Crianças de até 8 anos estão usando as redes sociais mais do que nunca, aponta estudo

Estudo feito nos EUA aponta que uso das telas e redes sociais por crianças de até 8 anos aumentou 17% no dois últimos anos; especialistas alertam sobre riscos do uso excessivo das telas e dizem que é importante pensarmos sobre as coisas que as crianças estão deixando de fazer na infância

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Crianças usando o celular, sorrindo e se divertindo
Pré-adolescentes e adolescentes passam de 5 a quase 9 horas por dia nas telas: especialistas alertam sobre os riscos do uso excessivo de telas na infância
Buscador de educadores parentais
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Segundo estudo realizado pela Common Sense Media, organização de pesquisa norte-americana sem fins lucrativos, crianças e adolescentes nos Estados Unidos estão gastando mais tempo do que nunca em frente às telas, assistindo a vídeos e navegando em redes sociais. A pandemia foi um dos fatores determinantes para que os números crescessem de maneira tão alarmante nos últimos dois anos, em conjunto com a falta de supervisão de responsáveis. 

O estudo, divulgado em reportagem do New York Times, aponta que o uso geral de telas entre adolescentes e pré-adolescentes aumentou 17% entre 2019 e 2021 – crescendo mais rapidamente que nos 4 anos anteriores. O uso diário entre os pré-adolescentes, de 8 a 12 anos, passou de 4 horas e 44 minutos para 5 horas e 33 minutos. Já entre os adolescentes, de 13 a 18 anos, o uso passou de 7 horas e 22 minutos para 8 horas e 39 minutos. 

Segundo especialistas ouvidos na reportagem, os resultados apontados são um reflexo das dificuldades enfrentadas pelas famílias com relação à escola, cuidados infantis e interação social, durante a pandemia. A principal preocupação apontada diz respeito às plataformas em que os menores navegam durante suas horas on-line. O aumento do tempo de tela entre os pré-adolescentes se dá pela maior presença dos menores em redes sociais como Snapchat, Instagram e Facebook, ainda que exista uma lei que proíba o acesso de menores de 13 anos a tais plataformas. 

Em entrevista ao Jornal The New York Times (leia a integra da reportagem), Diana Graber, fundadora do Cyberwise, site que tem como objetivo ajudar jovens a usarem  tecnologia com segurança, afirma que os dados revelados pelo estudo “não a surpreendem”. Diana aponta que na pandemia as crianças passaram a usar as telas com o objetivo de se entreterem e interagirem com os amigos, já que muitas não tinham acesso a atividades e interações presenciais. Ela ainda adiciona: “O grande número de crianças usando redes sociais, ainda tão novas, me fazem querer chorar. As redes sociais não foram projetadas para crianças”.

A preocupação dos especialistas não está propriamente ligada ao tempo que os menores passam em frente às telas, e sim ao tempo gasto navegando em redes sociais. “Quando as crianças estão usando as telas para se comunicarem com seus amigos, principalmente durante a pandemia, isso é bom”, completa. 

Uma nova pesquisa realizada pela organização, entre indivíduos de 8 a 18 anos, aponta que os jovens, em sua maioria, gastam apenas 20 minutos on-line interagindo e se comunicando com os amigos. Enquanto esse período parece relativamente pequeno, a maioria dos indivíduos da pesquisa relataram gastar mais de três horas diárias assistindo vídeos e duas horas diárias jogando on-line. 

Impacto nas famílias de baixa renda

Embora o aumento do tempo em frente às telas tenha ocorrido em todos os setores, as crianças de famílias de baixa renda foram as mais afetadas, destaca o estudo. Segundo Devorah Heitner, autora do livro “Screenwise: ajudando as crianças a prosperar (e sobreviver) em seu mundo digital”, esses menores tiveram menos acesso a atividades extracurriculares durante a pandemia, o que fez com que ficassem mais ociosos, utilizando as redes por mais tempo. 

“Como os trabalhadores com baixos salários também eram mais propensos do que outros trabalhadores a serem obrigados a trabalhar pessoalmente, os pais dessas famílias podem ter ficado menos em casa, o que significava que “seus filhos foram deixados mais à própria sorte”, por assim dizer”, acrescenta Diana Graber. 

