Você já ouviu falar no Donald Winnicott, pediatra e psicanalista inglês que criou aquele conceito maravilhoso de “mãe suficientemente boa”?
Ele dizia que os bebês não precisam de uma mãe perfeita, de uma mãe ideal, e sim de uma mãe suficiente, que atenda suas necessidades básicas (alimentação, asseio, proteção, aconchego), mas que pode “falhar” à medida que o bebê vai crescendo e se desenvolvendo. Falhar, nesse contexto, significa poder atrasar um pouco entre uma mamada e outra, por exemplo. O bebê com mais de 3 meses já começa a desenvolver estruturas física e emocional para suportar esse atraso, pois confia que a mãe aparecerá. É esse ambiente suficientemente bom que traz confiança para o bebê. O bebê confia que a mãe vai aparecer e a mãe confia que o bebê vai dar conta de esperar.
Sempre fico pensando em como seria a comunicação da “mãe suficientemente boa”, do Winnicott, com seu filho, agora um pouco mais crescido.
Posso imaginá-la construindo um ambiente seguro, no qual consegue escutá-lo sem julgar, interagir na conversa sem avaliar, ouvi-lo sem criticar. Ela sabe que vai ter tempo de dar a sua opinião, de dizer o que pensa para o filho em um momento mais adequado e que não precisa fazer isso no “segundo parágrafo” da conversa… Ela sabe que, ao ouvir o filho com respeito e consideração, está ajudando-o a ganhar confiança: ao se ouvir, o filho organizará os seus pensamentos, tomará contato com os seus sentimentos e, com isso, terá condições mais favoráveis para chegar a soluções para seus próprios problemas.
Também imagino a “mãe suficientemente boa” estimulando a autonomia e a independência do seu filho de outras formas, além da escuta empática: deixando o filho pequeno amarrar o cadarço do próprio tênis lentamente, sem afobá-lo…Ela está com pressa, mas consegue demonstrar respeito pelo grande esforço dele em realizar essa pequena tarefa. Ela deixa o filho fazer escolhas (adequadas a sua idade) e a arcar com as consequências dessas decisões. Talvez ele não faça a melhor escolha ou talvez nem seja a escolha que ela faria, mas ela confia que seu filho será capaz de decidir. E ao se perceber como confiável, o filho cresce. Ao saber que pode confiar nessa mãe – e no pai também – o filho se sente seguro para desenvolver o seu potencial.
Que a “mãe suficientemente boa”, do Winnicott, nos inspire a deixar a pressa e o perfeccionismo de lado e a confiar cada vez mais no potencial dos nossos filhos.
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