É isso. Pendurei as chuteiras. Aquele conteúdo sobre maternidade, os livros que lia, as músicas infantis finalmente se foram. Não tenho mais bons conselhos para dar, nem dicas culturais do que fazer no feriado. O mais velho fez 14 anos na semana passada. Metade do dia é olhando o telefone, na outra metade conversando sobre coisas aleatórias com o pai. Os outros filhos, naturalmente, seguem o rumo do mais velho.
Posso finalmente entrar com minha aposentadoria? A coluna destroçada me habilita a aposentar por invalidez? Finalmente, quando minha vida sexual ia deslanchar, não tenho coluna para fazer posição nenhuma. Ironias da vida. De herança ficam os seios de tamanhos diferentes, porém enormes. De expectativa fica o sonho secreto de um dia, sem mais nem menos, a gravidade cismar comigo e aliviar meu lado.
Nestes 14 anos de maternidade escrevi muita coisa bonita, romantizei muita treta séria que só quem está passando sabe do ranço que dá alguém diminuir sua dor com um “vai passar”.
“Vai passar” uma ova!
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Eu sei que é maravilhoso carregar os filhos nos braços, mas dá para achar ruim sentir dor nas costas. Ninguém é menos mãe por achar ruim acordar de madrugada. Louca seria acordar pela milésima vez agradecendo pelo sono picado. Lendo os textos antigos percebo o quanto vivi e sobrevivi. As cicatrizes metafóricas ou não, estão aí para contar histórias, o tique nervoso e a loucura contida também. Ninguém consegue sair ileso depois de tanto tempo.
Os compromissos sociais que antes reclamava de ir, hoje o pai que leva. Sim, chegou aquela fase maravilhosa em que os filhos querem sair mais com ele do que comigo. A fase de poder viajar e nem precisar ligar para casa. Será que eu minto dizendo sentir saudades de quando não podia? Só para aliviar a consciência? Ah, não. É maravilhoso poder exercer meu direito constitucional de ir e vir. Mãe também é gente, caso não saibam.
Dia desses entrei em uma loja de roupas e veja só a loucura: comprei uma bota que queria há tanto tempo que nem me lembro. Saí sem nada para as crianças. Dá para acreditar? Fui a um show sozinha e – morram de inveja – não era do Bita. Era de adulto. Só tinha adulto lá conversando assuntos de adultos, bebendo bebida de gente grande e todo mundo parecia feliz à beça. Tentei me enturmar e acho que disfarcei bem. É claro que eles não sabem sobre minha pesquisa no Google “como me vestir para um show sem parecer uma mãe-recém-solta-do-cativeiro”. Isso eu deixo para meu instagram de mãe, onde posto as delícias e loucuras da maternidade. Hipocrisias da vida.