Se a mãe decidiu mandar o filho para a escola, logo é vista como aquela que usa a escola como depósito de criança. Se decidiu não mandar, é porque não está pensando na saúde mental do filho. Quando o assunto é a volta às aulas, a polêmica entre as mães costuma ser grande.
Há uma tendência a criticar a decisão das outras famílias, mas tem certo e errado nisso tudo? Não, não tem. A mãe que tem medo do coronavírus e prefere manter os filhos em casa fazendo aula on-line está certa. A mãe que confiou na escola e decidiu mandar os filhos também esta certa.
Sabe o que está errado? Não priorizar a vacinação dos profissionais da educação. Não equipar as escolas públicas para que recebam os alunos com segurança. Não valorizar a educação e considerá-la serviço essencial.
Errado é adulto viver como se não existisse pandemia e deixar as crianças trancadas em casa.
Errado é aglomerar no bar, aglomerar na praia, sair sem máscara. Errado é adulto viver como se não existisse pandemia e deixar as crianças trancadas em casa.
Aqui em São Paulo as aulas voltaram em 2021, num formato híbrido, com 35% dos alunos no presencial e o restante em casa, on-line. A escola do meu filho adotou um formato que achei muito bom, as turmas foram separadas em três grupos, A, B e C. Cada grupo vai à escola por uma semana e depois passa duas semanas em casa. Os pais decidem se os filhos vão no presencial ou não. A decisão é da família.
Esse formato, uma semana na escola e duas em casa é bom porque todos têm 14 dias de isolamento antes de voltar com segurança à escola. Claro que há um pacto coletivo, quem vai à escola não deve ficar passeando e encontrando pessoas em outros lugares. Caso um aluno tenha sintomas na semana que esta indo à escola, o grupo todo volta para casa.
Para alunos que vão à aula presencial, existe um check-list diário que tem que ser feito pelo site do colégio antes de chegar na escola, criança com qualquer sintoma não pode ir. As salas de aula ficam com todas as janelas abertas e há distanciamento entre as carteiras. Os alunos que estão em casa assistem àquela aula que está sendo dada no presencial. A aula é transmitida ao vivo e os alunos que estão em casa também interagem, quem está na sala vê quem está em casa numa tela.
O lanche é feito no pátio que é aberto e muito ventilado. As crianças têm que levar máscaras para trocar. Elas já inventaram um cumprimento com os pés porque sabem que não pode ter abraço, nem mesmo aperto de mãos. Mas o olho no olho tem muito valor.
Para os alunos, essa possibilidade de encontrar os colegas, de conhecer pessoalmente os professores, de estar naquele espaço longe dos pais, é muito mais motivador do que estar do outro lado da tela. Uma alegria que não se mede depois de quase um ano sem essa convivência. O aprendizado em casa, na frente de um computador não é o mesmo. Escola faz muita falta na vida de qualquer criança.
Vamos nos julgar menos e nos apoiar mais. Cada família tem suas demandas, cada criança tem suas necessidades e suas limitações. Coronavirus está matando, é muito sério, tem que ser levado a sério, mas precisamos aprender a conviver com ele, até que todos estejamos vacinados. Infelizmente a vacina pode demorar muito para muitas pessoas e a infância não espera. Faça sua escolha em ralação à volta às aulas presenciais, mas respeite quem fez uma escolha diferente da sua.
Errado não é reabrir escola, errado é deixar nossos filhos continuarem sendo invisíveis ao poder público. Essas pessoinhas são o futuro de um país que não cuida deles no presente. Nosso papel é lutar pelo bem deles.
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