O que fazer para evitar a formação do ‘paladar infantil’

Especialistas explicam as causas desse comportamento que leva à rejeição de certos grupos de alimentos e dão sugestões para que as crianças tenham uma alimentação saudável desde cedo

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Menino come pedaço de pizza com a mão
O consumo frequente de pizza e outros alimentos de baixo valor nutricional pode prejudicar a saúde das crianças
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Pessoas com dificuldade em consumir frutas, verduras e legumes, que só comem doces, salgadinhos e fast-foods, são muitas vezes consideradas “chatas para comer” e muitos acham que tal seletividade é “frescura”. Mas a ingestão de alimentos de baixo valor nutricional, muitas vezes caracteriza um problema, que tem a ver com alguma experiência ruim com a comida na infância, relacionada à cor, ao cheiro ou à textura dos alimentos, daí o nome de “paladar infantil”.

Para evitar essa seletividade na vida adulta, é fundamental que os pais garantam uma oferta nutritiva e variada de alimentos aos filhos no período de introdução alimentar, a partir dos seis meses de vida. Ainda que muitos pais tenham consciência da importância dos alimentos introduzidos, o principal, segundo especialistas, é a forma como essa introdução acontece. Quando realizada de maneira inadequada, seja através de ameaças ou compensação, pode ocorrer um efeito rebote. 

“Quando o bebê está em torno dos dois anos, ele passa por um período de seletividade transitória e típica da idade em diversas esferas da vida, principalmente na alimentação. Quando os pais aceitam essa fase e a tratam com naturalidade, a tendência é que logo ela passe. Se os pais, ao se depararem com essa situação, começam a utilizar de alguns artifícios, como forçá-la a comer, distraí-la ou negociar o uso de telas, eles começam a se perder. Nesses casos, a criança não aprende a se relacionar com a comida. Uma criança forçada a comer, pode ter até sensações físicas desconfortáveis”, explica a nutricionista Mariana Del Bosco, da Clínica Maison Santé, em São Paulo. 

Ao ingerir determinados tipos de alimentos de maneira forçada, a criança tende a estabelecer movimentos de evitação, levando a uma falta de variação alimentar, que tende a se estender até a adolescência e vida adulta. Isso pode causar problemas como anemia (falta de hemoglobina no sangue), aumentos de colesterol e triglicérides (tipos de gordura que circulam no sangue) e insuficiência nutricional e energética.  

Em casos mais graves, o Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo pode se manifestar. O TARE, de acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), é um distúrbio persistente de recusa ou restrição alimentar que acarreta valor nutricional e energético insuficiente para uma vida saudável. “Normalmente, ele se manifesta em adultos nos quais os pais ou cuidadores não tiveram “paciência” e até informação para insistir na oferta de determinado grupo de alimentos, normalmente vegetais e frutas, e acabaram substituindo-os por alimentos ricos em açúcares e gorduras, que são muito mais palatáveis, causando assim essa rejeição”, enfatiza a nutricionista Gabryela Esteves

Formação do paladar começa no útero e pode mudar ao longo dos anos

A formação do paladar é marcante na vida de todos os indivíduos. Alguns preferem os doces, outros os salgados, porém, o paladar muda constantemente durante a vida. Pessoas com o popular “paladar infantil” evitam alimentos associados a gostos ruins da infância, mas o que poucos sabem é que sabores que antes eram desagradáveis, agora podem não ser mais. 

Quando pequenos, a maioria dos indivíduos tende a optar por alimentos com gostos adocicados, semelhantes ao do leite materno. Ainda durante os primeiros anos de vida, as crianças costumam se retrair em meio a alimentos ácidos e picantes, pois não sabem se aquele sabor pode causar algum tipo de malefício. Alguns estudos científicos mostram que o paladar passa por constantes mudanças e algo que antes achávamos ruim, pode não ser mais e vice-versa. 

Vale destacar que os hábitos alimentares são transmitidos geracionalmente. Pais com rotinas desajustadas e hábitos alimentares pouco variados estimulam que seus filhos se comportem da mesma maneira, explica Gabryela. “O ideal para criar um bom hábito desde a infância é que os pais ou cuidadores entendam e desenvolvam uma educação nutricional, onde enfatizamos a importância da experiência da alimentação nos primeiros dois anos de vida, favorecendo a aceitação de variedades de vegetais e frutas, bem como os outros alimentos importantes para uma alimentação saudável e equilibrada.”

Apesar de muito se falar acerca da alimentação a partir dos dois anos de vida, a formação de hábitos alimentares vem desde o útero, explica Rubens Feferbaum, presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo. “A alimentação materna, que vai dar para a criança os nutrientes intrauterinos e também através do leite materno, pode ter seu sabor modificado, por causa da alimentação materna. Precisamos destacar que a alimentação da mãe também é muito importante para a formação do paladar da criança, desde o útero.”

Pensando nisso, os especialistas entrevistados pela Canguru News recomendaram medidas que podem ser aplicadas desde a infância até a vida adulta, em casos de dificuldade na ingestão de alimentos variados e nutritivos. “No caso dos adultos, eles devem ter consciência que a sua alimentação causará danos a sua saúde e terão que estar dispostos a provar novos ingredientes e preparações”, enfatiza Gabryela Esteves. 

Sugestões para ajudar as crianças a mudar hábitos alimentares

  • Iniciar pelos alimentos com sabores mais suaves e adocicados como, por exemplo, maçã, mamão, pera, alface, cenoura e abobrinha;
  • Variar a forma do preparo dos alimentos – talvez um chuchu cozido não faça sucesso, mas assado recheado com carne moída, por exemplo, seja mais atrativo; 
  • Usar a criatividade na forma de cortar, preparar e temperar os alimentos com opções gostosas e saudáveis, como ervas, pimenta e azeite; 
  • Para quem não gosta de frutas, começar pelos sucos e vitaminas pode ser uma boa opção. Depois, a criança pode tentar ingeri-las em pedaços ou cozidas, que também costumam ser bem aceitas;
  • Molhos podem ajudar a disfarçar o sabor, tente os mais naturais possíveis, como limão, azeite, mostarda e mel; 
  • Aprender a cozinhar e manusear o alimento pode ajudar na aceitação pela criança;
  • Bater legumes e hortaliças e consumi-los como sopas/cremes. Aos poucos, deixe pequenos pedaços de vegetais; 
  • Se a criança rejeita um alimento, ter paciência dar um tempo e depois pensar em novas formas para ofertá-lo novamente.

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