Lista de utilidade parental: como identificar um suposto ‘pai ativo’

Participar da criação dos filhos não é um mérito nem deve ser motivo para privilégios, diz o educador parental Mauricio Maruo; ele cita 10 comportamentos comuns a pais que têm essa crença equivocada

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Pai agachado com bola na mão posa para foto abraçando filho em quadra de esportes
Cuidar dos filhos exige mais do que brincar com eles
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Você que é mãe, já passou pela situação abaixo descrita?

Em uma reunião de família ou em uma festa de amigos, algumas pessoas te chamam para elogiar seu marido/esposo por ser um ótimo pai.

Se a resposta foi sim, me responda com sinceridade duas perguntinhas:

1- O quanto essa situação te incomoda?
2- Essas mesmas pessoas já chamaram seu marido/esposo para elogiar sua maternidade?

Pois é minha gente, hoje vamos falar sobre um assunto bem camuflado, vamos falar sobre os privilégios masculinos de ser um “pai ativo”.

Na pergunta acima existem muitas ramificações estruturais de machismo que devemos prestar atenção.

Já comentei em várias matérias anteriores que a nossa régua para medir o que seria uma paternidade igualitária ainda está lá embaixo, devido a todo histórico de gerações onde o pai era o que “provia” e a mãe a que cuidava das crianças.

Quando o pai começa a participar dos cuidados das crianças (muitos começaram nesta geração), involuntariamente ele começa a ganhar um status de bom pai simplesmente por ser só pai, afinal o homem nunca foi ensinado a cuidar dos filhos, no máximo sair para passear.

A figura do “pai ativo” veio para reforçar novamente os privilégios masculinos, para os olhos da sociedade o homem que participa da criação dos filhos é um pai foda!

Mas devemos lembrar que cuidar dos filhos não é somente levar a criança para passear ou jogar bola, é também levar ao médico, cuidar quando está doente, acompanhar o desenvolvimento da criança na escola, prestar atenção nas roupas das crianças que se perdem muito rápido, orientar e fiscalizar conteúdos e horários que elas consomem na internet, fazer a comida saudável, etc. Coisas que uma mãe faz todo santo dia. 

Recentemente fiz uma pesquisa rápida com um grupo de 18 crianças, com idade entre 4 até 10 anos (somente meninos), perguntando o que eles mais gostavam de fazer com o pai?

A resposta foi desde jogar bola até andar de skate, mas quando perguntei o que o pai ensinou a eles que eles acham importante, somente 3 crianças responderam que o pai ensinou lavar a louça, dobrar e guardar as roupas e cozinhar, como uma forma de ajudar nas tarefas de casa, o resto respondeu desde como se defender de garotos maiores na escola até andar de bicicleta, não que ensinar a se defender não seja importante, mas fico imaginando como isso é feito (através do diálogo ou através da violência).

Não sei ao certo que conclusão tirar dessa pesquisa, mas o que posso afirmar é que muitos homens estão utilizando o status de “pai ativo” para continuar perpetuando o privilégio masculino, mesmo que sem consciência disso.

A pesquisa me deu um alerta de como ainda é muito difícil identificar a questão do privilégio e de como o status de “pai ativo” está ajudando a propagar isso.

Por essa razão resolvi criar uma lista de utilidade parental, para identificar um “suposto pai ativo” que utiliza o status para seu privilégio masculino, segue a lista:

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  1. Fala para deus e o mundo que é um “pai ativo

Se você é um pai que se preocupa com os cuidados e com a criação dos filhos, se interessa por participar de tudo na vida dos filhos e ainda estuda sobre como pode melhorar o seu paternar, parabéns você não está fazendo mais do que seu papel de pai, ou seja, isso não te dá créditos. 

Então não precisa dizer para todo mundo que você é um bom pai, basta só demonstrar isso para seus filhos que já é mais do que suficiente.

  1. Se vangloria por fazer o básico

Já encontrei muitos pais que se diziam “pais ativos” e batiam no peito para dizer:

“Sou eu que dou janta e banho todos os dias”.

Para esses pais tenho uma coisinha para dizer, meu amigo, isso é só o básico do básico dentro da paternidade.

O dia que o homem conseguir lembrar de todas as vacinas que a criança precisa tomar ou cuidar sozinho de um recém nascido 24 horas por dia, 7 dias da semana, aí acho que pode bater no peito para falar qualquer coisa.

