Resumo do estudo
- A partir de um “Índice de Parentalidade”, a pesquisa observou os principais fatores que afetam a vida de novos pais
- A pressão é considerada o maior desafio enfrentado pelos novos pais hoje, tanto as pressões internas sobre si mesmos quanto as pressões externas do mundo ao seu redor
- Diferentemente do que se pensava, a pandemia da covid-19 reduziu a pressão social sobre os novos pais e proporcionou mais suporte mútuo durante a pandemia de Covid-19
- Num ranking de 16 países, Brasil ficou em penúltimo lugar, demonstrando grande dificuldade dos pais em criar seus filhos
- Suécia, Chile e Alemanha são os lugares mais fáceis para criar um bebê hoje
Ter um filho é uma das experiências mais maravilhosas que alguém pode ter. Para muitos, é a realização de um sonho. Mas para além da satisfação e alegria, há também muitos desafios envolvidos na parentalidade. Para saber mais sobre essas experiências e como os pais lidam com elas, uma pesquisa inédita, recém-divulgada, ouviu 8.000 mães e pais de bebês de zero a 12 meses, em 16 países, inclusive o Brasil. O estudo elaborou um “Índice de Parentalidade” composto por 11 fatores relacionados à criação dos filhos. Entre eles, ausência de pressão, resiliência financeira, apoios para a vida profissional, bebê de temperamento fácil, recursos de saúde e bem-estar, ambiente de apoio, parentalidade compartilhada, confiança dos pais e licença-maternidade paga, PIB per capita e gini reverso.
Encomendado pela Nestlé e feito em parceria com a empresa de pesquisa de mercado Kantar, o estudo identifica pela primeira vez os fatores universais que impactam a parentalidade em todo o mundo.
O principal deles, de acordo com o estudo, é a pressão, algo sobre o qual os novos pais têm pouco controle, mas de grande impacto em suas vidas: metade dos genitores ouvidos sente uma intensa pressão social sobre como criar seus filhos, e isso vem especialmente das redes sociais.
“Os pais de hoje são cada vez mais pais em estado de ansiedade. Influenciados pela mídia juntamente com os avanços da tecnologia, muitos pais de diferentes culturas e classes sociais e econômicas se sentem pressionados a fazer tudo”, relata a revisora da metodologia e dos resultados da pesquisa, Dra. Ming Cui, professora de Família e Ciências da Criança na Universidade Estadual da Flórida (EUA).
É o caso do brasileiro Ulysses, pai de “primeira viagem”, um dos participantes do estudo. “É bom os nossos pais e amigos que moram longe verem fotos incríveis de nossa filha. Normalmente as pessoas comentam coisas realmente positivas, mas às vezes elas começam a nos criticar e tentam nos colocar para baixo”, diz.
Se sentir julgado por terceiros e ouvir conselhos não solicitados também são aspectos destacados pelo estudo. “Somos os reis e as rainhas de cuidar da vida alheia. É muito normal estar na rua caminhando com seu filho, e caso as pessoas acharem que você não o está segurando direito, ou que há algo errado, goste ou não – elas vão lhe dizer!”, comentou a nigeriana Cynthia, mãe de três filhos.
“O ‘Índice de Parentalidade’ é um primeiro passo importante para enriquecer a nossa compreensão das complexidades da parentalidade hoje – e o que pode ser feito para ajudar”, afirmou Thierry Philardeau, head da Nestlé Nutrition.
Para um terço dos novos pais, a pressão se materializa como solidão, e também aparece nas realidades inesperadas da parentalidade e na culpa causada pela autocrítica. Abaixo, veja o quanto esses sentimentos afligem os pais, segundo o “Índice de Parentalidade”.
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Os principais fatores que afetam os pais:
Sentimentos levantados pelo “Índice de Parentalidade”
• Solidão em um mundo hiperconectado: 32% dos novos pais e mães dizem que, apesar de viverem em um mundo onde amigos e família estão a apenas uma mensagem de texto, é fácil se sentirem isolados e solitários com um bebê nos braços.
• Pressão social: globalmente, metade (51%) dos novos pais e mães pesquisados sentem uma intensa pressão social sobre como criar seus filhos, e hoje isso vem, em geral, das redes sociais.
• Culpa dos pais: 45% dos entrevistados concordaram que os novos pais e mães sentem muita culpa, o que pode ter um impacto duradouro em suas relações parentais.
• As realidades inesperadas da parentalidade: quase um terço (31%) relatou sentir-se despreparado para a realidade de se tornar pai ou mãe, e 53% teve que fazer mais concessões do que o esperado.
• Aconselhamento não solicitado, ou o “palpite alheio”: 60% dos entrevistados relatam que sentem que todos têm uma opinião sobre como criar seus filhos, quer queiram ouvir ou não.
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Pais brasileiros têm mais dificuldade na criação dos filhos
A maneira como os pais percebem a “facilidade da parentalidade” determina a posição de cada um dos 16 países no “Índice de Parentalidade”. O Brasil aparece na penúltima posição desse ranking, mostrando uma grande dificuldade em lidar com a experiência de criar filhos, devido a fatores coletivos e individuais: pressões sociais, condições econômicas e de trabalho, acesso à saúde e informações, por exemplo.
Filipinas e Arábia Saudita também estão entre os países em que a pressão dos pais é sentida de forma particularmente forte. Já Suécia, Alemanha e Chile oferecem os ambientes mais fáceis para se tornar um novo pai ou mãe atualmente.
Mas, embora o nível de dificuldade varie de acordo com o país, o estudo mostra que não há lugar perfeito para se criar uma família, e mesmo na Suécia – que tem a classificação mais alta, os novos pais enfrentam desafios, sendo a falta de confiança a maior preocupação entre os pais suecos.
Veja abaixo os resultados do “Índice de Parentalidade” com os pais brasileiros:
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A importância de investir no próprio bem-estar
A revisora do estudo, Dra. Ming Cui, ressalta que embora a ênfase frequentemente esteja em sermos receptivos e responsáveis como pais de bebês, as mães e pais também devem perceber que o seu próprio bem-estar é importante no processo de criação dos filhos. “A criação de bebês, com demandas aceleradas e estresse, pode prejudicar os pais em termos financeiros, emocionais e físicos”, diz Ming. Ela afirma que para promover uma parentalidade positiva e, em última análise, o desenvolvimento saudável dos filhos, os pais não devem ignorar o seu próprio bem-estar e devem cuidar de si mesmos, como, por exemplo, deixando espaços vazios em sua agenda e fazendo uma pausa”.
A pressão social diminuiu durante a Covid-19
Embora o esperado fosse que os pais se sentissem mais pressionados por causa da pandemia do coronavírus, não foi o que o “Índice de Parentalidade” demonstrou. Nos EUA, Espanha e China, quando a pandemia teve a primeira onda em julho de 2020, pais com bebês relataram sentir menos pressão social sobre como criar seus filhos durante este período. Em vez disso, os novos pais e mães relataram sentir maior apoio mútuo neste momento – incluindo maior coesão social e um sentimento de pertencimento.
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