Os brinquedos têm de incorporar a transformação digital em curso ou não conseguirão chamar a atenção das crianças de hoje, habituadas a tantos estímulos virtuais. “O brinquedo de antes era mais contemplativo. Hoje, ele ‘chama’ a criança para brincar, porque disputa o tempo e encantamento dela com outras indústrias”, disse o diretor de marketing da Brinquedos Estrela, Aires Fernandes, durante a 40ª edição da Abrin, a maior feira de brinquedos da América Latina. O evento, realizado no início de março, em São Paulo, reuniu marcas influentes e apresentou tendências que direcionam o mercado, trazendo discussões importantes sobre a história e evolução dos brinquedos nestas quatro décadas desde a criação da feira.
Segundo Fernandes, que participou da Abrin Talks, arena de discussão de conteúdos do evento, é preciso transformar o romantismo de outrora em tecnologia para produzir produtos lúdicos, divertidos e adaptados à nova era. Ele ressaltou que a indústria tem se preocupado em acompanhar as mudanças sociais e culturais, a exemplo dos bonecos e bonecas para meninos, que 40 anos atrás sequer eram cogitados e hoje existem graças à compreensão da importância lúdica da brincadeira para criar bons pais no futuro.
Fernandes também comentou das adversidades desse mercado, que enfrenta uma sazonalidade muito forte – 70% das vendas acontecem entre o Dia da Criança e o Natal. E falou do ciclo de vida do brinquedo, cada vez menor, o que exige relançar produtos para que as novas gerações possam conhecê-los. “O brinquedo desperta gatilhos de felicidade em que você faz uma viagem nostálgica (…) e essa concepção de felicidade talvez seja a força motriz do brinquedo. A gente vende sonho e fantasia”, afirmou o executivo da Estrela, cujo estande trazia um forte apelo emocional e nostálgico, a partir de brinquedos que fizeram parte da infância de todas as gerações de brasileiros.
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kidults e a inclusão do brinquedo também são debatidos na Abrin
O segmento de ‘kidults’ – adultos que buscam resgatar a infância por meio de brinquedos – também foi tratado por palestrantes. Segundo pesquisa, 67% dos adultos entre 18 e 65 anos no mundo são kidults em potencial e estão interessados em adquirir um ou dois brinquedos, no geral, para hobbies e coleções.
O evento também deu voz à importância da inclusão no universo lúdico, reforçando que o brincar é um direito de todas as crianças. Na palestra Brinquedos para diversidade, inclusão e pessoas com condições especiais, especialistas debateram como a indústria pode garantir que todas as crianças se sintam representadas e acolhidas, evidenciando que a inclusão no mundo dos brinquedos é um compromisso de toda a sociedade para a construção de um futuro mais justo e diverso. Diversas marcas têm investido nessa área. A linha educativa da Xalingo tem itens dedicados ao aprendizado de libras, a língua brasileira de sinais, e de braile, o sistema de escrita tátil usado por pessoas com deficiência visual. Há, por exemplo, jogos como um bingo de letras e um quebra-cabeça com números em libras, assim como um jogo da velha e o Brincando de Matemática, ambos em braile.
Bonecas como a MarlowOur Generation e seu cão-guia, da Candide Brinquedos, geram identificação com as crianças que têm deficiência visual. Já a linha inclusiva da Pais & Filhos tem brinquedos como bingos, dominós e caças figuras, que consideram diferentes capacidades motoras, sensoriais e cognitivas e buscam promover um ambiente onde todos se sintam incluídos e valorizados.
Na Eu Amo Papelão, destaque para personagens que representam crianças cadeirantes, com deficiência auditiva e agenesia de membro – desenvolvimento incompleto de parte do corpo. Foi essa última condição, inclusive, que deu origem à linha de brinquedos inclusivos, entre os quais graciosos bonequinhos de papelão que permitem que crianças com deficiência se enxerguem neles.
Por fim, a Kidzzo, marca de instrumentos musicais da Izzo Musical, também estava presente na feira com brinquedos voltados à primeira infância, que buscam estimular o desenvolvimento infantil por meio da musicalização.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.