Tenho acompanhado duas famílias que estão com bebês e assim como eu, partiram para uma segunda gestação após a primeira experiência ter sido difícil. A história delas também começou com susto, UTI, diagnósticos com nome difícil, sonhos interrompidos, frustração, aperto no peito e dor. E é a partir daí que a gente se encontra.
Luísa nasceu e ficou na UTI por 28 dias, em estado grave, e quando finalmente veio para casa, era uma bebê que demandava muitos cuidados para os quais eu não havia sido preparada. Receber o diagnóstico que a minha primogênita tinha uma doença rara, degenerativa e sem cura, não foi nada fácil.
Eu iniciei no mundo da maternidade com um medo avassalador. Mas nossa filha foi crescendo e, aos poucos, o meu amor foi se mostrando maior que o medo, fui aprendendo como era ser mãe de uma criança com deficiência, fui aceitando a minha filha real, voltando a respirar, dormir melhor, até que me deu vontade de ser mãe novamente.
Luísa, Nana e Dora são as irmãs mais velhas que chegaram de uma maneira atípica e nos ensinam sobre resiliência, força e fé. Thor, Gael e Benjamim são os irmãos que nasceram no tempo certo, mamaram no peito, cresceram, engordaram, sentaram, riram, se desenvolveram dentro do esperado. São os filhos que nos permitiram vivenciar os processos naturais de um desenvolvimento típico.
Tenho curtido muito acompanhar a descoberta desses irmãos e os sentimentos desses pais. Olhando para essas famílias hoje, relembro como foi a chegada do Thor e da Laila aqui em casa e o tanto de benefícios e aprendizados que eles nos trouxeram.
Acho importante falar dessa relação que se constrói quando chega mais um membro na família. De repente os pais se veem divididos entre as demandas do filho atípico e do novo bebê. A rotina da casa muda. O tempo disponível diminui e a conta bancária também (risos) . Mas as crianças vão interagindo naturalmente e nos ensinando novas maneiras de olhar.
A filha que antes precisava das muitas terapias, agora tem um “treinador” o tempo todo em casa estimulando, puxando o cabelo, dividindo o brinquedo e atenção dos pais. Quer mais estímulo do que um irmão correndo, pulando, falando, cantando, brincando, todos os dias do seu lado? É natural que role ciúme, disputa e cansaço. Mas os momentos de demonstração de afeto e calmaria são tão bons, que compensam a parte chata.
Há estudos que mostram que as relações que estabelecemos durante a infância com nossos irmãos vão ter uma influencia importante na forma como vamos construir nossa identidade.
Não há uma maneira certa ou errada de os irmãos viverem e crescerem juntos; em vez disso, toda família deve buscar seu próprio equilíbrio.
Como pais, precisamos estar atentos às necessidades de cada filho e às emoções que podem surgir dessa relação. Os irmãos das crianças com deficiência podem se sentir ansiosos e preocupados diante de uma cirurgia ou piora do quadro; ciumentos pelo fato da atenção estar mais voltada ao filho que tem necessidades especiais; irritados se lhes for pedido que assumam mais tarefas domésticas do que seus irmãos; envergonhados ou mesmo zangados quando estranhos olham fixamente ou provocam seu irmão ou irmã porque ele ou ela parecem diferente; pressionados por terem que cuidar do irmão na ausência dos pais (excesso de responsabilidade).
Já a criança com deficiência pode se sentir triste ou frustrada ao ver que seu irmão ou irmã está fazendo coisas que ela não consegue fazer. A presença de um membro da família com doença rara ou deficiência cria muitas oportunidades para desenvolvermos habilidades socioemocioanais importantes: empatia, resiliência, amor, paciência, responsabilidade, autoconhecimento, confiança, respeito, adaptabilidade, capacidade de resolução de problemas e criatividade.
É importante estabelecer um equilíbrio entre as necessidades do filho com deficiência e as dos outros filhos; conversar honestamente sobre a verdadeira condição do irmão; passar algum tempo com cada criança individualmente a fim de desenvolver um relacionamento especial com cada um; praticar a escuta, conversar sobre os sentimentos, nomeá-los e acolhê-los.
Cada criança, com sua natureza, é única, um universo de possibilidades, e deve ser respeitada em sua essência. Como pais, precisamos estar cientes do nosso papel: quanto melhor for a nossa relação com cada um dos filhos, maior facilidade eles terão em se relacionarem.
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Que maravilhas Deus pode fazer nas vidas de quem ama os filhos , cresce e evolui com os obstáculos. Este seu modo de ver a vida, contribui para um dia a dia melhor para tantas famílias. Obrigada Educadora Parental Mônica pitanga, por compartilhar tanta vivência e conhecimentos . Gratidão