Mesmo após aprovação da “Lei Felca”, poucos pais conhecem ferramentas para proteger as crianças na internet

Levantamento inédito, feito com 1800 pais, mostrou que apenas 36% já ouviram falar sobre as novas regras do ECA Digital. Além disso, o estudo apontou que apenas 1 em cada 3 adultos sabe usar ferramentas de controle parental
Adolescente no celular
Foto: Freepik
Adolescente no celular Foto: Freepik

 

O celular já está interligado à infância brasileira, de uma forma muito mais intensa do que os adultos gostariam. Uma pesquisa inédita do Projeto Brief, publicada em dezembro de 2025, traçou o retrato mais completo até agora sobre o uso de telas entre crianças e adolescentes após o debate nacional provocado pelo vídeo viral sobre “adultização”, do influenciador Felca. O estudo ouviu 1.800 pais e responsáveis e confirmou uma impressão que muitas famílias já tinham: a infância digital corre em ritmo acelerado e os responsáveis ainda não se sentem preparados para acompanhar.

Segundo o levantamento, 77% das crianças e adolescentes brasileiros já possuem celular próprio. Quase 30% delas têm menos de 7 anos – não precisa nem ser alfabetizada para já saber navegar na internet com destreza. O excesso do tempo de tela também preocupa: mais da metade dos menores passa acima de três horas por dia no celular, e 25% chegam a ultrapassar cinco horas. Nesse cenário, postar vídeos, tirar fotos e consumir conteúdo sem supervisão vira rotina e 35% dos menores publicam conteúdo online sem que seus responsáveis sequer saibam.

Adultização infantil

O comportamento está diretamente ligado ao fenômeno da adultização infantil, termo que descreve a exposição precoce das crianças a conteúdos, linguagens e interações típicas do mundo adulto. O estudo mostra que isso não acontece apenas por conteúdos inadequados, mas também pela ausência de limites saudáveis e pelo papel que a tecnologia assumiu dentro das casas. Com a correria diária, o celular funciona como distração e, na maioria dos casos, não é um espaço guiado por adultos conscientes dos riscos.

Os pais reconhecem o problema. De acordo com o estudo, 8 em cada 10 brasileiros defendem regras claras para proteger as crianças no ambiente digital. Ainda assim, mesmo entre os responsáveis mais atentos, existe uma lacuna entre a preocupação e a prática: apenas 1 em cada 4 sabe usar ferramentas de controle parental, e 64% afirma desconhecer as regras do recém-aprovado ECA Digital (Lei 15.211/2025), que começa a valer plenamente em março de 2026.

Essa falta de informação cria um sentimento de desamparo. O estudo identifica que 82% das famílias se sentem sozinhas para proteger seus filhos online. Isso está relacionado tanto às dificuldades técnicas — configurar aplicativos, entender restrições, acompanhar postagens — quanto às dúvidas sobre o que realmente funciona para a segurança, o que configura exagero e como orientar crianças e adolescentes sem cair no controle excessivo.

Entre as mulheres, 87,7% defendem fortemente a regulação e veem a proteção digital como uma extensão do cuidado cotidiano. Entre os homens, o apoio cai para 74,1%,  um dado que ajuda a entender por que muitas mães relatam sentir a responsabilidade digital mais concentrada sobre si mesmas.

Ambiente digital complexo demais

O ECA Digital atualiza o Estatuto da Criança e do Adolescente para o ambiente online, exigindo verificação de idade, responsabilidade das plataformas sobre conteúdos nocivos e transparência nos sistemas de recomendação. Mas pouquíssimas pessoas compreendem o que realmente muda na prática. Sem esse conhecimento, a norma não chega ao cotidiano das famílias, que continuam sem orientação em um ambiente digital complexo.

O retrato apontado pelos números mostra que não falta preocupação e sim orientação. As famílias sabem que precisam proteger as crianças, mas não se sentem capacitadas e equipadas para isso. Enquanto tentam lidar com um ecossistema digital rápido e arriscado, crianças e adolescentes seguem mergulhados em conteúdos que moldam a visão de mundo de maneiras que quase nunca são adequadas à idade.

É preciso trazer as famílias para o centro da conversa, oferecendo informação acessível, apoio técnico e políticas que funcionem na vida real. Proteger crianças online não é apenas sobre limitar conteúdos, mas sobre devolver a infância segura para as crianças.

Fonte: Projeto Brief (http://projetobrief.com/especiais/adultizacao)

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