Seu filho é daqueles que não para quieto um segundo, fica o tempo inteiro se movimentando de um lado para o outro? Não consegue esperar a vez de falar ou de fazer algo e tem dificuldade em se concentrar por muito tempo em uma atividade? Muitas pessoas não sabem, mas a agitação é uma das características do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Além de agitadas ou “elétricas”, essas crianças também costumam ser muito falantes e distraídas. São essas três particularidades que dão nome a uma trilogia de livros infanto-juvenis sobre o transtorno. As histórias mostram a evolução de Bernardo, um garoto que tem TDAH, dos 7 aos 13 anos de idade. Nesta terça-feira (13), Dia Mundial do TDAH, será lançado de forma virtual o terceiro livro do trio, “Falante”, durante live, às 20 horas, no perfil da editora Literare Boks Internacional. “Elétrico”, foi lançado em 2019, e “Distraído”, em 2020. Todos têm ilustrações do cartunista Paulo Stocker.
O autor das obras, Eduardo Ferrari, jornalista mineiro com experiência corporativa de mais de 25 anos, se inspirou na história do próprio filho, Gabriel, para escrever os livros. “É uma vida intensa, que não para nunca, mas que valoriza até as menores descobertas e aprendizados”, explica Ferrari. Ele diz que levou cinco anos para escrever toda a trilogia: “Conversei com especialistas e outras pessoas com TDAH. Os livros têm historias de todos eles, além do personagem principal que é inspirado no meu filho, Gabriel.” Segundo Ferrari, crianças hiperativas vão se identificar com os contos. E os pais delas vão encontrar nas páginas uma ferramenta para entender como funciona o cérebro de seus pequenos.
Diagnóstico da criança pode indicar presença do transtorno nos pais
O escritor conta que decidiu escrever os livros sobre TDAH para combater o preconceito que ainda existe sobre o assunto. E alertar também os pais sobre a possibilidade de eles – os adultos – possuírem o transtorno – que é o seu caso. “Quando consultamos especialistas buscando um diagnóstico para meu filho caçula, ficou claro que eu tinha mais do que semelhanças físicas com ele”, relata o autor.
A herança genética é um dos fatores associados ao TDAH. Muitas vezes, é a partir do diagnóstico da criança que a família descobre outro portador do transtorno dentro de casa – ou o pai ou a mãe. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, mais de 4% da população adulta mundial sofre com o transtorno. Só no Brasil, o TDAH atinge 2 milhões de pessoas adultas – e a maioria delas passou a infância e adolescência sem diagnóstico, muitas vezes enfrentando a incompreensão dos colegas e até da família pelo comportamento diferenciado.
Ferrari descobriu que tinha sintomas do TDAH depois de saber, em consulta com um psicoterapeuta, as características do transtorno, entre as quais, desatenção, déficit de aprendizagem e inquietude nas crianças. Foi quando percebeu que esse transtorno neurológico tem causas genéticas e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. “A infância do meu filho é, de muitas formas, a repetição das dificuldades que eu mesmo tive ao longo da vida sem ter um diagnóstico”, ressalta o escritor.
Ele recorda que sempre foi uma criança difícil. Quando menino, seu apelido era “Grandão”, não só pelo seu tamanho, mas principalmente pelo modo desajeitado como quebrava tudo. Ele também se alfabetizou tardiamente, depois dos oito anos de idade. Não que esse pequeno atraso tenha feito alguma diferença em sua vida adulta, mas ele lembra do quanto foi difícil juntar uma letra com outra para formar as primeiras palavras e depois escrever frases inteiras. Essas lembranças o fazem pensar que muitos colegas de trabalho, em diversas empresas por onde passou, também podem ter sofrido com sintomas de TDAH sem saber o porquê. Daí a importância de difundir o assunto e esclarecer suas características por meio de livros como esses da trilogia “Elétrico”.
Leia também: 8 livros infantis para falar com as crianças sobre as emoções