Por Daniele Franco
A Fundação Ezequiel Dias (Funed) investiga uma suspeita de morte por febre maculosa de uma criança de 10 anos, no último domingo (4), em Belo Horizonte. Thales Martins Cruz faleceu depois de sofrer febre hemorrágica. Ele ficou internado no Hospital das Clínicas.
Segundo a Funed, equipes do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde foram acionadas e o paciente teve amostras laboratoriais coletadas e encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública da fundação. O resultado do exame será divulgado assim que ficar pronto. Até a manhã desta quinta-feira (8) o laudo ainda não havia ficado pronto.
Desde o início da semana, um áudio gravado por um homem que se diz parente do garoto circula pelo WhatsApp. Na gravação, ele diz que o menino foi picado por um carrapato estrela no Parque Ecológico da Pampulha, o que o teria infectado com a febre maculosa. No áudio, o suposto parente aconselha pais a evitarem a região da Pampulha e do Parque Ecológico da Pampulha.
Thales era membro do Grupo de Escoteiros de Venda Nova, que o homenageou nesta segunda-feira e decretou luto de 3 dias.
Veja a íntegra da nota dos escoteiros:
“Aos Amigos do 113 GEVEN e família do jovem Thales Martins Cruz.
É com imensa tristeza que hoje endereçamos essas palavras ao GEVEN e família do jovem lobinho, mais uma vez o destino nos pega com os corações desprevenidos, uma criança que compartilhava as coisas boas do escotismo nos deixa para o grande acampamento junto a Baden Powell. Aqui ficamos e devemos ser fortes para com os desígnios divinos, agora nos cabe a memoria do quão foi bom partilhar momentos de uma vida com alguém tão próximo.
Que essa ausência seja capaz de aumentar os laços de fraternidade que nos une, quando se perde um irmão escoteiro todos sentem que um elo é quebrado, porém vários outros necessitam de nossa força para continuar.
A Diretoria Regional se sensibiliza para com os familiares e amigos, são nossos votos de pêsames.
Declara-se ainda o luto oficial de 3 dias e que os Grupos Escoteiros de Minas Gerais utilizem suas bandeiras de Grupo em meio mastro em sinal de respeito e lembrança do nosso Irmão Lobinho.
Att, Diretoria Regional André Gomes – Diretor Presidente Neilton Bernardo – Diretor Vice-presidente Giovani Ramos – Diretor Financeiro Marcos Magno – Diretor Gestão Institucional Rodrigo Luis – Diretor Métodos Educativos”
Doença ainda não confirmada
A Secretaria Municipal de Saúde, por meio de nota, afirmou que outras doenças como dengue e leptospirose também causariam o sintoma que levou o menino a óbito, por isso, materiais biológicos foram encaminhados a Fundação Ezequiel Dias (Funed), que analisará as amostras para chegar a um diagnóstico laboratorial. Ainda de acordo com a nota, nenhum caso de febre maculosa foi confirmado em Belo Horizonte em 2016 e nem em 2015.
Leia na íntegra do comunicado:
“Em resposta à solicitação da Imprensa, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) informa:
1. A Vigilância Epidemiológica da SMSA recebeu a notificação de óbito de garoto de 10 anos, ocorrida no dia 04/09/16. Este óbito está em investigação para várias doenças conhecidas como Febre Hemorrágicas, dentre elas dengue, leptospirose, febre maculosa e outras;
2. Os materiais biológicos coletados foram enviados para a Fundação Ezequiel Dias (Funed), que fará o diagnóstico laboratorial;
3. Em Belo Horizonte não há nenhum caso confirmado por febre maculosa em 2016 e nem em 2015;
4. Em 2015 foram 62 notificações por suspeita de febre maculosa. Todos investigados e descartados para a doença. Em 2016 foram 15 notificações por suspeita da doença e, até o momento, nenhum foi confirmado.”
Medidas contra carrapatos
A Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, que administra o Parque Ecológico da Pampulha, disse que toma providências no sentido de evitar a incidência dos carrapatos transmissores de febre maculosa.
Leia a íntegra do comunicado enviado à imprensa:
“A Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte esclarece que ações preventivas, no sentido de evitar a incidência de carrapatos no Parque Ecológico da Pampulha (PEP), área de conservação ambiental, localizada na Avenida Otacílio Negrão de Lima, são realizadas periodicamente.
Toda a vegetação é podada, mantendo-a, no caso de gramínea, rasteira, para facilitar a penetração dos raios solares, que não são favoráveis aos carrapatos, e é feita irrigação de toda a área de visitação do Parque, principalmente na época da seca, quando ocorre a maior proliferação de carrapatos no Brasil.
