Artigos
Maioria dos pais acha que castigos, gritos e palmadas são necessários na educação da criança, diz estudo
Dar castigos para as crianças, gritar com elas e até mesmo dar palmadas nos pequenos são ações ainda consideradas comuns por muitos pais. É o que diz o estudo “Primeira Infância Para Adultos Saudáveis” (Pipas). Segundo a pesquisa, 73% dos pais acreditam que os castigos são necessários para a educação das crianças. Quase metade deles (49%) acha que é preciso dar palmadas nos pequenos e 25% acha que os gritos são necessários.
A pesquisa foi realizada com 7038 cuidadores de crianças de até 5 anos de idade, em 16 municípios do estado do Ceará, incluindo a capital, Fortaleza. A realização é do Instituto de Saúde. Os dados foram coletados em outubro de 2019, portanto antes da pandemia do novo coronavírus, o que causa preocupação em relação ao agravamento dessas ações durante a quarentena. “A criança está o tempo todo com os pais, com as escolas fechadas. A gente tem que levar em consideração que é uma situação de estresse para famílias, para cuidadores. Muitos deles estão vivendo situação de isolamento, tendo que lidar com questões financeiras, com a crise que estamos vivendo”, afirmou Sonia Venâncio, diretora-assistente do Instituto de Saúde, à Agência Brasil. “Precisamos pensar que a criança pode estar exposta a um ambiente em que cuidadores estão estressados e que podem eventualmente lidar com essa situação, utilizando mais esse tipo de disciplina punitiva”, acrescentou ela.
Leia também – Palmada funciona?
A preocupação principal é com os efeitos que ações como dar castigos, gritar e bater podem ter no desenvolvimento das crianças. Para Sônia, pode haver impactos negativos na saúde mental, desencadeando até mesmo problemas comportamentais. “Por isso que neste momento temos a preocupação de conhecer essa realidade para poder lidar com isso, trabalhar com abordagem aos pais para que não utilizem esse tipo de prática”, explicou à reportagem da Agência Brasil. “Os pais têm formas diferentes de educar a criança e é claro que precisam ter práticas de disciplina, mas recomendamos que não sejam violentas. O ideal é conversar com a criança e explicar o que é esperado do comportamento dela e quais as consequências de comportamento não adequado. Sempre priorizando o diálogo e dando bons exemplos”, orienta Sônia.
Outros dados da pesquisa Pipas mostram que 37% das crianças de 4 e 5 anos não tem livros infantis. Entre crianças de até 3 anos de idade, o número sobre para 65%. Em relação a atividades de estímulo (ler, cantar, brincar, contar histórias, levar para passear, nomear, contar e desenhar), duas em cada três crianças foram engajadas em quatro ou mais dessas atividades nos três dias que antecederam a entrevista para a pesquisa – ou seja, 37% delas não recebeu esses estímulos.
Leia também – Educação infantil: orientações para a volta às aulas
Eduardo Marino, diretor na Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que trabalha pelos pela primeira infância, acredito que esse cenário também possa ter se agravado durante a quarentena. “Ninguém estava preparado para isso”, afirmou à Agência Brasil. “[As pessoas] têm que trabalhar, cuidar das demandas de casa e mais das demandas educacionais. Não é pouca coisa. E é particularmente difícil para os mais pobres. A situação de confinamento é estressante quando colocamos a dimensão da desigualdade”, disse ele.
Quer receber mais conteúdos como esse? Clique aqui para assinar a nossa newsletter. É grátis!
Heloisa Scognamiglio
Jornalista formada pela Unesp. Foi trainee do jornal O Estado de S. Paulo e colaboradora em jornalismo da TV Unesp. Na faculdade, atuou como repórter e editora de internacional no site Webjornal Unesp e como repórter do Jornal Comunitário Voz do Nicéia. Também fez parte da Jornal Jr., empresa júnior de comunicação, e teve experiências como redatora e como assessora de comunicação e imprensa.
VER PERFILAviso de conteúdo
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O site não se responsabiliza pelas opiniões dos autores deste coletivo.
Veja Também
Mesmo após aprovação da “Lei Felca”, poucos pais conhecem ferramentas para proteger as crianças na internet
Levantamento inédito, feito com 1800 pais, mostrou que apenas 36% já ouviram falar sobre as novas regras do ECA Digital....
Por que o possível aumento da mortalidade infantil no mundo também diz respeito ao Brasil
Depois de 25 anos de queda contínua, relatório global acende alerta de risco de retrocesso na saúde das crianças. Vacinação,...
Pisca-pisca de Natal encantam as crianças, mas exigem cuidados importantes para evitar acidentes
Choques, queimaduras e até incêndios podem acontecer quando as decorações não são instaladas corretamente. Especialista alerta para riscos e dá...
Você sabia que 90% dos acidentes com crianças e adolescentes poderiam ser evitados, com medidas simples?
Em entrevista exclusiva, pediatra aponta mudanças simples que fazem a diferença na prevenção e podem salvar vidas





