Sem perder a esportiva

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Buscador de educadores parentais
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Pais e filhos torcedores de clubes rivais driblam a hostilidade e buscam uma convivência harmoniosa mesmo em dias de jogos.

Por Isabella Grossi

Vale tudo na hora de convencer os filhos a torcer pelo mesmo clube de futebol dos pais? Cada família tem suas regras e influencia os pequenos à sua maneira. Algumas, mais fanáticas, sofrem com a disputa dentro de casa. Já outras querem mesmo é incentivar a torcida sem tirar a liberdade dos filhos. Afinal de contas, rivalidade saudável é dentro do campo, durante os noventa minutos de jogo. Vez ou outra, até o fim dos pênaltis. Apesar disso, não era esse o pensamento da psicóloga Isabel Pereira, de 39 anos, quando seu filho, Mateus, de 9, decidiu “virar folha” e deixar o amado clube de sua mãe, o América, para bradar, alto e bom som: Galo! O garoto mal tinha completado 4 anos quando começou a questionar: “Mãe, por que o América só perde e o Atlético ganha?”. Desde então, não houve nada que ela pudesse fazer para que o menino permanecesse torcendo para o “Mequinha”. Ainda mais quando vieram as influências dos colegas da escolinha de futebol e do padrasto, o analista de sistemas João Márcio Prado, de 44 anos, que passou a levar o enteado nos jogos do alvinegro.

Futebol1
Andréa, Tayná, Leônidas e Thales: entre os Costa, dois para cada lado

Em sua partida de estreia no Independência, em 2012, o Atlético goleou o Náutico, de Pernambuco, por 5 a 1. “Mateus é superpé-quente. Sempre que eu o levo ao estádio, o Galo ganha com três ou mais gols de diferença”, diz Prado. A disputa rendeu um combinado. Desde que não atrapalhe a rotina de estudos, ele pode ir ao campo ver o Galo. “E nós sempre ganhamos”, garante o padrasto. Hoje, Isabel leva numa boa. No começo, todavia, criticava o time do filho quando ele perdia. “Costumava falar mal, mas resolvi estimular o Mateus a respeitar as diferenças”, conta. “Futebol tem de ser uma coisa tranquila, porque não dá para entrar nessa rivalidade toda, quanto mais em família.”

Futebol2
A psicóloga Isabel, torcedora do América; Mateus, que virou atleticano; e seu padastro, João Márcio, responsável
pela mudança: o menino garabte que dá sorte ao Galo 

Na casa do contador Leônidas Teixeira Costa, de 45 anos, a história é um pouco diferente. Seu filho, Thales, de 9, tomou gosto pelo Galo vendo, desde pequenininho, o pai torcendo empolgado. Durante os clássicos entre Cruzeiro e Atlético, quando seu time fazia um gol, Leônidas corria para a janela para atazanar seus vizinhos cruzeirenses. O mesmo ocorria quando o rival alterava o placar. Thales viveu nessa atmosfera. E agora, embora o pai alegue que pega muito mais leve para não passar a “doença” para o filho, os dois torcem juntos com muito entusiasmo, para o desconsolo da vendedora Andréa Carla Noronha Mata Costa, de 39 anos. Um pouco menos entusiastas do esporte, a mãe e a irmã, Tayná, de 11 anos, são cruzeirenses convictas. “Em dia de clássico assistimos à partida todos juntos, em casa. Independentemente do resultado, sempre rola uma zoação”, diz Andréa. “Quando o Galo ganha, meu filho vira a casa de cabeça para baixo, mas, quando perde, fica mal-humorado. Se a gente pega pesado, ele chega até a chorar.”

Futebol3
Miguel, Conrado Oliveira, Janice e Mateus: Atlético na capital e Cruzeiro em Ipatinga, para não desagradar ao 
clã da mãe 

O advogado Conrado Di Mambro Oliveira e sua esposa, a psicóloga Janice Fernandes Luna de Oliveira, ambos de 38 anos, encontraram uma forma inusitada para driblar a pressão que Miguel, de 5, sofria do pai, atleticano doente, e do clã da mãe. Filha de uma tradicional família de Ipatinga, no Vale do Rio Doce, ela, assim como a parentada, tem sangue azul correndo nas veias. “Ser cruzeirense é de raiz, tem uma história”, afirma Janice. “Mas meu marido é fanático pelo Galo, então Miguel se sentia pressionado por todos os lados.” Foi quando a avó materna sugeriu uma trégua. O garoto seria cruzeirense em Ipatinga e atleticano em Belo Horizonte. Deu tão certo que, hoje, o pequeno se sente totalmente à vontade com a situação. “Lá na casa da minha avó, os meus amigos são Cruzeiro. Em Belo Horizonte, Atlético”, explica, com naturalidade. Segundo Janice, Miguel faz mais o tipo intelectual. Torce, mas não é fanático. Bem diferente do caçula, Mateus, de 2 anos, que curte ficar ao lado do pai enquanto ele vê os jogos e já grita gol, cheio de euforia. “Mateus é mais empolgado com futebol, mesmo sendo mais novo”, esclarece o pai, sem esconder a expectativa de levar ao menos o caçulinha para o seu lado, seja em que cidade for.

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