A FZB-BH também cercou, em junho de 2013, o entorno do Parque impedindo a circulação na área de visitação do Parque de animais hospedeiros de parasitas, como capivaras, cavalos e outros. Além disso, toda a área de visitação está sinalizada, informando as medidas a serem adotadas para se prevenir do parasita.
A Gerência Regional de Controle de Zoonoses – Pampulha também realiza periodicamente no Parque, desde 2014, atividades de vigilância epidemiológica, como a busca ativa do carrapato-estrela no ambiente com intuito de estudar e monitorar a população do potencial vetor da febre maculosa, o que orienta também as ações preventivas realizadas no Parque.”
Veja abaixo as informações divulgadas pela Funed sobre a febre maculosa:
Sobre a doença
A Febre Maculosa Brasileira é uma doença causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida pela picada de carrapatos infectados (principalmente carrapatos da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecidos como carrapato-estrela) ao homem. Alguns animais (bois, cavalos, capivaras e outros) participam do ciclo de transmissão da doença, aumentando a disponibilidade da bactéria para os carrapatos que se alimentam deles. Casos de FMB são registrados desde a década de 1930 em Minas Gerais. No período de 2008 a 2016, eles ocorreram principalmente nas macrorregiões Centro (25,9%), Sudeste (20,0%), Leste (16,5%), Oeste (12,9%) e Nordeste (10,6%) e do Estado. Neste ano, já houve 5 casos e 2 mortes em Minas Gerais decorrentes da febre maculosa, segundo a Funed.
Sintomas:
Nos estágios iniciais, os sintomas da doença incluem febre, em geral alta, dor de cabeça, dores musculares intensas, mal estar generalizados, náuseas e vômitos.
Entre o segundo e o sexto dia de sintomas, pode ocorrer o aparecimento de exantemas, que são manchas ou pápulas avermelhadas na pele. No entanto, não se deve aguardar o aparecimento de tais sintomas para a suspeição da doença, visto que eles ocorrem em menos de 50% dos casos de FMB.
Como os sintomas podem ser facilmente confundidos com o de outras doenças, é fundamental que, diante dos primeiros sinais, o paciente procure imediatamente o serviço de saúde e relate ao profissional médico que esteve em áreas propícias para a presença de carrapatos.
Se não tratados, pacientes com FMB podem evoluir para estágios de confusão, torpor, alterações psicomotoras e outras manifestações graves (edema, manifestações hemorrágicas, icterícia), que requerem cuidados hospitalares intensivos e podem levar o paciente ao óbito em cerca de 80% dos casos.
Casos de FMB ocorrem em maior frequência no período de abril a novembro, onde há predomínio das formas de larva e ninfa do carrapato, que são menores e mais difíceis de serem visualizada no corpo.
Há algum grupo de risco delimitado ou todos estão propensos a contrair a doença?
Todos os indivíduos estão propensos a contrair a doença. As populações expostas a ambientes onde há presença de carrapatos (áreas rurais, matas, cachoeiras, pasto sujo, áreas com presença de animais domésticos ou silvestres, parques, beira de rios e lagoas) ou a animais que participam do ciclo de transmissão da doença (roedores, cães, cavalos, capivaras e bois), ou aqueles que frequentam áreas onde a transmissão da FMB é conhecida, são as que apresentam maior risco para se infectarem.
Quais os principais cuidados que devem ser tomados para se evitar a febre maculosa?
Ao frequentar áreas propícias para a presença de carrapatos (áreas rurais, matas, cachoeiras, pasto sujo, áreas com presença de animais domésticos ou silvestres, parques, beira de rios e lagoas), devem ser tomados os seguintes cuidados:
– Utilizar repelentes à base da substância Icaridina, que são eficazes na prevenção de picadas por carrapatos;
– Utilizar vestimentas longas e de cor clara, que permitem a fácil visualização dos carrapatos, além de calçados fechados e de cano longo são bastante importantes;
– Evitar sentar ou deitar em gramados nas atividades de lazer, como caminhadas, piqueniques ou pescarias;
– Examinar o corpo com frequência, tendo em vista que quanto mais rápido os carrapatos forem retirados, menor a chance de infecção;
– Se verificada a presença de carrapatos, retirá-los com leves torções e evitando o esmagamento de seu corpo com as unhas (já que pode haver contato com a bactéria presente no animal dessa maneira);
– Utilizar equipamentos de proteção individual (EPI’s) nas atividades desenvolvidas em ambientes propícios para a presença de carrapatos (macacões de manga comprida, meias e botas de cor clara);
– Manter pastos, lotes e áreas públicas sempre limpas, para evitar a proliferação de carrapatos;
– Utilizar carrapaticidas periodicamente em cães, cavalos e bois, conforme recomendações do profissional médico veterinário.
Reportagem atualizada no dia 8.9.2016, às 12h15