O surgimento de um surto infeccioso na Índia, que está sendo chamado de gripe do tomate ou febre do tomate, tem deixado muitos pais preocupados, por ser uma doença contagiosa e que acomete principalmente os menores de 5 anos de idade. Seu nome está relacionado à erupção de bolhas vermelhas por todo o corpo, que chegam ao tamanho de um tomate.
Segundo um artigo publicado pela revista científica The Lancet, na quarta-feira (17), trata-se de uma infecção viral rara que já atingiu 108 crianças em três estados indianos. O estudo afirma que embora o vírus da gripe do tomate tenha sintomas semelhantes aos do Covid-19 ‒ ambos estão inicialmente associados a febre, fadiga e dores no corpo, e alguns pacientes com Covid-19 também relatam erupções na pele ‒, o vírus do tomate não está relacionado ao SARS- CoV-2 (síndrome respiratória aguda grave).
De acordo com o artigo, a gripe do tomate pode ser um efeito posterior da chikungunya ou da dengue em crianças, em vez de uma infecção viral. A publicação diz ainda que o vírus também pode ser uma nova variante da doença viral da mão-pé-boca, uma condição infecciosa comum, que atinge principalmente crianças de 1 a 5 anos e adultos imunocomprometidos, causada pelo vírus Coxsackie, que provoca pequenas bolhas em diversas partes do corpo.
Para o pediatra Flávio Melo, é um equívoco dizer que a gripe do tomate é um novo vírus. Em post sobre o assunto em suas redes sociais, ele diz que faltou, por parte do estudo divulgado no The Lancet, uma identificação viral apropriada que confirmasse a existência de um novo vírus. Melo cita pesquisa do The Pediatric Infectious Disease Journal, publicada na sexta-feira (19) e realizada no Reino Unido, em que foram feitos estudos virológicos em duas crianças que retornaram da Índia, com quadro característico à gripe do tomate. A análise constatou a presença do vírus Coxsackie, causador da doença mão-pé-boca. Para Melo, trata-se de “uma possível manifestação mais severa ou atípica de uma doença (mão-pé-boca) que é comum em crianças”.
Sintomas e tratamento
Com base nas informações levantadas no surto ocorrido na Índia, a investigação do The Lancet destaca que as crianças são as que correm maior risco de exposição à doença, pois as infecções virais são comuns nessa faixa etária e é provável que a disseminação ocorra por meio de contato próximo e/ou através do uso de fraldas, ao tocar superfícies sujas ou levar à boca objetos contaminados.
Entre os sintomas da chamada gripe do tomate, além das bolhas no corpo, podem ocorrer febre alta e dor intensa nas articulações. Há ainda quadros de fadiga, náuseas, vômitos, diarreia, desidratação e dores no corpo.
O estudo explica que nas crianças com sintomas são realizados exames moleculares e sorológicos para eliminar o diagnóstico de dengue, chikungunya, zika vírus, varicela-zoster e herpes. Se descartadas essas infecções virais, a contração do vírus do tomate é confirmada.
A recomendação do estudo é manter a criança isolada, em descanso e com ingestão de bastante líquido. O isolamento deve ser seguido por 5 a 7 dias a partir do início dos sintomas para evitar a disseminação da infecção para outras crianças ou mesmo adultos. Uma esponja de água quente ajuda a aliviar irritações e erupções cutâneas. Em alguns casos, a partir de recomendação médica, pode ser necessário o uso de paracetamol para febre e dor no corpo. É importante também evitar compartilhar com outras pessoas brinquedos, roupas, alimentos e itens da criança infectada.
Os pesquisadores definem a gripe do tomate como uma doença autolimitada, que desaparece sozinha, e destacam que, por enquanto, não existem medicamentos específicos para tratá-la ou vacinas antivirais disponíveis para a prevenção.
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