“Brain rot” é um termo inglês que se refere à deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa exposta a conteúdos extremamente dinâmicos e de baixa qualidade. Em tradução livre, a expressão significa algo como “apodrecimento do cérebro” e está associada ao consumo excessivo de material superficial, em especial, nas redes sociais. Ela foi nomeada pela Oxford University Press como a expressão do ano de 2024, por ser uma das mais usadas e que causou maior impacto social. Segundo especialistas da universidade inglesa, o uso dessa expressão teve um aumento de 230% entre 2023 e 2024.
Trata-se de um “conteúdo fácil, rápido, fútil, repleto de gatilhos que estimulam consumo e mostram um padrão de vida difícil de alcançar para a maioria das pessoas”, explica o psicólogo Lucas Freire, especialista em bem-estar. Para ele, a vida essencialmente digital, pautada na superficialidade, contribui para o adoecimento emocional e pode se mostrar um risco, em especial, para as crianças.
“Na infância, os aspectos cognitivos e emocionais estão em uma espécie de “fase de treinamento” para que desempenhem tarefas mais complexas na idade adulta. A exposição constante às telas traz grandes possibilidades de acarretar o “brain rot”, que pode inibir as habilidades imprescindíveis para a interação futura nos quesitos acadêmicos, profissionais e, até mesmo, sociais”, destaca Lucas, autor do livro “O Leão da Bochecha de Balão e a Redescoberta do Play”, que fala sobre o perigo do excesso de telas para as crianças.
Entre as consequências do uso excessivo de dispositivos eletrônicos estão o comprometimento de habilidades como a capacidade de planejamento, resolução de problemas, tomadas de decisão e preservação da memória. Isso porque a quantidade e rapidez da informação digital altera o circuito de recompensas do cérebro e gera uma busca constante por estímulos rápidos e imediatos. Assim, a criança perde motivação para buscar novas experiências e estabelecer conexões reais.
Para evitar o desenvolvimento do brain rot, o psicólogo orienta os pais a administrar o tempo que o filho gasta na internet, em mídias sociais, vídeos e jogos online, principalmente antes de dormir.
“Os responsáveis também devem ficar atentos ao que o algoritmo entrega para os pequenos, como conteúdos negativos e propagandas de uma vida inalcançável, para que não estimule sensações de ansiedade, autoimagem deturpada ou até mesmo raiva”, destaca o especialista.
Para mudar esse cenário, é importante que os pais deem o exemplo primeiro, deixando as telas de lado para viver experiências de vida com as crianças, por meio de atividades como o brincar livre.
“Na primeira infância, o cérebro está em rápido desenvolvimento, e as conexões neurológicas são moldadas pela interação com o mundo físico. O uso de telas nessa fase pode atrasar e prejudicar muito essa dinâmica”, conclui Lucas.