‘Nem toda mulher consegue vivenciar a maternidade de forma gratificante’

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Por Marina Otoni

A maternidade é um tema instigante que venho pesquisando com o intuito de compreender a complexidade e profundidade dessa experiência. Sou mãe e psicóloga clínica, apaixonada pela minha profissão e pelo universo feminino, acolho em meu consultório mulheres em busca de equilíbrio e apoio para lidar com os desafios e dilemas que a maternidade trouxe para a sua vida.

Escutando essas mulheres, observei que as dificuldades vivenciadas por elas no cotidiano só são compartilhadas com um terapeuta. É raro ouvir uma mulher admitir em público que a maternidade não é só flor e que o nascimento do filho provocou mudanças irreversíveis na sua vida. Mesmo sofrendo, elas se recusam a compartilhar seus medos e inseguranças, sustentando com essa atitude o mito do instinto materno disseminado em nossa sociedade, nos últimos séculos, que corresponde à crença de que toda mulher nasceu para ser mãe, vai naturalmente desejar ter filhos, amá-los incondicionalmente e sentir-se plena e realizada com a maternidade.

O amor entre pais e filhos não está garantido a priori nem toda mulher consegue vivenciar a maternidade de forma gratificante

Embora algumas mudanças significativas tenham ocorrido na sociedade nas últimas décadas, modificando de forma radical o lugar e o papel social da mulher, ela continua sendo a principal responsável pelo filho. Para Elisabeth Badinter, que realizou uma pesquisa sobre o instinto materno, a sociedade ainda espera que a mulher ame incondicionalmente seu filho e encontre na maternidade a sua maior fonte de realização pessoal. O que nem sempre acontece.

O processo de tornar-se mãe para um filho não é decorrente de um dom natural, mas de alguns aspectos que vão influenciar de forma significativa o modo como a mulher se apropria do seu papel e vivencia a maternidade. Destaco o desejo, a própria experiência da mulher como filha e os discursos sociais que definem o que é ser mãe. Por isso, o amor entre pais e filhos não está garantido a priori nem toda mulher consegue vivenciar a maternidade de forma gratificante. Para algumas mulheres, a maternidade poder ser uma experiência difícil e contraditória. O encontro com um bebê real, que demanda atenção exclusiva, pode despertar na mulher conflitos, sentimentos contraditórios e um profundo sentimento de culpa. Esses sentimentos, que a mãe raramente consegue admitir, podem comprometer a construção de um vínculo satisfatório com seu bebê.

Reconhecer os afetos e emoções experimentados com a maternidade e se dispor a falar das dificuldades que a chegada de um filho trouxe para a sua vida pode ser libertador para algumas mulheres, que, ao falar da sua experiência como mãe, conseguem encontrar uma forma de dar tratamento a essas questões, vivenciando a maternidade de forma prazerosa e satisfatória.

Marina Otoni é psicóloga clínica graduada pela PUC Minas, com pós-graduação em psicanálise pela UFMG e mestrado em psicologia pela UFMG. Palestrante e professora de temas relacionados a infância, adolescência, maternidade e família.

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