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Automedicação: esse hábito pode trazer riscos à saúde

Nos últimos seis meses, quantas vezes, você ou seus filhos, tiveram algum sintoma e utilizaram remédios que já tinham em casa, sem orientação de algum profissional da saúde?
Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) no ano passado evidenciou esse hábito brasileiro: perto de 80% da população fez uso de automedicação nos seis meses anteriores à pesquisa, quase metade se automedicou pelo menos uma vez por mês e um quarto (25%) o fez todo dia ou pelo menos uma vez por semana.
Esse costume se estende aos filhos e, ainda mais em tempos de quarentena, em que somos encorajados a ficar em casa, o acesso restrito ao serviço de saúde pode piorar os índices de automedicação, levando a situações de perigo.
As classes de medicamentos mais utilizadas variam desde analgésicos, antitérmicos, antiinflamatórios, xaropes para tosse e alergia, corticoides, descongestionantes a até mesmo antibióticos, posto que, na prática e infelizmente, é quase sempre possível adquirir qualquer medicamento sem receita no Brasil.
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Além da falta de recurso para o acesso a um médico, são inúmeras as situações em que a indicação não médica de um remédio acontece: o vizinho ou alguém do grupo de mensagens, um familiar que fez uso da medicação e recomenda, ou então o fato de já ter utilizado o medicamento com outro filho e mesmo ter visto na internet ou propagandas nos meios de comunicação.
É um conjunto de situações que leva a uma falsa sensação de segurança, mas que pode ocasionar episódios de grande risco e até mesmo emergência. Abaixo, mencionamos os principais deles. Confira.
Alergias: podem surgir logo após tomar o medicamento, dias ou semanas depois. Os sintomas variam de leves erupções cutâneas até urticária e anafilaxia que pode levar à morte por asfixia. Além disso, um remédio pode causar alergia mesmo após sua utilização durante um certo período de tempo, fazendo com que o acompanhamento médico seja fundamental.
Atraso de diagnóstico: a automedicação pode mascarar sintomas e atrasar o diagnóstico de condições de saúde mais sérias, atrasando a busca pelo serviço médico e, consequentemente, ao tratamento adequado.
Intoxicação medicamentosa: no Brasil, como na maioria dos países, os medicamentos são o principal agente de intoxicação – um terço das intoxicações relatadas no ano ocorrem por uso indevido de medicamentos e, em pouco mais de um terço dos casos, é na faixa etária até os cinco anos que esses acidentes acontecem.
Resistência bacteriana: o aumento de bactérias resistentes está diretamente relacionado ao uso excessivo e incorreto dos antibióticos disponíveis, e está entre os dez maiores problemas de saúde global.
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Nesse contexto, é mais do que importante enfatizar a necessidade de obtermos informações adequadas e suficientes sobre o uso correto dos medicamentos, visando a uma utilização mais precisa, eficaz e segura.
A grande maioria da população faz uso da internet para a busca por informações sobre saúde, mas, mesmo com toda a informação disponível, nada substitui a interação e consulta do médico com o paciente.
Ter remédios em casa se faz necessário, mas o local deve ser bem escolhido para que fique completamente inacessível às crianças e ao mesmo tempo conserve os medicamentos. Fazer limpeza e organização periódicas é fundamental para evitar o uso de produtos fora do prazo de validade. Tomados todos esses cuidados, a farmacinha domiciliar pode ser de muita ajuda, mas diante de qualquer sintoma e antes de usar qualquer medicação, o melhor a fazer é procurar o contato com um médico.
Ter um pediatra acessível é a chave para evitar contratempos. O médico que conhece os episódios anteriores e os padrões de saúde da criança é a melhor pessoa para orientar. Converse com seu pediatra.
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Talita Lodi Holtel
Talita Lode Holtel é mãe de Paola e Helena. Pediatra e hebiatra formada pela Unifesp, é especialista em gestão em saúde e coordenadora do Pronto Atendimento Infantil e da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital Sepaco (SP), além de Supervisora do Programa de Residência Médica.
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