Reuni, durante vários anos, entre 15 e 35 mães participantes dos meus cursos de educação parental numa mesma sala e coloquei as mesmas duas questões. Para a primeira delas: “O que é que te irrita e te tira do sério?” as respostas são, frequentemente, as mesmas – e-mails que não param de chegar, sair de casa atrasada, interrupções, fazer a lista de compras do supermercado e esquecer-se dela no carro, o trânsito, nunca ter tempo para nada, não saber o que fazer para o jantar, a bagunça da casa.
A segunda questão – “E o que fazes com isso?” – também tem as mesmas respostas, com bastante frequência: “fico ansiosa, irritada, tensa, com dor de cabeça, grito com os meus filhos ou com o meu parceiro, me acho a pessoa mais boba do mundo, sinto vergonha”.
Não sei se já demos conta mas continuamos todos a responder da mesma forma às mesmas questões… há anos… Não podemos ter dúvidas de que estamos a viver num ritmo que tem apenas um destino: o colapso.
A boa notícia é que podemos inverter este colapso, pelo menos o da nossa vida.
Como contei na minha coluna anterior, o final de Maio foi bem intenso para mim – do dia para a noite, e embora não tivesse de me deslocar para o trabalho nem correr para não chegar atrasada aos meus compromissos, a verdade é que senti que a minha energia estava abaixo de zero e a minha irritabilidade numa zona perigosa para todos os que vivem comigo.
Motivo: excesso de e-mails, de solicitações e a certeza de não estar a garantir o meu propósito e contribuir para o que era mais importante: servir a minha comunidade, servir a minha família e cuidar de mim.
A pausa que fiz foi essencial e virtuosa. Pensar no que preciso, a cada momento, para estar inteira e em equilíbrio é essencial e precisei de praticar uma autoescuta importante. Mas antes, precisei de chegar ao meu limite, claro!
Percebi que me faltavam os livros e o tempo para os ler. Faltava-me o tempo para me sentar a conversar com o meu marido ou com os meus filhos sem que me passasse pela cabeça que ainda tinha isto e aquilo para fazer.
Decidi, então, criar blocos de tempo para priorizar o mais importante para mim: ler, criar, “dar cabo” do expediente e também nutrir a minha família e honrar o meu tempo. Todas as esferas da minha vida estão a ganhar com isto.
Não é possível fazer tudo ao mesmo tempo – digo, tudo ao mesmo tempo de forma bem feita. Mas é possível priorizar o mais importante e que provoca boas transformações na minha vida e naquelas das pessoas que vivem comigo.
Então, quando estou a trabalhar num projeto criativo, estou apenas a trabalhar nele – o celular tem as notificações desligadas e ao fim de uma hora faço uma pausa e vejo se há alguma emergência (quase nunca há!).
Tenho blocos de tempo para falar com a minha equipe e também tenho um momento em que paro, desço para fazer um café para mim e para o meu marido. A minha filha me chama para fazermos a nossa aula de Yoga ou Pilates online e o meu filho para qualquer outra traquinice.
A diferença é que, nos últimos tempos, tinha perdido a capacidade de estar presente porque não conseguia levar nada a cabo do início ao fim. E, como consequência, todas as esferas da minha vida estavam a ficar desorganizadas, caóticas e, se deixasse que continuassem, poderiam colapsar.
O processo de autoescuta é essencial para que possamos priorizar o mais importante para pôr ordem na nossa vida e vivê-la. Henry David Thoreau (poeta e filósofo americano do século 19) disse uma vez que “não basta estarmos ocupados, precisamos de nos questionar “Estamos ocupados com o quê?”
Naturalmente, há tarefas que não desejamos fazer ou que nos são pesadas – mas se têm de ser feitas, que seja de uma vez, com foco para que possam ser finalizada. A abundância de tarefas, de notificações, gera pobreza nas relações: das que eu tenho comigo e das que tenho com os outros e não é isso que desejo.
Precisei recordar aquilo que já sei – que as diferentes áreas da nossa vida não são estanques e que todas se cruzam, de uma forma ou de outra. Precisei aceitar, novamente, que sempre vai haver alturas em que o equilíbrio acaba por não existir e que é necessário colocar ordem.
É sempre assim, esta “dança”. E, quanto mais atenção tomarmos, mais rápidos e eficientes seremos no passo e no movimento que a dança nos pede. Para quê? Para vivermos a vida que mais desejamos viver e priorizar o mais importante, aquilo que desejamos mesmo fazer.
Como vai essa dança aí por sua casa?