Você conhece alguém que não gosta de entrar em conflitos?
Pois é, o tema de hoje é sobre uma situação que muitos não gostam de falar ou de se envolver (eu fui uma dessas pessoas por muito tempo).
Mas antes de nos aprofundarmos no porquê disso, vale entender melhor o que é um conflito.
Muitas pessoas interpretam os conflitos como brigas e discussões, porém segundo o Wikipedia conflito é:
“Quando há um assunto de interesse comum entre duas ou mais pessoas, que venham a ter opiniões divergentes sobre esse tema e que não conseguem lidar com as diferentes opiniões apresentadas.”
Resumindo, conflitos são pontos de vista diferentes de um mesmo assunto, ideias ou pensamentos.
Os conflitos fazem parte da natureza humana, porém muitos de nós crescemos com o ensinamento de evitar conflitos, por exemplo:
- Um pai ou uma mãe está com o seu bebê em um espaço de brincar, de repente chega um outro bebê e pega o brinquedo que seu bebê estava brincando. Qual é a reação da maioria dos pais?
“Empresta para ele, agora é a vez dele brincar”
Há também quem cresce com o ensinamento de encarar o conflito de forma muito violenta, por exemplo:
- Seu filho apanhou de um menino na escola, qual é a reação de alguns pais?
“Você bateu nele? Precisa bater se quiser ser homem!”
Nenhuma das duas opções acima mostra realmente uma forma inteligente de lidar com o conflito, pois negligenciá-lo não é bom e utilizar violência para lidar com esse tipo de situação tampouco.
Então como podemos lidar com os conflitos de uma forma que consigamos criar conexões e melhorar nossa forma de resolver problemas?
Vou citar alguns pontos que acredito serem interessantes e que são baseados nos ensinamentos da CNV (Comunicação Não Violenta).
Conflito como forma de presente
Na CNV dizemos que os conflitos são uma forma de presente que a vida nos dá, pois como já havia dito em alguns parágrafos acima, conflitos são pontos de vista diferentes de um mesmo assunto, ideias ou pensamentos.
Se os pontos de vista diferentes existem é sinal que existe também diversidade, existem pessoas que pensam diferente de mim e de você e são essas diferenças que nos fazem movimentar, nos fazem criar, nos fazem transformar!
As necessidades não atendidas causam os atritos
Como havia comentado anteriormente, os conflitos não são os causadores de atritos dentro de uma relação, mas as necessidades não atendidas podem criar esses atritos.
Segundo a CNV a violência se manifesta com mais evidência quando alguma das partes tem sua necessidade não atendida.
Abaixo uma pequena lista das necessidades humanas básicas:
- Saúde
- Segurança
- Descanso e diversão
- Cuidado
- Compreensão
- Comunicação
- Pertencimento
- Liberdade
- Criatividade
- Contribuição
Quando algumas dessas necessidades acima são incompreendidas dentro de nós mesmos ou pelo outro (marido, esposa, filhos, parentes, amigos, etc.), pode-se gerar um um conflito um pouco mais difícil de se lidar.
Responsabilidade como forma de autorregulação
Já entendemos que os conflitos não são os responsáveis pelos atritos dentro de uma relação, mas sim as necessidades não atendidas, agora vamos entender que as necessidades não atendidas são diferentes para cada ser humano.
Isso quer dizer que cada ser humano tem uma necessidade diferente para cada momento da vida, ou seja, se em determinado momento da minha vida estou com uma necessidade de cuidado e minha companheira tem uma necessidade de liberdade as necessidades são diferentes.
Porém devemos sempre lembrar que as necessidades de cada um não são de responsabilidade do outro, ou seja, o outro não tem a obrigação de suprir suas necessidades, caso ele(a) não queira ou não consiga dentro daquele determinado momento da vida.
A responsabilidade das suas necessidades não atendidas deve ser sempre sua e não se pode colocar essa responsabilidade nas costas do outro.