Preocupações dos especialistas

É importante considerar o que as crianças deixam de fazer por passarem tanto tempo nas telas. “Você se preocupa se estão substituindo atividades como dormir, tempo para a família, leitura, tarefas – outras coisas que são positivas para as crianças”, disse Heitner. “Isso é definitivamente uma preocupação real.”

A pesquisa descobriu que 64% dos pré-adolescentes relataram assistir a vídeos online todos os dias e 65% relataram assistir a programas de TV todos os dias. Entre os pré-adolescentes, 38% dos entrevistados disseram que usavam mídias sociais, um aumento de 31% em comparação com os índices de 2019.

“É preocupante que crianças com menos de 13 anos estejam usando as mídias sociais. As plataformas de mídia social geralmente incluem conteúdo gráfico e assustador que as crianças pequenas não estão prontas para ver. Acessei o TikTok esta manhã e as imagens ao vivo da guerra na Ucrânia estão em todo o aplicativo”, disse Graber. 

As crianças podem se deparar com pornografia, imagens de automutilação ou postagens que promovam a alimentação desordenada, acrescentou Heitner. Até mesmo o Roblox, que muitos jovens usam, teve problemas recentemente com conteúdo explícito.

Por acessarem as plataformas com conteúdos adultos tão precocemente, as crianças não têm discernimento para entender aquilo que é real e falso. A desinformação é uma verdadeira ameaça. “Uma criança pequena não tem ideia do que é real e do que é falso. Elas podem cair nessa toca de coelho de desinformação e encontrar um mundo muito confuso. O YouTube, em particular, tem um algoritmo preocupante, que foi projetado para expor os espectadores a conteúdos de longa duração”, afirma Graber. 

O que os pais podem fazer

Um exercício que Graber faz com seus alunos de alfabetização digital – e que os pais também podem tentar em casa – é pedir às crianças que analisem como passam o tempo ao longo de um único dia. Muitas vezes, “eles ficam meio surpresos com o tempo que passam nas telas”, disse ela.

Em seguida, ela pede que eles criem uma lista de 25 coisas que fariam se as telas não existissem e, em seguida, sugere que tirem 24 horas de férias das telas, incentivando-os a realizar algumas tarefas da lista de desejos durante esse período.

“Acredite ou não, eles geralmente voltam na semana seguinte e dizem: `Sabe de uma coisa, isso foi bom´”, conta Graber. A nova pesquisa da Common Sense Media descobriu que apenas 34% dos adolescentes disseram que gostavam de usar as mídias sociais “muito”, então muitos adolescentes já têm reservas sobre isso e podem dar boas-vindas à pausa, observou ela.

Os pais também podem criar acordos de tecnologia com seus filhos, disse Graber. O acordo pode ser recheado de regras, incluindo quando e onde as crianças podem usar as telas e por quanto tempo. As crianças mais novas podem assistir ao YouTube apenas quando um dos pais estiver na sala com elas, por exemplo.

“Para muitas crianças, isso será um bom alerta – ‘Oh, talvez eu não vá clicar na coisa nojenta porque minha mãe está bem ali”’, disse Heitner. Quando crianças mais novas usam telas sozinhas, os pais podem limitar seu uso a aplicativos que os adultos podem controlar mais facilmente, como Netflix ou Disney+.

O mais importante é que os pais conversem regularmente com seus filhos sobre telas e mídias sociais. Perguntem a seus filhos sobre quais influenciadores do YouTube eles gostam e por quê, sugeriu Graber – ou, se estiverem em outras plataformas, perguntem o que estão vendo e o que acham interessante.

Os pais devem explicar a importância da privacidade. “Também pode ser útil discutir a natureza performativa das mídias sociais para que as crianças entendam que as pessoas “postam quando estão se divertindo muito, ou quando estão tendo um dia de cabelo muito bom, e isso não reflete necessariamente sua constante realidade vivida”, reforça Heitner. 

Sempre que possível, os pais devem tentar usar telas com seus filhos também. Quando os adultos usam plataformas com seus filhos, eles têm a oportunidade de compartilhar seus valores e expectativas. “Fique online com eles e faça perguntas, seja curioso e tente não julgar”, disse Graber. “Assim como você fica de olho neles na esquina ou no parque, você fica de olho neles online.”


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