O tempo que as crianças dedicam à realização de atividades físicas como andar, correr, pular, jogar bola e passear de bicicleta, está diretamente relacionado ao aumento da atenção, habilidades motoras e capacidade de socialização. No entanto, cerca de 57,4% das crianças não se movimentam pelo tempo proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esse é um dos dados apresentados no estudo “A importância do equilíbrio entre atividade física, tempo sedentário e sono para o desenvolvimento infantil“, realizado por Clarice Martins, professora associada do Departamento de Educação Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O estudo acompanhou 270 crianças de 3 a 5 anos matriculadas em pré-escolas localizadas em zonas de baixa renda da cidade de João Pessoa (PB). O intuito foi identificar se os pequenos de famílias de baixa renda cumprem as seguintes recomendações de distribuição de tempo diário determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS):
- Atividade Física: 180 min ao longo do dia, dos quais pelo menos 60 min devem ser com atividades de moderada a alta intensidade;
- Comportamento sedentário: não mais que 60 min consecutivos de exposição às telas;
- Sono: entre 11 e 13 horas (3 a 4 anos) e entre 9 e 11 horas (5 a 6 anos).
Segundo o levantamento, as crianças:
- 64,8% não dormem a quantidade de horas recomendada;
- 84,8% ficam expostas às telas por tempo maior do que o máximo indicado;
- 57,4% não cumprem o tempo recomendado de atividade física;
- 33% não aderem a nenhuma das recomendações;
- 3% somente das crianças de baixa renda entre 3 e 5 anos cumprem todas as recomendações da OMS.
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Um maior equilíbrio do tempo gasto entre atividade física, sono e comportamento sedentário pode, contudo, influenciar positivamente o desenvolvimento infantil.
De acordo com a publicação, crianças que substituíram de 5 a 20 minutos por dia de tempo sentado por atividades físicas apresentaram:
- 34% de aumento na atenção, foco e inibição de impulsos indesejáveis;
- 35% de aumento nas habilidades motoras;
- 29% de aumento na resistência cardiorrespiratória;
- 7% de aumento na força;
- 15% de aumento nas habilidades de socialização.
“A primeira infância é fundamental para a formação integral da criança. Nesse período, o tempo despendido em atividades físicas, comportamento sedentário e sono está diretamente associado ao desenvolvimento de habilidades cognitivas, físico-motoras e socioemocionais. Os ganhos de seguir as recomendações da OMS são inúmeros e se refletem na saúde física e emocional da criança, com efeitos na adolescência e na idade adulta, podendo reduzir riscos de doenças futuras, como obesidade, depressão e ansiedade, por exemplo”, explica Clarice.
O estudo reforça, ainda, o papel da gestão pública na aplicação prática das recomendações da OMS. Segundo Clarice, é necessário promover ações educativas entre pais e filhos e investir na capacitação de professores para melhor adequação de tempo dentro das pré-escolas, evitando longos períodos com as crianças sentadas a partir da inclusão de atividades com movimento durante a rotina.
A pesquisa é uma das finalistas do Prêmio Ciência Pela Primeira Infância, desenvolvido pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) com objetivo de identificar e reconhecer pesquisadores de diferentes partes do Brasil com estudos focados no desenvolvimento de crianças de zero a seis anos.
Para acessar o estudo na íntegra, clique aqui.