Precisamos falar sobre suicídio: é preciso respeitar a dor dos familiares

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Por Wimer Bottura Junior

Somos questionados a todo instante sobre as causas do suicídio de jovens e sobre como evitar que isso ocorra com as pessoas que tanto amamos. Precisamos ter compreensão do problema e respeito pela dor dos familiares. Inevitavelmente, os pais sentirão culpa, além da tristeza, e se perguntarão: “Onde foi que eu errei?”. Eles relatam inclusive o sentimento de vergonha e a pecha de maus pais, irresponsáveis ou negligentes.

Para quem não passou pela dor desse tipo de perda, é preciso dizer que julgar e condenar não ajuda a superar a dor nem evita que esse tipo de problema continue a ocorrer. Para quem passou ou está passando pela dor, digo que o silêncio só a agrava; o sentimento de culpa não resolve a perda e pode gerar outras; a vergonha não é merecida. Sobrecarregar outros filhos com atenção e superproteção não os protege. Melhor é procurar alguém que possa ouvir muito e, de preferência, falar pouco. Para a tristeza só tem um remédio: compartilhar, chorar
e abraçar.

E quais são as possíveis causas dos suicídios? Atribuir o problema a um ou outro fato, como a internet, pode ser um arriscado deslocamento da observação e nos induzir a erro. Há um ano, era a “Baleia Azul”, agora o SimSimi, aplicativo utilizado em celulares e tablets. Já culpamos o pipoqueiro pela droga nas portas das escolas, e hoje temos certeza de que ele não era o responsável pelo consumo de drogas.

A primeira pergunta que podemos fazer é: “por que jovens de famílias que se preocupam com eles, cuidam deles e têm tudo do bom e do melhor jogam suas vidas fora?”. Parte deles tem depressão não tratada, ou subtratada, ou não diagnosticada a tempo. É certo também que o fato de levar um filho ao psicólogo e ao psiquiatra e introduzir uma medicação como tratamento não exclui a necessidade de carinho, atenção e validação à pessoa.

Por mais que os profissionais sejam dedicados e competentes, eles não são capazes de substituir pai e mãe. Parte tem transtorno bipolar, parte é usuária de drogas, outros sofrem uma decepção amorosa, outros apresentam quadros de anorexia nervosa e/ou bulimia, de feiura imaginária, esquizofrenia e outras psicoses, outros têm problemas com suas famílias – e outros, absolutamente, nada disso. Eram pessoas que, até um minuto antes do fato consumado, não demonstravam a mínima possibilidade de dar tal desfecho à vida.

A pessoa precisa, quando criança, passar pela frustração da espera, se dedicar para conseguir as coisas. Precisa se sentir vista, percebida, ouvida, ter a sensação de pertencimento à família e ser reconhecida pela pessoa que é. A pessoa precisa acreditar em quem lhe oferece a satisfação dessas necessidades. Isso desenvolve resiliência, cria vínculos e protege contra os riscos a que todos estamos expostos.

Em síntese, não podemos culpar pessoas por transtornos genéticos que trazem e que são parte do problema em questão. Não podemos culpar pais e mães por possíveis erros na relação com os filhos. Precisamos olhar profundamente a história de cada pessoa para compreender os seus motivos.

 

Wimer Bottura Junior é médico psiquiatra, presidente do Comitê Multidisciplinar de Adolescência da Associação Paulista de Medicina (APM) e presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (ABMP). É escritor de vários livros sobre a relação entre pais e filhos. Site: clinicabottura.com.br.

 

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