Esqui, o céu na terra

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    EsquiQuando me perguntam qual o melhor esporte do mundo, não hesito: esqui de montanha. Algumas pessoas torcem o nariz, acham esnobação. Se elas deslizassem, porém, encosta abaixo pela neve, concordariam comigo. O esqui me livra da gravidade, tal a leveza que o corpo adquire. Quanto mais embalado, mais pareço flutuar. Sensação de gravidade lunar. Vivo um breve momento de pássaro. Sem asas. Na terra.

    Há quem me lembre da outra gravidade, a do tombo. Bem, é uma possibilidade. Inevitável, à medida que se adquire confiança nas pernas. No entanto, já caí tantas vezes que o tombo faz parte da diversão. Inclusive a vez em que, depois de uma pirueta no ar, acabei com a cara enterrada na brancura macia. A saída é levantar, sacudir os ossos e voltar ao prazer. Jamais me machuquei.

    O esqui produz, também, uma espécie de meditação transcendental. Os movimentos são tão rápidos e sucessivos que o cérebro não tem tempo de pensar neles — e se desliga. O resultado é um mantra mudo: o mantra do movimento. O efeito, contudo, lembra a meditação. A leveza do corpo se transfere para a cabeça, e o bem-estar me invade. Ao fim do dia, mesmo cansado, sou pura euforia. Já me disseram que é efeito da endorfina. Endorfina ou meditação, não importa. O esqui me leva ao paraíso.

    Comentam que o esqui é muito caro. De fato, é mais barato ir para Ouro Preto. Mas, se compararmos com as férias num resort do Nordeste, a desvantagem desaparece. Uma semana em algumas estações da Argentina ou Chile custa menos que o mesmo período em certas praias de Pernambuco ou Ceará. Dê uma conferida.

    Engana-se quem acha que apenas os adultos gostam do esqui. Equívoco total. A garotada é quem mais se diverte. A novidade se entranha nas crianças com muita facilidade. Num dia dominam a técnica, no dia seguinte acompanham os pais nas descidas íngremes. Falo de minha própria experiência. Meus filhos se tornaram, desde pequenos, meus parceiros e, montanha abaixo, aprendemos a ser mais solidários um com o outro. Um deles chegou ao cúmulo de, aos 7 ou 8 anos, descer ao meu lado para me socorrer, caso eu caísse na pista. Ele não acreditava que eu chegasse inteiro até o fundo do vale.

    Milhares de brasileiros, sobretudo jovens, se apaixonaram pelo esporte. Descobriram que, para viver a liberdade total, basta deixar-se levar pela gravidade e pela neve. A sensação é paradisíaca. Afinal, o esqui é o céu na terra.

     

    Luís Giffoni

    LUÍS GIFFONI

    é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos.

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