Apesar de o meu tempo de graduação em Medicina já estar um pouco distante dos dias de hoje, lembro com muita vividez das aulas de Ética Médica, em que discutíamos situações hipotéticas de escassez de recursos e a necessidade de escolha: salvar um em detrimento de outro? Quais critérios usar? Seria essa ou aquela a melhor escolha? Não havia uma resposta certa. Toda vida importa e estar o profissional de saúde nessa situação de escassez é estar no momento de maior angústia profissional e humanitária possível.
Estamos vivendo a segunda pandemia do século e, em alguns países do mundo, a falta de recursos já é realidade. Nossa geração já passou pela pandemia de H1N1, em 2009, mas era um vírus que não se espalhava e não matava com a mesma habilidade que o novo coronavírus. Este novo invasor, em três meses, já alcança os números que o influenza suíno demorou 16 meses para alcançar.
Leia também – Coronavírus: a gestante ou lactante pode transmitir a doença ao bebê?
Por isso, é fundamental que escutemos as orientações dos órgãos sanitários e da Organização Mundial de Saúde. É imperativo: fiquem em casa.
No entanto, acabamos de iniciar o Outono e outras doenças não deixam de acontecer por que existe um vírus novo circulando. É importante manter a vacinação em dia e reforçar as rotinas de higienização da casa e das pessoas para evitar a contaminação com outros germes. Além disso, com a suspensão das aulas, a atenção deve ser redobrada para evitar acidentes domésticos. Mas, se mesmo com todos os cuidados a criança vier a adoecer, surge a dúvida: quando ir ao pronto-socorro com meu filho?
Febre: é um sinal de que o sistema imune está ativado. Sua intensidade depende da resposta individual a cada patógeno. Febres de duração maior que 72 horas e que não aumentam o intervalo entre os picos devem ser avaliadas. É esperado que durante o pico febril a criança fique prostrada, mas se a prostração se mantém após o controle da temperatura, o pronto-atendimento também deve ser procurado.
Leia também – Quarentena: veja que cuidados tomar com os bebês e as crianças em casa
Dificuldade para respirar: tosse, corizas e espirros, em geral, podem ser manejados em casa, mas quando há dificuldade importante para a respiração, a ida ao hospital está justificada.
Diarreia e vômitos: o grande vilão nesses casos é a desidratação. Todas as perdas devem ser repostas com líquidos (água, água de coco, soros de reidratação oral). Na impossibilidade de que isso ocorra, com grande número de episódios ou vômitos em jato com irritabilidade e queda do estado geral, avaliação médica em ambiente hospitalar é necessária.
Alergias: alergias de pele, em geral, podem ser manejadas sem a necessidade de procura do pronto-atendimento, exceto se acompanhadas de tosse e desconforto para respirar, dor abdominal intensa e acometimento de grande extensão da pele.
Acidentes e intoxicações: ferimentos que custam a estancar, com profundidade ou acometimento de grande superfície, devem ser avaliados por equipe médica. Quanto às intoxicações, existem centros de assistência toxicológicas que podem ser acessados por telefone, como o CEATOX (0800-0148110), em São Paulo, que conseguem fazer as primeiras orientações e avaliar a necessidade de busca hospitalar.
Leia também – Home office: O dia a dia das mães com os novos “colegas de trabalho”
Convulsão: avaliação médica é fundamental em casos agudos para que um diagnóstico preciso seja feito e procurar a emergência é indicado.
Ressalto, ainda, a importância do contato próximo com o pediatra: esse é o profissional que conhece a saúde do seu filho e pode ajudar nas orientações básicas. O Conselho Federal de Medicina flexibilizou as regras para telemedicina e teleorientação para ajudar a desafogar os pronto-atendimentos e permitir que o hospital seja acessado somente em casos de real necessidade.
O sistema de saúde está se preparando para receber o aumento de demanda pelo coronavírus, mas precisamos da colaboração de todos.
Espero que essas informações sejam úteis e que, juntos, consigamos enfrentar a velocidade de contágio do novo vírus, para evitar o colapso do sistema e o aumento do número de mortos. Por isso, quem puder, fique em casa. Nós, profissionais de saúde, estamos a postos.
Quer receber mais conteúdos como esse? Clique aqui para assinar a nossa newsletter.
- Abordagem Pikler valoriza o brincar livre e o ritmo individual de cada criança
- Consumo de bebidas doces por crianças e adolescentes cresce 23% em 30 anos
- O impacto das telas na infância: uma análise sobre desenvolvimento e atenção
- ‘Não precisa chorar’: ”5 frases que não devemos dizer aos filhos
- Teoria Polivagal: cientista explica relação entre sistema nervoso e traumas