Isso é um erro clássico que muitos relacionamentos carregam, muitos casais colocam o peso da sua necessidade não atendida no outro. Segue um exemplo que pode expressar isso:
Um homem se relaciona com uma mulher e na fase do namoro ele percebe que a sua namorada sempre o incentiva a enfrentar seus medos, isso lhe agrada muito e supre uma necessidade de cuidado e atenção.
Eles se casam e ela continua o incentivando a enfrentar seus medos, pois ela acredita que ele consegue. Chega a gravidez e com ela a maternidade/paternidade, o incentivo não é mais o mesmo, nem preciso explicar o porquê. Então chega o bebê, e o incentivo desaparece, porém no seu interior a mulher ainda deseja que o marido consiga lidar com seus medos, mas o marido agora está só, ele sente que os cuidados que antes recebia agora estão direcionados para o bebê. Neste momento, a necessidade do marido começa a não ser mais atendida e ele começa a cobrar a esposa por não estar mais incentivando-o.
O relacionamento não é mais o mesmo e os conflitos podem se acirrar e mesmo se tornar mais violentos.
No exemplo acima, o homem não conseguiu enxergar que a responsabilidade de lidar com seus medos era exclusivamente dele, direcionando essa responsabilidade à esposa.
Expressar o que sente nem sempre é a melhor forma de comunicação
O homem do exemplo acima passou quase uma vida inteira tentando lidar com seus medos, inclusive fazendo terapias.
Em uma das sessões da terapia ele aprendeu que falar sobre seus sentimentos fazia bem para ele, porém uma coisa que ele não percebia é que nem sempre falar sobre seus sentimentos é uma boa estratégia de comunicação, principalmente quando a pessoa acredita que o outro seja responsável por seus sentimentos, criando assim uma cobrança na outra pessoa que não é real.
Na história acima o homem conseguia falar sobre seus sentimentos, porém em quase todos os momentos ele cobrava a esposa por se sentir sozinho e sem apoio, mas nunca perguntando e tentando entender o que ela estava sentindo.
Escuta ativa como forma de conexão assertiva
A Comunicação Não Violenta fala bastante sobre como podemos criar conexões para um diálogo fluido. Talvez a escuta ativa seja um ótimo caminho para gerar essas conexões.
A escuta ativa é um caminho que tomamos dentro do nosso conhecimento em CNV para que possamos tentar criar conexões verdadeiras para um diálogo, ou seja, antes de começarmos a falar, falar e falar, devemos primeiro aprender a ouvir, ouvir e ouvir.
Mas escutar com o coração e não com um muro o que a outra pessoa está dizendo (principalmente se ela está descarregando toda sua necessidade não atendida sobre nós) é um desafio e tanto. Então, para que possamos mudar a chave dentro da nossa cabeça sobre tudo que aprendemos em relação aos conflitos durante nossa vida, vamos começar a praticar a escuta ativa de coração com a pessoa que mais entende a gente.
Sim, nós mesmos!
Saber escutar primeiro o que nosso coração tem para nos falar é um ótimo caminho para começarmos a escutar o que as outras pessoas têm para falar.
Se importar com a dor do outro gera empatia
Na história acima a esposa se importava com o que o marido estava sentindo, só não conseguia e nem queria ter a responsabilidade de suprir suas necessidades não atendidas.
A base dos ensinamentos da CNV é o entendimento sobre a empatia. Muitos dizem que empatia é sentir o que o outro sente, mas não é bem assim.
Eu nunca vou sentir a dor de um parto por exemplo e nem cólicas menstruais pois eu não tenho útero, mas posso me conectar através da necessidade não atendida (a qual gera uma dor), me importando com o que a outra pessoa está sentindo.
Lembram que cada pessoa tem uma necessidade não atendida diferente da outra?
O segredo da real empatia é perguntar para si mesmo, o quanto eu me importo com a necessidade não atendida do outro.
Espero que o conteúdo deste texto tenha esclarecido um pouco sobre como podemos lidar melhor com os conflitos do dia a dia.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
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