Já pararam para pensar que vocês nunca conheceram a versão dos seus pais antes de eles se tornarem pais? Sabem dizer o que eles sentiam, desejavam, amavam ou mesmo o que eles sonhavam?
Pois é, já vou adiantando que o texto de hoje pode dar um nó na cabeça de muita gente e um certo desconforto, pois ele leva a um lugar não convencional.
Começo apresentando alguns dados estatísticos, que serão úteis para o desenrolar dos pensamentos.
Segundo dados do IBGE, em 1980, cada família tinha em média 3 a 4 filhos, porém esse número diminuiu para 1 a 2 filhos em 2010. E a faixa etária dos casais que tinham filhos, em 1980, ficava entre 18 e 25 anos, ou seja, uma média de 22 anos sem filhos.
Esses números me levam a uma pergunta:
Qual versão dos seus pais você conhece?
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Provavelmente conhecemos aquela que precisava trabalhar para sustentar a família, ou a versão com preocupações sobre qual é a melhor educação que poderiam nos dar, ou até mesmo aquela versão cansada que não gostava de sair nunca de casa. Mas será que essa é a versão mais interessante dos nossos pais ou eles já tiveram uma versão libertadora, onde podiam ser indivíduos que se preocupavam apenas com eles mesmos?
Isso pode ser uma reflexão um tanto profunda, mas pense comigo.
O que você fazia antes da maternidade ou paternidade?
A maioria das pessoas tinham uma outra vida, ou seja, uma versão completamente diferente da atual.
- Quando você lembra desses momentos, tem mais lembranças boas ou ruins?
- Arrisco dizer que existem mais momentos bons do que ruins.
- E são momentos que você consegue resgatar ou eles ficaram em uma outra vida?
- Arrisco dizer também que eles ficaram para trás.
Existe uma palavra para tudo isso, ela se chama nostalgia.
A pergunta que fica é: Sabemos também qual é a nossa melhor versão? Ou isso não importa, pois a construção da família é o mais importante?
Provoco essas reflexões porque quero chegar em um ponto importante: entendo que muitas pessoas não conseguem ou não querem enxergar o luto da versão que viveram antes da maternidade/paternidade, e isso fica mais evidente nos homens, é só pegar a estatística do aumento de mães solo que vem crescendo no Brasil.
Essa fuga da paternidade não é exclusividade da nossa geração, nossos pais também não tinham estruturas emocionais para encarar esse luto, ou vocês acham que seus pais/homens encaravam a paternidade como forma de relação afetiva?
Venho coletando vários depoimentos de famílias ao longo desses anos, principalmente dentro das rodas de conversa masculinas, onde os homens relatam que seus pais negligenciaram o exercício da paternidade, mas se mantinham firmes como os provedores do lar.
O resgate dessa conexão é bem difícil, mas talvez uma forma de recriar laços afetivos seja através da curiosidade positiva.
Você já perguntou aos seus pais qual foi a viagem mais romântica que eles fizeram ou a coisa mais doida que realizaram na vida? Essa é uma forma curiosa de você saber qual foi a melhor versão dos seus pais.
Só esteja preparado para as respostas. 🙂
E para seus filhos, você já contou histórias da sua vida antes da chegada deles? Tirando versões impróprias para menores, vale contar todo o resto!
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.