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Os desafios de um mercado de trabalho desigual e excludente para as mães negras

Por Fabíola Salani – “O mercado [de trabalho] corporativo é excludente, é machista e não gosta de mulher barriguda. Estou dizendo o que eu vivo”, afirma a empresária e executiva Rachel Maia.
Fundadora e CEO da RM Consulting. Rachel fala com a experiência de quem já foi CEO de marcas como Lacoste, Pandora e Tifanny & Co. no Brasil. Hoje, está no conselho de administração de algumas das principais companhias brasileiras, como Vale e Banco do Brasil. Mas alerta: o caminho é árduo. “Na minha trajetória tem mais não do que sim.”
Uma das palestrantes convidadas da 10ª edição do Seminário de Mães, realizado no dia 4 de maio em São Paulo, ela fez questão de lembrar que das cerca de 11 milhões de mães solo no Brasil, 88% são pretas. Ela mesma faz parte desse grupo: mãe solo preta. Por isso, hoje usa a voz que tem para criar oportunidades para mulheres. “Eu não posso ser só a ‘outlier’ desse processo”, diz, referindo-se ao fato de ser uma exceção à regra.
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Ela recorda o dilema que enfrentou ao engravidar da filha mais velha, Sara Maria, na época em que havia sido contratada pela joalheria Pandora para fazer a expansão da empresa no Brasil. Rachel estava decidida a deixar o emprego e ao comunicar o fato ao presidente mundial da empresa ouviu como resposta: “Rachel, vida é bênção. Se você quiser continuar comigo, eu quero continuar com você”.
Então a executiva diz que se “adequou” à situação. Apenas 20 dias depois do nascimento de Sara, ela voltou ao trabalho. Mas não considera que a maneira como se adaptou foi a melhor. “Eu fui a precursora, para que outras mães não passassem o que eu passei.”
A executiva faz questão de não “dourar a pílula”. “Eu equilibrava pratinhos. Caíam alguns? Caíam. Mas eu não foco nos cacos. Eu os junto e sigo equilibrando os pratos”, afirma.
Em sua visão, há uma pressão para que as mulheres deem atenção exatamente a esses “pratos que caem”, as coisas que elas não dão conta. Isso para, depois, justificar uma eventual não promoção pelo fato de serem mães. “Oi? Eu emburreci por que eu virei mãe?”, questiona.
Luta diária pela diversidade
Mesmo tendo alcançado os postos que conquistou, Rachel continua enfrentando dificuldades.
“Os olhos não estavam acostumados a ver tanta pluralidade nos meios de comando”, afirma. “Quando você vê uma mulher num lugar que não estava acostumado, sabe quando eles vão te dar a fala? Quase que nunca.” E conta um exemplo: “Já vivi ocasião de falar em reunião de conselho, aí o conselheiro do meu lado fala a mesma coisa, a mesma vírgula, e ele é ovacionado.”
Ela conta que conseguiu incluir quatro mulheres pretas nos conselhos de que participa. E que mentora cerca de 50 mulheres por ano. Além disso, promove encontros entre empreendedoras, em que reforça a necessidade de formarem uma rede de apoio entre si. “Uma compra da outra, uma faz parceria com a outra… Nós também temos que ter nosso clube fortalecido.”
Rachel se diz “super otimista” e afirma que está brigando por acreditar que a maior inclusão e diversidade são possíveis. Mas não “suaviza”. “Precisamos ter senso crítico do quão deliciosa vai ser a conquista, mas do quão desafiadora vai ser a jornada.”
Canguru News
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