Por Priscila Carvalho, da Agência Einstein – Crianças com renda mais baixa e de grupos étnicos minoritários foram psicologicamente mais afetadas pelo fechamento das escolas durante a pandemia de covid-19, segundo um estudo americano publicado no periódico Journal of the American Medical Association (Jama).
Os cientistas queriam investigar o impacto do isolamento e das aulas à distância na saúde mental de crianças e adolescentes. Eles observaram que negros, hispânicos e mais pobres tiveram efeitos negativos mais intensos em comparação com jovens brancos e com maior renda.
Os dados foram obtidos a partir de entrevistas com 2 324 adultos que tinham pelo menos uma criança dentro de casa. O trabalho mostrou que um terço dos pais ou responsáveis relataram que os filhos estavam mais tristes, deprimidos ou solitários desde o início da pandemia.
Os pesquisadores analisaram a renda de cada família que participou da pesquisa: ela foi medida em 18 categorias, que variavam de menos de 5 mil dólares a mais de 200 mil dólares por ano. Ao analisar os resultados, os especialistas descobriram que não frequentar o ambiente escolar presencialmente desfavorecia mais os estudantes de baixa renda, refletindo na piora da saúde mental.
O estudo também confirmou que as limitações tecnológicas são mais comuns em famílias de renda baixa, acentuando a desigualdade que já existia antes da pandemia. “Muitos não tiveram uma escolarização significativa nesses dois anos”, afirma Andrea Lunardelli Valente, psicóloga do Serviço de Apoio Psicopedagógico da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Ela diz que também notou um aumento de transtornos mentais entre as crianças durante o período de ensino à distância. Entre os mais comuns estão a ansiedade, depressão e a síndrome do pânico. “Ensino remoto em combinação com contexto pandêmico afeta a vida de diversas maneiras”, resume.
E há uma diferença na manifestação dos sintomas na fase infantil e na puberdade. Nas crianças, por exemplo, sinais depressivos e de ansiedade generalizada podem surgir por meio de inquietude e irritabilidade. Já os adolescentes se isolam e ficam mais agressivos, como destaca a psicóloga Camilla Pereira Alves, especialista em psiquiatria e saúde mental pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Outras doenças também vem exibindo um aumento relacionado ao isolamento. “Muitas crianças estão com sobrepeso ou com falta de vitaminas porque não tomam sol”, destaca Andrea.