Dizem que o melhor presente que podemos dar a um filho é um irmão. Eu sei, não há nada mais adorável que ver aqueles vídeos apresentando o bebê aos mais velhos. Antes de sentar para escrever, eu pesquisei bons motivos para se dar irmãos ao filho único, são vários, desde ensinar empatia e gentileza, até para se defenderem quando algum deles precisar. Esta parte é bem fofa, nos filmes romantizam bem. De mãos dadas com a esperança de que não nasça uma Raquel para sua Rute, decidimos partir para uma próxima gestação.
Pode ser que tenha realmente aquela reação linda diante do primeiro encontro, mas pode acontecer, como aqui em casa, com a menina brava ao descobrir que é um menino, não menina. Tem aqueles dias de brincadeiras, gargalhadas e correria gostosa em casa, mas tem também os dias em que tudo isso é depois das 23h e o mais velho ensina ao caçula como burlar o sistema. Os feriados, não vou mentir, são lindos. Exceto aquele da Páscoa – há uns dois anos que Samuel contou aos mais novos que não existe coelho e fez todo mundo chorar. Tá vendo? É uma montanha russa de sentimentos. Estou narrando isso na visão das mães, porém para a rotina ser mais leve, experimente, caso você tenha irmãos, lembrar de como era na infância. Eu me lembro bem, com vivacidade, como se tivesse sido ontem.
Ter irmãos é a coisa mais louca em uma família. Acontecem coisas que só quem compartilha da mesma configuração familiar pode entender. E quando digo que pé de irmão é tóxico, vai por mim, é. Lembro-me do meu irmão. A gente podia brincar de tudo, mesmo nos dias mais tranquilos, sentados no sofá assistindo a um filme, se um encostava o pé no outro, virava guerra. E é a mãe quem sofre. Antigamente, quando eu era a pessoa gritando “manhêêê”, não percebia o quanto deveria ser chato, numa crise de pés no sofá, ter o “nome” chamado um milhão de vezes:
– Manhêêê (quanto mais longo o “ê” mais séria a crise), – Pedro encostou o pé em mim!
Pedro é meu irmão mais novo. Sete anos nos separam e eu ainda me lembro como era ser a única filha mulher. Este é o problema: eu me lembro. Meus filhos não, sempre foram acompanhados. Quando estava grávida do Bernardo contei ao Samuel que ele teria alguém para jogar bola com ele. A gente sempre tem esperança de convencer o mais velho com esses papos furados.
Minha mãe, quando estava grávida do Pedro, me levou a uma maternidade que ela trabalhava e me mostrou os bebês. Lembro-me da doçura em sua voz, do cheirinho gostoso dos bebês. Fiquei muito contente com a chegada do bebê. Mas o que ela não me contou é que aquele bebê cresceria e depois colocaria o pé tóxico em mim. E faria muito mais: contaria nas festas de família o nome dos garotos que eu gostava, atenderia o telefone e diria para meu namorado que eu não estava em casa mesmo eu estando, caçoaria do meu gosto duvidoso para garotos, roupas e bandas, em qualquer competição escolheria o time contrário só para se fazer adversário e era chato, basicamente, era um chato.
Eu também, na sua perspectiva, deveria ser uma chata, afinal, não deixava por menos. Inventava ligações falsas da minha mãe com ordens descabidas, mandava ele à padaria sete vezes por dia só por capricho e claro, meu maior feito foi maquiá-lo enquanto dormia e depois acordá-lo para ir à mercearia da esquina, sem avisar da make. Sim, eu fiz isso. Sinto orgulho? Claro! Foi uma revanche de mestre, coisa de irmã mais velha profissional.
Hoje em dia, com meus filhos, fico brava e tento consertar coisas que não têm conserto. Irmãos, mesmo se amando muito pregarão peças uns aos outros. Eu sei que sempre tem um esperando que eu me distraia para fazer uma careta para o outro, as brigas silenciosas que meu ouvido apurado consegue captar, a implicância gratuita por motivos bobos. Porque apesar de amar uns aos outros, irmãos sempre serão assim e olha, no meu caso, eu confesso, essa rotina fez minha infância mais feliz.
LEIA TAMBÉM: