Ser mãe, às vezes (quase sempre), é enlouquecedor  

A escritora Sheila Trindade reflete sobre os perrengues e desafios de criar filhos

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Não é fácil para as mães ter de lidar com as variações repentinas de humor
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A gente até pode achar lindo o primeiro passo dado, mas não dá para se maravilhar em todos os passos que virão. A vida não para e, sejamos sinceras, a novidade passa com a primeira corrida que a criança dá pelo corredor. Logo o “que lindo”, se torna “meu Deus” com medo dos tropeços que certamente virão. Eu sei, é maravilhoso poder segurar o filho a primeira vez no colo, mas é compreensível não achar a dor das costas uma dádiva por ser mãe. Tudo ok reclamar.  

A gente pode até achar admirável a amamentação e o poder que é gerar uma vida, mas não precisamos gostar o tempo inteiro. Não é divertido acordar de hora em hora, os mamilos doendo, o peito vazando. Por que cargas d’água isso sempre acontece em momentos aleatórios? Se a criança chora a três quarteirões de distância, estou eu aqui, tendo que trocar de blusa.  

Tá tudo bem surtar com os hormônios fazendo rave dentro da gente – uma hora nos fazem chorar, noutra rir, como se fôssemos um psicopata de filme de terror adolescente. Minhas oscilações de humor me confundem. Se juntar com a memória precária, é para enlouquecer qualquer um.  

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Passamos meses competindo com o pai para ver quem o bebê chamará primeiro, mas depois que ele aprende a falar “mamãe” e seus derivados, lembramos com saudade do tempo em que esta palavra não era dita mil vezes ao dia. Nunca parei para calcular, mas poxa, são quatro crianças, deve ser um bocado de vezes. Se me chamarem de Sheila na rua, talvez eu nem responda, se alguma criança gritar “manhêê” na praça de alimentação de um shopping, todas as outras mães olharão e sentirão aquele frio na espinha – às vezes de raiva, em outras, por susto – que só um grito desses pode nos causar.  

Eu não sei se coloco no meu currículo fluência em alguma língua exótica, quem sabe, latim? Uma língua tão morta quanto eu, para combinar com meu cansaço e olheiras de zumbi. Por que, quando explico algo, eles simplesmente afirmam com a cabeça, para no fim não entenderem nada do que disse? Sei lá. Às vezes, o problema está comigo. Também no meu relacionamento com o tempo. O “daqui a pouco” é sempre dali a alguns segundos, nunca os dez minutos que preciso para pensar e não surtar.  

Alguém consegue explicar a capacidade das crianças de perderem colas e apontadores? E esse fuso horário louco? Não sei se viajei para o Japão sem perceber, mas porque cartolinas sempre precisam ser compradas às dez da noite de domingo? Por quê? 

Já que é para reclamar, qual é a do universo que faz a criança passar três dias de febre e prostração? A mãe desesperada pede um encaixe na agenda do médico por ser uma emergência. Na consulta, repentinamente, o bendito parece um liquidificador sem tampa rodando por todos os lados, cheio de risos e, acredite quem puder, sem febre. É para nos desacreditar? Se preocupe não. Já pago de louca por causa das oscilações de humor e falta de memória.  

Agora, preciso realmente arrematar este texto com “mas como amo meus filhos”? Sério? 

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Sheila Trindade
Sheila Trindade é escritora e fundadora do Blog Uai Mãe. Mãe de quatro filhos, um monte de histórias para contar cheias de aventuras, dúvidas e receios. De forma autêntica e com bastante humor, quer provar que a maternidade pode ser divertida quando a gente se permite rir dos próprios erros.

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