O que é ser uma mãe ‘stalker’

"Se há alguma serventia no casamento é a de poder falar da vida dos outros e saber que nada sairá daquela conversa – o rabo preso não deixa", brinca a escritora Sheila Trindade

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Eu sou uma mãe 'stalker'; mulher de blusa de malha amarela encosta dedo no olho cm expressão de quem
"Vida sexual já é capenga, falar mal dos outros não", diz Sheila sobre a prática de stalkear
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Descobri um novo hobby e fiquei assustada com esta minha nova habilidade em ser “stalker”. Uma mãe opina alguma coisa louca na reunião da escola, pronto. Já entro no Instagram, procuro vínculos, acho o perfil pessoal daquela mãe e dali uns 15 minutos já sei até o que ela comeu no terceiro dia de resort há três anos no Recife.

Descubro tudo para quê? Para falar mal depois, claro. E não com todo mundo. Com meu marido. Se há alguma serventia no casamento é a de poder falar da vida dos outros e saber que nada sairá daquela conversa – o rabo preso não deixa. Se contar eu conto detalhes sórdidos do casamento e claro, as fofocas que compartilhamos. Quando um dos cônjuges é “stalker”, o outro fatalmente é, talvez não com a mesma expertise, mas é. Assunto não pode faltar. Vida sexual já é capenga, falar mal dos outros não. Afinal, nenhuma criança acordará no meio da preliminar de uma fofoca, mas experimenta pensar em fazer qualquer outra coisa física? Acorda na hora!

A gente vê todo dia alguma coisa vazada na internet. Não há maior medo no mundo do que ter a intimidade exposta, é o temor de quase todos. Extrapola em muito meu medo de barata. Por isso, jamais mandei nudes. Nunca! Eu imagino que algum conhecido ou conhecido-de-um-conhecido possa fazer o mesmo que eu e descobrir minha senha do Facebook que é tão besta quanto a dona e como as senhas são todas semelhantes, dali a pouco a pessoa está mandando um “Pix” para a Suíça. Como vocês podem ver, eu não sei nem sonegar impostos, mas mando bem como mãe “stalker”.

E a gente tem que se controlar. É difícil demais não soltar na reunião com a diretora da escola dos meus filhos, que a gente sabe até o nome da tia dela, que fez aniversário mês passado, e que viu no Linkedin o ano sabático que ela tirou há três anos, virou mochileira e morou um tempo na Indonésia, onde contraiu uma doença louca comendo nos mercados de Jacarta. Só podemos sorrir e acenar com a cabeça enquanto reparamos a pulseirinha no tornozelo mal escondida pela escolha louca de meia, talvez resquício do estilo hippie – pelas fotos do Instagram eu logo vi. Tento prestar atenção na oratória da equipe pedagógica contando que meu filho de 4 anos fundou uma gangue pré-escolar, o que só era esperado no último ano de jardim. Eu só torço que a
notícia não vá parar em algum grupo de mães do Facebook. Deus me livre ter a vida exposta assim!


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