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Falta de atividade física ou má alimentação: o que é pior para as crianças?
Um estudo desenvolvido na Baylor University em Waco, Texas (EUA), discute qual a verdadeira causa para a epidemia de obesidade na infância: inatividade física ou má alimentação? Segundo os dados da pesquisa, crianças ativas e sedentárias têm quase o mesmo gasto energético diário. O que indica que uma vida pouco ativa não esteja necessariamente ligada a obesidade.
Segundo a pesquisa, em 2016, 18% de todas as crianças e adolescentes do mundo estavam com sobrepeso ou obesos. Em alguns países, essa porcentagem chegou a 65%. Tal dado é tão preocupante porque provavelmente essas crianças se manterão obesas ou com sobrepeso até a idade adulta, aumentando as chances de desenvolverem doenças como diabetes tipo 2 e hipertensão. “Esses achados demonstram a importância da prevenção da obesidade infantil para promover a saúde e o bem-estar ao longo da vida”, explica Sam Urlacher, professor assistente de antropologia na Baylor University e responsável pelo estudo.
A prevalência da obesidade na infância se encontra em países de baixa e média renda, isso porque a população desses países experimentam uma economia crescente baseada na integração do mercado. Essa realidade influencia diretamente os hábitos pessoais de cada indivíduo, fazendo-o ter uma vida mais sedentária e uma dieta baseada na ingestão de alimentos ricos em calorias. Esses fatores influenciam diretamente no desequilíbrio energético, acúmulo de gordura corporal e, consequentemente, desenvolvimento da obesidade e sobrepeso.
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No entanto, recentemente, um estudo realizado por Herman Pontzer, professor associado de antropologia evolutiva na Universidade Duke, da Carolina do Norte (EUA), relatou que o gasto energético de comunidades caçadoras da Tânzania, que se movimentam muito durante o dia, é semelhante ao gasto energético de indivíduos com sobrepeso que moram em grandes centros urbanos, como Estados Unidos e Reino Unido.
Como foi a pesquisa
Incentivado pela pesquisa de Pontzer, Sam Urlacher acompanhou dois grupos de crianças da comunidade indígena Shuar, localizada na Amazônia equatoriana: um grupo “rural”, que ainda mora na aldeia; e um grupo instalado em uma cidade próxima, denominados periurbanos. A ideia do pesquisador era aplicar a descoberta de Herman Pontzer em grupos geneticamente iguais, já que o professor da Carolina do Norte havia comparado pessoas da Tanzânia com pessoas de outros pontos do globo terrestre.
As crianças do grupo “rural”, moram em uma região de difícil acesso, sem água encanada, hospitais ou escolas. Toda a comunidade vive predominantemente de caça, cultivo e coleta de alimentos. Já o grupo periurbano já vive em uma cidade com água encanada, energia elétrica, estradas que ligam a cidades maiores e acesso à alimentos industrializados. Ambos os grupos foram formados por crianças com idades entre 4 e 12 anos. Durante 12 dias, as crianças foram monitoradas quanto ao consumo de alimentos, atividades físicas e composição corporal.
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Os resultados
O estudo comprovou o que já era suspeito: que as crianças periurbanas apresentavam maior sobrepeso, consumiam mais alimentos do mercado e tinham mais gordura corporal do que as crianças “rurais”. “Esse maior nível de desenvolvimento econômico e integração de mercado esteve associado a um maior consumo relatado de alimentos adquiridos no mercado, refletindo maior consumo de todas as 3 categorias dietéticas examinadas no estudo (carboidratos, proteínas e gorduras/açúcares)”, ressalta o pesquisador.
Outro ponto levantado pela pesquisa é que o gasto energético diário dos dois grupos de crianças, apesar das diferentes atividades exercidas por cada um, era muito semelhante. Sendo assim, concluiu-se que o sobrepeso das crianças periurbanas estava relacionado ao consumo de alimentos industrializados e adquiridos em mercados e não ao nível de atividade física praticado pelos mesmos. “Este estudo constatou que as crianças shuar relativamente integradas ao mercado não gastam menos calorias por dia do que suas contrapartes rurais mais magras. Verificou-se também que o consumo relatado de alimentos adquiridos no mercado, está confiávelmente relacionado à adiposidade das crianças”, finaliza Sam Urlacher.
Juntos, esses resultados fornecem evidências que sustentam a visão de que a mudança do consumo alimentar, em vez do gasto energético diário, é provavelmente o fator dominante que impulsiona o aumento da obesidade na infância.
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Michele Custódio
Jornalista formada pela Unesp, tem experiência na redação de temas como Saúde, Ciência e Cultura. Atualmente, pesquisa sobre Educomunicação, Marketing e Acessibilidade.
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