Por Cris Guerra
Mães dedicadas levam e buscam os filhos na escola. Mães que fazem o possível contratam um escolar. Mães dedicadas costuram com as próprias mãos os remendos da calça do filho para a festa junina. Mães que fazem o possível correm na véspera para as Lojas Americanas em busca de remendos autoadesivos. E se assustam ao constatar que até agora o produto não foi inventado. E enquanto a mãe dedicada passeia com os filhos na pracinha toda manhã de sábado, a mãe que faz o possível liga a TV no Ben 10 para que o filho lhe dê mais meia hora de sono.
Mães dedicadas ajudam no para casa. Mães que fazem o possível não dão conta do seu próprio para casa. Mães dedicadas levam o filho ao dentista. Mães que fazem o possível deixam que a avó o faça. Mães dedicadas têm dois filhos pequenos e nenhuma babá. E os levam às festas de criança em meio aos enjoos da terceira gravidez. Mães que fazem o possível têm babá e empregada. E sentem-se orgulhosas quando conseguem enfrentar sem medo mais uma festa infantil. Mães dedicadas pintam elas mesmas a parede do quarto dos filhos. Mães que fazem o possível sugerem que os próprios filhos o façam.
E enquanto a mãe dedicada já idealizou uma opção doce e outra salgada para a próxima atividade escolar do filho, a mãe que faz o possível arde em febre ao receber o pedido da professora para comparecer na próxima segunda-feira levando os ingredientes para montar uma bandeira da Guiné-Bissau comestível. E sonha ter sido sorteada com a bandeira do Japão, em que bastaria colocar uma fatia de tomate sobre a bandeja branca.
Mas a mãe que faz o possível dispensa o escolar naquele dia e se emociona ao levar o filho à escola junto com as vasilhinhas de manga, kiwi e cereja picados e uma caixinha de passas com as quais desenha uma estrela torta. E torna-se a heroína do filho em menos de dez minutos, ao montar uma mal-ajambrada salada de frutas representando a Guiné-Bissau (que até outro dia ela nem sabia direito onde ficava). E assim, numa tarde de segunda-feira qualquer, a mãe que faz o possível provoca em seu pequeno um sorriso nunca sonhado. E descobre que não é nada menos que a melhor mãe do mundo.
Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna na rádio BandNews FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade. [email protected]