Por que o possível aumento da mortalidade infantil no mundo também diz respeito ao Brasil

Depois de 25 anos de queda contínua, relatório global acende alerta de risco de retrocesso na saúde das crianças. Vacinação, atenção primária e combate às desigualdades são pontos críticos para proteger a infância
Criança no berço
Foto: Freepik
Criança no berço Foto: Freepik

 

Pela primeira vez neste século, a mortalidade infantil deve aumentar em todo o mundo. É o alerta trazido pelo relatório Goalkeepers Report 2025, da Fundação Bill & Melinda Gates. A projeção, que preocupa especialistas em saúde infantil, indica que o número de mortes de crianças menores de 5 anos subirá de 4,6 milhões (2024) para cerca de 4,8 milhões (2025). São 200 mil vidas a mais interrompidas de forma precoce, em apenas um ano.

Segundo o relatório, se os cortes globais em saúde persistirem, o mundo poderá registrar até 16 milhões de mortes infantis adicionais até 2045. As vidas poderiam ser poupadas com investimentos básicos em saúde, vacinação e atenção primária. O documento ressalta que, com menos de US$ 100 por pessoa ao ano, é possível estruturar sistemas de saúde capazes de evitar até 90% das mortes infantis.

 

O que isso significa para o Brasil?

Embora o Brasil tenha avançado historicamente na redução da mortalidade infantil, nos últimos anos alguns indicadores estagnaram e, em regiões vulneráveis, começaram a subir. Um cenário que segue a tendência global identificada pelo relatório.

Além disso, o país enfrenta desafios importantes:

  1. Queda na cobertura vacinal

Nos últimos dez anos, o Brasil registrou uma diminuição expressiva nas taxas de vacinação infantil, segundo o Ministério da Saúde. Em alguns imunizantes essenciais — como pólio, tríplice viral e meningite — a cobertura ficou abaixo do recomendado pela OMS (95%). A queda abriu espaço para o retorno de doenças antes controladas, como sarampo e coqueluche, reforçando o alerta do relatório: vacinação continua sendo o investimento mais eficaz para salvar vidas.

  1. Atenção primária pressionada

O relatório destaca que fortalecer os cuidados de saúde primários é essencial para prevenir mortes por causas evitáveis, como pneumonia, diarreia e complicações da prematuridade — três das maiores causas de hospitalização infantil no Brasil. Regiões rurais, ribeirinhas e periferias ainda têm menos acesso a profissionais e unidades básicas, o que amplia desigualdades.

  1. Impacto da desigualdade

Assim como o relatório global aponta que crianças pobres são as mais afetadas, no Brasil o cenário é semelhante: a mortalidade infantil entre povos indígenas pode ser três vezes maior que a média nacional; crianças negras e periféricas têm menor acesso a diagnóstico precoce e serviços de saúde; Norte e Nordeste concentram grande parte das internações por causas evitáveis.

  1. Doenças infecciosas continuam sendo ameaça real

Pneumonia, diarreia, malária (em áreas amazônicas) e infecções respiratórias agudas ainda são responsáveis por grande parte das mortes de crianças pequenas no país. Para o relatório, o combate sistemático a essas doenças é urgente e depende de vacinação, saneamento e sistemas de saúde fortes.

Por que o relatório importa para pais e mães brasileiros?

O documento faz um alerta e mostra que o mundo está em um ponto de inflexão. Décadas de progresso só se manterão se houver:

  • reforço da vacinação
  • combate à desinformação sobre saúde
  • fortalecimento do SUS
  • políticas públicas voltadas à redução das desigualdades
  • apoio a populações indígenas e comunidades remotas

Em outras palavras: proteger as crianças brasileiras significa agir agora — no país, nos territórios e dentro das famílias.

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