  1. Adora ganhar elogios por estar cuidando das crianças

Esse é clássico, mas nem é tanto culpa do pai, pois ele só estava lá na hora certa, ou melhor na hora errada.

Hoje, a sociedade em que vivemos vangloria o pai simplesmente por ele fazer o básico que um pai deveria fazer, isso significa que nossa régua de igualdade está bem lá embaixo.

  1. Cuida das crianças, mas não tem o telefone do pediatra ou da escola salvas no celular

Mês passado presenciei dentro de um espaço de brincar, o desespero de um pai ao perceber que seu filho havia sido picado por uma formiga. 

Talvez o menino fosse alérgico ou talvez fosse só uma picada, mas a questão é que a primeira coisa que ele fez foi ligar para alguém, adivinha quem?

Adivinhou quem disse a mãe, e adivinhou ainda mais se pensou: Acho que a mãe deve ter orientado (um a passo a passo) sobre o que o pai deveria fazer.

No final da história eu só ouço o pai dizendo: – Então me passa o telefone do pediatra.

  1. Não se preocupa em estudar sobre as milhares de formas de paternar

Na concepção do suposto “pai ativo” o cuidar da criança é algo natural e que não precisa de muito estudo, basta apenas dar amor e carinho, e se der alguma coisa errada sempre tem uma mãe na retaguarda para trazer as informações sobre essa tal de criação humanizada.

  1. Sempre quer dar sugestões a outras mães e pais sobre como cuidar dos filhos

Essa também é clássica, quantas vezes vocês já viram pais (homens) orientando outros pais sobre o que é a paternidade, principalmente para casais que estão gestando. 

Me lembro quando estava esperando minha primeira filha, um colega de trabalho ficava me dizendo tudo que eu deveria fazer depois que minha filha nascesse, entre elas as clássicas:

  • Dar banho na bebê depois que chegar em casa, afinal esse era meu momento.
  • Acordar de madrugada só para fazer o bebê arrotar (o restante era tudo função da mãe).
  • Não deixar a bebê me dominar (se chorar, deixa chorar um pouco que faz bem). 
  1. Não tem critérios sobre a alimentação das crianças

Minha alimentação mudou da água para o vinho depois que minha primeira filha nasceu, eu e minha companheira tínhamos um cuidado muito grande sobre os alimentos que ela iria consumir, mas a realidade global não é bem assim. Basta frequentar as praças de alimentação de shoppings para ver crianças de menos de 2 anos já consumindo refrigerantes e muitos doces, isso sem contar alimentos que são direcionados a adultos, como energéticos por exemplo. 

  1. Não se preocupa em ensinar os filhos sobre igualdade e equidade de gêneros

A preocupação em ensinar talvez seja muito complexo, afinal para ensinar precisa saber o que é, correto?

Hoje o suposto “pai ativo” se limita apenas a sua paternidade (não que isso seja ruim), porém se não ensinarmos aos nossos filhos(as) sobre igualdade e equidade de gêneros, teremos crianças que ainda vão acreditar que o papel do pai seja o de um cara que sempre tem ótimas brincadeiras e o da mãe de cuidadora, quem gerencia tudo e que é chata, pois não brinca igual ao pai.

  1. Usa autoritarismo ao invés de autoridade

Se o suposto “pai ativo” não tem muito interesse em estudar sobre assuntos relacionados à criação dos filhos, é muito provável que o diálogo seja limitado também.
Se o diálogo é limitado, como manter em ordem todo ambiente familiar?
O famoso “Eu mando e você faz”

  1. Adora usar o termo “pai ativo” ou “paternidade ativa” 

Já disse em vários posts que usava muito o termo “paternidade ativa”, até o momento que uma amiga me contestou que não existia o termo “maternidade ativa”,  desde então compreendi que em uma sociedade onde o patriarcado é dominante, usar o termo enfraquece anos de luta feminina por igualdade e continua dando privilégios aos homens somente por eles fazerem o papel de pai. O termo Paternidade Participativa também não deveria estar aí, já que a responsabilidade natural do pai é de participar dos cuidados da criação dos filhos, então é redundante esse termo.

O correto mesmo é usar: Paternidade Consciente ou Paternidade Responsável, termos que não enaltecem o homem simplesmente por fazer o papel de pai e criam a carga de responsabilidade necessária para a paternidade.

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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