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‘Como não mudam?’, perguntava-me

Questão e desejo indecentes, estes, na verdade. Querer que alguém mude… pfff! Mas, ainda assim, ao fim de dois anos e pouco, a verdade, é que muitas daquelas pessoas continuavam na mesma. Horas de formação em gestão de conflitos, em assertividade, em perspectiva, mindset e comunicação e havia ali uma turminha que continuava tal e qual como no primeiro dia.
Será que era eu? Será que o meu discurso não chegava lá? Explorei formas diferentes de abordar o tema, fiz mais role-plays (interpretação de papéis), mais perguntas, mais exposição… Mas eles eram firmes e mantinham-se fiéis a si próprios. Saí do meu ego e fui ver mais longe.
Será que era uma questão de arquitetura mental, erigida por uma educação mais autoritária, negligente ou até passiva?
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Fui explorar. E é nessa altura que começo a olhar para a criança e para os adultos que a educam e entendo que parte de quem somos, mesmo com uma enorme transformação, tem as suas origens na infância.
Não importa o que fizeram de mim – importa sim aquilo que eu faço com o que fizeram de mim, dizia Sartre.
Esta frase dá esperança porque nos informa que, com vontade, informação e consistência, podemos tornarmo-nos pais diferentes dos pais que nos educaram e também diferentes daquilo que já somos.
Então pus pés ao caminho e juntei o que havia aprendido em 2004 na certificação em inteligência emocional e o que vinha já detrás, desde 2002: comunicação, olhar, e vinculação. É, justamente, no ano de 2007, com essa turma e nessa empresa que começo a falar sobre o tema da parentalidade. E é nesta altura que a base do projeto mumstheboss.com (ainda sem esse nome), que daria origem à Escola da Parentalidade e Educação Positivas, nasce.
Mas, afinal, o que é a Parentalidade Positiva? No nosso modelo, a Parentalidade Positiva é uma filosofia que tem por base o respeito mútuo entre pais e filhos, adultos, crianças e jovens.
E, porque esse respeito mútuo existe, não precisamos de utilizar o modelo autoritário que usa e abusa das palmadas, dos gritos e castigos, mas também não vamos deixar as crianças governarem, sozinhas, as suas vidas ou as nossas.
Espera, não te assustes! Isto não significa que vamos deixar de exercer a nossa autoridade. Não, porque ela é absolutamente necessária para que as crianças tenham o seu norte. Todos precisamos, em diferentes fases e áreas da nossa vida, de pessoas que sejam autoridade. Os médicos, os policiais, os professores. Pessoas que garantem o nosso bem-estar, que nos acompanham, que nos indicam o caminho e que nos ensinam e corrigem. Verificam, corrigem de novo e mostram de novo. Esse é o nosso papel. E é sobre isso o modelo que criamos.
Anos a trabalhar com famílias, educadores e crianças e cada vez mais temos mais certezas:
- Todos desejam ter relações com maior satisfação e prazer porque são elas que trazem significado às nossas vidas;
- Ninguém tem filhos para se chatear e zangar;
- A maior parte dos pais não deseja castigar nem bater e faz isso por ausência de estratégias ou na convicção que é dessa forma que se ensina.
- Todos os filhos nascem com um chip para amarem os pais e o que mais desejam é serem amados tal e qual como são – aceitos na sua natureza. Filhos não amados continuarão a pedir para serem amados, como precisam, mesmo que já sejam adultos.
É sobre isto tudo que irei falar aqui nesta coluna. É com muito prazer que inauguro esta área. Um abraço com sotaque português!
Magda Gomes Dias
Magda Gomes Dias, 44 anos, tem dois filhos: Carmen, 12 anos, e Gaspar, 9 anos. É natural do Porto, Portugal, e fundadora da Escola da Parentalidade e Educação Positivas, onde oferece programas de certificação e especialização na área. Autora do blog 'Mum's the boss', escreveu os best-sellers 'Crianças Felizes' e 'Berra-me Baixo', além do livro 'Para de Chatear a Tua Irmã e Deixa o teu Irmão em Paz'.
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2 comentários para “‘Como não mudam?’, perguntava-me”
Gostaria de saber mais sobre o assunto, qual a melhor forma de exercer minha autoridade
Super interessada neste tema, tenho um filho de 11 anos e muitas vezes não sei como lidar com ele