Por Elis Simões – Atualmente vivemos em um mundo atribulado, com nossas demandas diárias divididas em várias facetas, e, com isso, há uma forte aceleração do nosso próprio tempo. Isso é passado de geração em geração, e cada vez mais vemos nossas crianças com uma série de atividades dentro e fora da escola.
A criança muitas vezes deve dar conta de uma rotina extremamente acelerada, e isso acaba por desvenerar sua própria infância. Precisamos estar em constante atenção para não atropelar esse tempo-espaço tão precioso, momento este do desencadear e do desabrochar de potências individuais. Como podemos nos sensibilizar e estar disponíveis para pensar sobre isso? É necessário que se valorizem a liberdade e o brincar da criança, onde ela possa se transformar, ressignificar e aprender de acordo com sua própria essência. O universo infantil é cheio de riqueza e de possibilidades, e é preciso que deixemos nossos filhos explorarem o mundo com sua própria sabedoria.
Através do brincar livre, a criança entra em contato com papéis simbólicos, com seu próprio corpo e com o outro. Ela busca soluções, se articula diante de materiais e espaços e contempla as grandes miudezas encontradas pelo caminho. A brincadeira é capaz de valorizar o protagonismo individual e a oportunidade de a criança ser o que ela é. Ela precisa viver o ócio, podendo decidir por si mesma a forma, o tempo e o que ela quer brincar e experimentar. Brincando, ela aprende a se escutar e a entrar em contato consigo mesma sobre suas escolhas, dificuldades e objetivos e, assim, é capaz de articular possibilidades de solução dentro dessa esfera de forma lúdica.
“A brincadeira é capaz de valorizar
o protagonismo individual e a
oportunidade de a criança ser o que ela é”
O brincar livre promove a construção das subjetividades e permite o encontro consigo mesmo, ou seja, a partir do desejo, a criança configura suas ações e as realiza diante do mundo, encontrando contorno e clareza de como funcionam regras sociais e desmistificando, assim, questões do seu contexto e entorno.
Há uma ilusão de que o preenchimento do tempo da criança corresponde a certa qualidade. Então, paremos para realizar alguns questionamentos. Em quais espaços percebemos que essa brincadeira realmente é privilegiada? Em que momentos? Conseguimos estar num lugar da observação desse processo?
A brincadeira livre tem um valor inestimável no âmbito do desenvolvimento infantil, pois ela caracteriza-se como ação experimental, sem imposições, restrições ou julgamentos; é simplesmente o exercício de “ser criança”. Nossos filhos não estão precisando de estímulos externos e orientações, eles precisam de espaço e tempo para exercer suas possibilidades e desejos.