Acidentes de engasgo em crianças, infelizmente, são comuns. Um estudo do Sistema Único de Saúde (SUS) mostrou que entre 2009 e 2019, o número de mortes por engasgo notificados em crianças de 0-9 anos de idade, no Brasil, foi de 2.148 óbitos. Do total de mortes, 72% foram bebês menores de 1 ano, e 21,6% crianças de 1 a 4 anos. O local onde ocorreram os engasgos que levaram à morte dos bebês são variados, mas em 35,98% dos casos, o acidente aconteceu em casa e, em 4,14%, em outros locais. A ocorrência de mortes por engasgo com alimentos, como ocorreu no caso da bebê de Petrópolis – que se engasgou com uma maçã – é uma das ocorrências predominantes (84,6%), sendo 78% em bebês menores de 1 ano.
“A faixa etária que tem maior risco de engasgos é o das crianças abaixo de 4 anos. Isso porque elas têm o maior hábito de levar objetos na boca. Elas também não têm ainda os dentes molares, que servem para a mastigação de certos alimentos. Além disso, ainda falta a elas o mecanismo de coordenação da deglutição aprimorado. Junto a tudo isso, a laringe que é mais elevada e o reflexo de tosse que ainda não está plenamente desenvolvido”, afirma a médica com pós graduação em pediatria Ana Jannuzzi.
Ela diz que tão importante quanto saber resolver um engasgo é saber como diminuir seus riscos. Algumas medidas de proteção contra engasgos são:
- Evitar a introdução alimentar antes dos seis meses da criança;
- Não oferecer alimentos redondos (cortar em quatro pedaços, na vertical);
- Não alimentar a criança na frente da televisão ou celular, para que ela não se distraia durante a refeição;
- Evitar alimentos muito duros e difíceis de cortar com o dente;
- Ter atenção aos pequenos objetos que podem se soltar e serem levados à boca.
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Atenção às crises de tosse
O estudo do SUS também revelou um desconhecimento dos sinais que indicam engasgo nas crianças. Isso porque 41,8% das mães disseram que não reconheceram a crise de tosse como uma das manifestações do engasgo. Outra questão é o despreparo para lidar com a situação. Em relação aos profissionais de saúde, 70% disseram não saber o que fazer quando presenciaram um engasgo (mesmo os que já tinham participado de treinamentos). Os dados sobre a porcentagem de cuidadores em escolas e pais que não sabem como fazer a Manobra de Heimlich são escassos. No entanto, é interessante observar um estudo feito por membros da Universidade Federal de Mato Grosso e veiculado na Revista Brasileira de Enfermagem. Os dados, de 2018, mostraram que 56,8% dos profissionais de educação não tinham nenhuma capacitação sobre o tema de primeiros socorros. Entre as situações que necessitavam de treinamento, para estarem aptos a saber como agir, estava a situação de engasgos de bebês.
Sinais de engasgo
A médica explica que entre os sinais de engasgo é comum o bebê ficar arroxeado e paralisado, não conseguir emitir sons e fazer uma cara de desespero. No caso de um engasgo parcial, pode haver uma crise de tosse. “Identificados esses sintomas, ele precisa de ajuda imediata. Não adianta soprar o bebê, colocar os braços dele para cima ou gritar com a criança. Isso tudo só piora a situação e você perde tempo”, relata Jannuzzi. Ela ressalta que nesses casos tempo é essencial. “O primeiro passo é sempre manter a calma e pedir ajuda. Grite. Chame os vizinhos. Avise sobre o engasgo. E comece a realizar a manobra ao passo que você se dirige para um local de saúde. Se você já conhece a manobra, antes mesmo que ocorra algum caso de engasgo, teste o procedimento para ter certeza de que você sabe o que fazer”, conclui a especialista.
Assista ao vídeo publicado pela médica Ana Jannuzzi em suas redes sociais sobre como socorrer bebês com engasgo, realizando a Manobra de Heimlich. Outra fonte de pesquisa é uma cartilha, feita pela Universidade de São Paulo, que ensina os cuidadores o que fazer caso uma criança engasgue.
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