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Pneumonia mata mais que sarampo, malária e diarreia: pais devem ficar atentos
Cerca de 6,3 milhões de crianças de até 5 anos podem morrer de pneumonia entre os anos de 2020 e 2030, de acordo com estudo realizado pela Universidade Johns Hopkins. A doença, que é causada por infecções, comumente bacterianas, virais ou fúngicas, quando prevenida e tratada adequadamente pode evitar a morte de cerca de 3,2 milhões de crianças por todo o mundo. A doença, apesar de tratável, matou mais de 800 mil crianças em 2020. Dados do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância) apontam que a cada 39 segundos morreu um menor em detrimento do quadro.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2 milhões de crianças abaixo dos 5 anos morrem todos os anos de pneumonia. No Brasil, esse índice pode chegar a 11% das mortes em crianças abaixo de um ano e 13% na faixa etária de 1 a 4 anos. A doença mata mais que o sarampo, a malária e a diarréia juntos e é a maior causa infecciosa de morte infantil em todo o mundo.
A pneumonia afeta principalmente os pulmões que, ao serem inflamados, se enchem de pus e líquido. Segundo Marina Buarque de Almeida, pneumologista pediátrica, vice- presidente do Departamento de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, os sintomas variam de acordo com a faixa etária. “De modo geral, os sintomas são febre, tosse, dificuldade para respirar e mal estar. Os casos podem evoluir com maior gravidade. Precisamos lembrar que a pneumonia ainda é uma das principais causas da mortalidade infantil.”
A médica destaca que bebês e crianças pequenas têm mais propensão a desenvolverem quadros graves da doença em relação a adultos saudáveis. “A criança pequena evolui muito mais rapidamente que o adulto saudável para quadros de insuficiência respiratória, por isso ela tende a ser mais grave nessa idade. Os pacientes imunossuprimidos, imunodeficientes ou em situações de desnutrição também estão mais propensos”, afirma Marina.
Segundo o pediatra Alberto Jorge Félix Costa, o diagnóstico e tratamento precoce é importante:
“A pneumonia geralmente começa com um quadro respiratório. Quando a criança desenvolve um quadro mais significativo, com muita tosse, febre, secreção nasal, ela já deve ser levada a um médico. Isso deve ser feito na tentativa de que a infecção não evolua para um quadro mais grave”.
Tratamentos
Existem diversos tratamentos para a doença, tanto no caso das infecções virais quanto nas fúngicas e bacterianas. Marina destaca a importância de um diagnóstico direcionado para que os possíveis tratamentos sejam aplicados adequadamente. “Uma pneumonia bacteriana vai precisar de antibiótico, enquanto se é um quadro viral, o uso de antibiótico é desnecessário e fortemente desaconselhado por poder prejudicar, afinal não tem efeito contra os vírus, só contra bactérias. Existe uma minoria de circunstâncias em que o corticóide pode ser indicado nas pneumonias na infância, mas é exceção.”
A médica ainda reforça que, ainda que as opções de tratamento sejam variadas, a automedicação é fortemente desaconselhada. “É muito frequente o uso inadvertido de xaropes errados. Esses medicamentos, que muitas vezes são à base de corticóides, podem inclusive agravar e muito o quadro da pneumonia, além de outras possíveis complicações.”
Falta de acesso a remédios e vacinas
Os altos custos da medicação, falta de assistência adequada e baixas taxas de vacinação infantil são fatores chaves para explicar a alta taxa de letalidade da doença ao redor do mundo. As mortes por pneumonia estão concentradas nos países mais pobres, com populações marginalizadas e sem acesso a tratamentos básicos. O estudo da Johns Hopkins aponta que, na próxima década, as mortes serão mais altas na Nigéria (1,4 milhão), Índia (880 mil), República Democrática do Congo (350 mil) e Etiópia (280 mil).
Dessa forma, Alberto recomenda algumas medidas que podem ser tomadas para que o quadro seja evitado. “A criança viver em um ambiente saudável, com alimentação adequada, evitando casos de desnutrição, vacinação em dia e hábitos saudáveis, ajuda a prevenir a doença.”
“As vacinas têm efeito direto na proteção. A vacina contra a bactéria Pneumococo reduziu drasticamente os casos de pneumonia. Sabemos também que a pneumonia é uma das complicações mais graves da Gripe (Infecção pelo vírus Influenza) então a vacinação contra gripe anual também é uma importante forma de evitar o quadro”, completa a pediatra.
As precauções contra a pneumonia também ajudam a dificultar o desenvolvimento de outras doenças comuns na infância, aponta o estudo realizado pela universidade. Esse é o chamado “efeito cascata”, que impediria a morte de mais 5,6 milhões de crianças por todo o planeta.
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Maria Clara Villela
Maria Clara Villela é estudante de jornalismo na faculdade Cásper Líbero. Fascinada por escrita, já desenvolveu textos em diversas editorias, incluindo esporte, parentalidade e política, suas maiores paixões.
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