Passeio que Luís Giffoni recomenda em maio: ‘Cabrais do sertão’

Leia a coluna de Luís Giffoni na #Canguru de maio.
Foto: Embratur
Foto: Embratur

Estamos tão influenciados pela Europa que nossos filhos ainda aprendem que Cabral descobriu o Brasil. Raramente nos lembramos de que os índios aqui chegaram milênios antes. Se examinarmos melhor, houve gente que desbravou nosso país muito antes dos índios.

Luzia, o famoso fóssil de Lagoa Santa, com 11.500 anos, é uma prova. Ela possui traços africanos, muito diferentes das tribos da Amazônia. No entanto, Luzia já não é nosso mais antigo habitante. Pesquisas mostram que, 12.500 anos antes dela, havia brasileiros no Piauí. Talvez muito antes disso. Foram os mais antigos colonizadores das Américas.

A busca por esses pioneiros no sertão piauiense, perto de São Raimundo Nonato, quase na divisa com a Bahia, é uma aventura para nossos filhos mais crescidos que lhes trará diversão e conhecimento. Aventura de fato. Significa um mergulho no passado distante, na arte da sobrevivência, num modo de vida extinto, na cultura ancestral, na fauna e na flora da Idade do Gelo. Sem falar na beleza do lugar. Nossos antepassados deixaram milhares de pinturas no Parque Nacional da Serra da Capivara, cada uma mais interessante que a outra.

Mostram seu dia a dia com caçadas, danças, cerimônias xamânicas. Há, ainda, desenhos que ninguém consegue interpretar direito. Formam o maior acervo rupestre do mundo, com mais de 700 sítios catalogados. Não por outro motivo a Unesco transformou o conjunto em Patrimônio Cultural da Humanidade. Há animais gravados na rocha que não mais existem no Brasil, como a lhama ou estranhos cavalos selvagens. Há covas onde se resgataram os restos mortais, que podem ser visitados no Museu do Homem Americano, na sede do Parque Nacional.

Há um brinde especial: os macacos-prego, considerados os mais espertos de sua família, capazes de construir ferramentas para quebrar cocos, o que comprova sua inteligência. O parque possui trilhas entre árvores ou abertas para a caatinga. Paredões feitos com pedregulhos podem ser escalados para se obter melhor visão do panorama. A Pedra Furada desafia-nos a descobrir como a natureza escavou um buraco no meio da rocha. Riachos convidam para banhos refrescantes. Cavernas e grutas mostram os segredos da Terra.

Adolescentes com espírito aventureiro se sentirão em casa. Sobretudo quando descobrirem que aqueles primeiros habitantes não viviam, em média, além dos 18 anos, e que portanto todos aqueles desenhos foram feitos por adolescentes. A identificação entre gerações separadas por milhares de anos se consolida.

São Raimundo Nonato possui estrutura básica para o turismo. Os guias são competentes. A região pode ser visitada o ano inteiro. O primeiro coração do Brasil bateu por lá, no peito dos nossos verdadeiros descobridores. Cabrais cujos nomes a História esqueceu.  

 

Luís Giffoni

LUÍS GIFFONI

 é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos. 

Contato: giffoni@cangurubh.com.br

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