Por Rafaela Matias – Você conta mentiras? Nem de vez em quando? Se a resposta foi não, essa provavelmente é uma mentira. E das grandes. De acordo com uma pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, o hábito de mentir está embutido na psique humana. Os testes, feitos com 242 pessoas, mostraram que 60% delas mentem pelo menos uma vez durante uma conversa de dez minutos.
Além de ludibriar o chefe, o parceiro e os amigos, os adultos também costumam contar lorotas para os filhos. Quem não se lembra de ouvir histórias sobre o bicho-papão que pegaria crianças desobedientes? E sobre aquele ente querido que virou uma estrelinha? São inverdades contadas com a melhor das intenções pelos pais, mas que podem ter consequências negativas. “Quando os pais mentem, seja por pequenos ou grandes motivos, os filhos acabam aprendendo que as mentiras são permitidas”, afirma Tatiana Jezini, psicóloga clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em desenvolvimento infantil.
Muitas dessas mentirinhas são uma tentativa de educar ou poupar a criança de algum sofrimento. Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Maria Luíza Rocha de Andrade, mestre em educação e com uma experiência de 22 anos em atendimento a crianças, a melhor opção para contar verdades difíceis aos filhos é adotar uma linguagem que se adeque à idade de cada um. “E ajudá-las a compreender o que está sendo dito”, explica. Engana-se quem pensa que os pequenos não conseguem perceber quando estão sendo ludibriados. “Na maioria das vezes, os adultos pensam que as crianças são pequenas demais para entenderem o que é dito, mas elas entendem tudo e acabam perdendo a confiança”, alerta Beatriz Neves Braga, psicóloga clínica pela PUC Minas, especialista em diagnóstico infantil, ludoterapia, aconselhamento de pais e neuroeducação.
Todo mundo já ouviu
Com a ajuda das três especialistas citadas nesta reportagem, Canguru enumerou algumas mentiras que os pais contam aos filhos e explica a melhor maneira de lidar com as situações sem deixar a honestidade de lado
“A CEGONHA TE TROUXE”
Sexualidade não é um assunto fácil para a maioria dos pais. Mas, nem por isso, eles estão liberados para contar mentirinhas. A dica é seguir a linha de raciocínio da criança e não ultrapassar aquilo que ela está preparada para ouvir. Perguntar o que ela acha antes de responder pode dar uma boa ideia de como conduzir o assunto. Sobre a clássica “De onde vêm os bebês?”, uma boa opção é dizer que o papai plantou uma sementinha na barriga da mamãe. É lúdico, mas não deixa de ser verdade.
“É SÓ UMA PICADINHA”
Não, não é. Vacina dói e a criança vai descobrir isso assim que tomar a primeira dose. O ideal é que os pais expliquem a importância daquele procedimento doloroso e deixem claro que ele é necessário. Não tem problema explicar de uma maneira criativa, dizendo que lá dentro existem super-heróis (anticorpos) capazes de proteger o nosso organismo. O mesmo vale para os remédios de gosto ruim.
“O BICHO-PAPÃO VAI TE PEGAR”
Além de não deixar ninguém mais obediente, esse tipo de história ameaçadora cria fobias e gera ansiedade. A cuca, o bicho-papão e o homem do saco não serão capazes de assumir uma responsabilidade que é dos pais: a de educar. Se o seu filho fez algo errado, deve- -se ter uma boa conversa e — se necessário — aplicar um castigo plausível (sem punições físicas, é claro).
“O VOVÔ VIROU ESTRELINHA”
Até se pode dizer que o ente querido virou uma estrelinha, para amenizar as incertezas da morte. Mas é importante explicar o que levou a isso, como uma doença ou um acidente. Dizer que ele viajou para bem longe ou caiu em um sono profundo está proibido. A primeira frase por gerar na criança a expectativa de que aquela pessoa volte e a segunda por associar o sono com algo negativo. Você também ficaria com medo de dormir, não?
“VOU ALI E JÁ VOLTO”
Não diga isso se não for verdade. A criança leva esse tipo de promessa ao pé da letra e fica na expectativa de que a volta seja rápida. Se ela acontecer várias horas depois, o pequeno ficará ansioso e com medo de que a pessoa não volte mais. É importante dar uma referência como “depois do almoço” ou “ao anoitecer”. Dizer que vai trabalhar e sair arrumado para um jantar ou uma festa também não cola.
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