O medo de perder os filhos

A escritora Sheila Trindade fala sobre alguns dos sustos que já passou ao achar que havia perdido as crianças

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Criança pequena no chão se esconde por trás da parede
Se esconder dos pais pode parecer uma brincadeira divertida aos pequenos
Buscador de educadores parentais
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O maior medo de toda mãe é perder de vista o filho. Minha mãe conta que eu me escondia nas araras de roupa da C&A e ela ficava um tempão me procurando. Conta também que eu conversava com todo mundo e adorava entrar embaixo das mesas e ficar quieta lá por horas. Deve ter sido difícil ser minha mãe.

Desde que assumi o mesmo “posto” que ela, já passei alguns bons sustos. Lembro do dia em que consegui o feito de perder meu filho dentro de casa. Ele estava brincando de pique-esconde comigo, mas eu não estava ciente disso. Ele se escondeu e ficou quieto lá por longos minutos. O tempo, precisamente, eu não sei. Fui ver se o menino estava bem e cadê ele? Não estava na sala. Corri para o quarto. Olhei dentro dos armários e se estava escondido no box do banheiro, na casinha do cachorro, dentro da máquina de lavar e até no forno. Olhei em tudo. Sentei no sofá da sala para pensar o que fazer. Comecei a questionar, como de praxe, minha sanidade. Pensei em ligar para meu marido, a polícia, alguém que tenha alguma ideia sobre onde a criança estaria. Fiquei imaginando qual explicação daria. Como é que eu fui perder uma criança de dois anos dentro de casa? Algum armário para Nárnia explicaria? Enquanto refletia sobre o que fazer, observei algo embaixo da TV que ficava apoiada em cima de um móvel baixo. Dava para ver pela frestinha dois pés gordinhos. Fui andando lentamente e ao olhar atrás da TV, lá estava a criança que estava prestes a ter a foto estampada em caixa de leite, com as mãos no rosto, ainda brincando de esconder. Ainda bem que não liguei para a polícia.

Também já perdi o mais velho que brincava no quintal com os amiguinhos. Todo mundo foi embora e quando perguntei onde Samuel estava, eles disseram que não sabiam. Eu deduzi – sou ótima em deduções, repare bem – que ele havia saído pelo portão após uma rápida olhada dentro de casa. Percorri correndo os quarteirões do bairro, encontrei vizinhos pelo caminho e
pedi para ajudarem na busca. Todo mundo desesperado ajudando, até que alguém pergunta:

— Você tem certeza que ele não está em casa?

E não é que estava, menina? Dormiu sentado na privada enquanto fazia cocô. Por isso não me ouviu chamando. E a cara da bonita em contar para o vizinhos que ele estava lá dentro, sem explicar os detalhes para não pegar mal para o menino depois? Paguei de louca, claro.

Na festa junina, todas as crianças brincando espalhadas pela escola e não sai ilesa, sem o mico cotidiano. A música tocando, todo mundo feliz, interrompem o som. Um moço com cara brava grita lá na frente:

— Cadê a mãe dessa criança? (Do pai ninguém pergunta, não é mesmo?)

Sim, essa mãe era eu. Luiza em pé ao lado do moço com cara de choro. Disse que se perdeu NA-SUA-PRÓPRIA-ESCOLA e não me achou. Logo eu, tão deslocada e antissocial. Fácil, fácil me encontrar em qualquer festa, sou aquela ali no canto com alergia assintomática a pessoas. Vai ver meus filhos são assim também. Fingem eternamente brincar de esconde-esconde para ficarem sozinhos com seus pensamentos, torcendo para ninguém os achar.

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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