não enxergar): esses alimentos — ricos em açúcar, gordura, aditivos e ingredientes artificiais — têm impactos que vão muito além do aumento de peso. Eles estão associados a sobrepeso, obesidade, erosão dental, cáries e até formas invisíveis de desnutrição, como anemia e atraso no crescimento. Pesquisas recentes também relacionam o consumo frequente de ultraprocessados ao maior risco de diabetes tipo 2 na vida adulta e possíveis repercussões na saúde mental. “Se os adultos já sofrem com esse ambiente alimentar, as crianças e adolescentes são ainda mais vulneráveis”, afirma Joaquin Gonzalez-Aleman, representante do UNICEF no Brasil. “Esperamos que essa revisão oriente políticas públicas mais protetivas para as novas gerações”, acrescenta.

O alerta chega em um momento crítico. Isso porque apenas alguns meses antes, em setembro, o UNICEF divulgou outro relatório importante, mostrando que, pela primeira vez, a obesidade ultrapassou a desnutrição entre crianças e adolescentes em idade escolar no mundo.

No Brasil, essa virada aconteceu ainda antes dos anos 2000. Entre 2000 e 2022, a obesidade infantil triplicou — de 5% para 15% entre meninos e meninas de 5 a 19 anos — enquanto o sobrepeso dobrou, de 18% para 36%. Os dados reforçam que o avanço dos ultraprocessados no cotidiano das famílias, inclusive nos países de baixa e média renda, tem afastado crianças de dietas tradicionais e aproximado de padrões alimentares que prejudicam o desenvolvimento.

Embora o Brasil tenha avançado em medidas como a rotulagem frontal e parte da reforma tributária, ainda há um caminho longo a ser percorrido para proteger as crianças. Tramita no Congresso, por exemplo, o PL 4.501/2020, que restringe a oferta e comercialização de alimentos não saudáveis nas escolas. “Criar ambientes escolares saudáveis é prioritário. É ali que muitos hábitos se formam”, reforça Gonzalez-Aleman.

O lançamento da revisão ocorreu no mesmo dia da apresentação da Série The Lancet: Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana, na sede da Fiocruz, reunindo pesquisadores como Carlos Monteiro, Patrícia Jaime e Phillip Baker — nomes centrais nos estudos sobre o tema. Representantes da OPAS/OMS, FAO, Ministério do Desenvolvimento Social, WFP e figuras públicas como a chef Rita Lobo também participaram do encontro, destacando o consenso global: proteger crianças da exposição intensa a ultraprocessados é urgente, possível e depende de escolhas coletivas.

Em casa, na escola, no mercado e nas políticas públicas — cada decisão conta. Afinal, garantir que meninos e meninas cresçam saudáveis não é apenas sobre o prato de hoje, mas sobre o futuro que desejamos construir para eles. Que tal levar a sério aquele conselho de descascar mais e desembalar menos?

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