Crianças de até 6 anos serão as mais afetadas, a longo prazo, pela suspensão das aulas presenciais

As crianças pequenas têm menos autonomia para aprender por meio de aulas online

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Falta de aulas presenciais pode afetar principalmente crianças da primeira infância, como esse garoto que brinca com um trenzinho
Até aqui, o que se tem visto é muita improvisação, busca de soluções inviáveis, promessas e cobranças impertinentes
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A discussão sobre reabrir as escolas e retomar as aulas presenciais tem levantado muitos questionamentos quanto aos riscos e benefícios que essa medida pode trazer. Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, recorda uma afirmação do ministro da Educação da França, Jean-Michel Blanquer, sobre o assunto: as consequências de não abrir as escolas são muito mais sérias do que a alternativa (de abrir).

Com base em evidências científicas de outras situações semelhantes à atual, em que as aulas presenciais foram canceladas devido à pandemia de covid-19, Oliveira levanta alguns ensinamentos.

Primeiro, ele diz que os danos tendem a incidir de maneira desigual sobre os alunos. “Primeira infância e alunos ainda não alfabetizados serão os mais afetados no longo prazo. São os menos autônomos para aprender. Há um momento certo para certas aprendizagens, especialmente no início da vida”, escreve o professor. Ao perder esse momento, pode haver um prejuízo à formação da criança. É na primeira infância, até os 6 anos de idade, que se formam cerca de 90% das conexões cerebrais. Esse período da educação infantil, portanto, serve de alicerce para o desenvolvimento dos indivíduos.

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Oliveira também ressalta que a recuperação deste período sem aulas presenciais se dará a longo prazo, não no imediato. “Aumentar dias e horas de ensino não se confirma como estratégia promissora, especialmente se consistir em mais do mesmo e, pior ainda, se implicar doses maciças que acabam prejudicando a retenção e fixação das novas aprendizagens”, orienta.

O especialista aponta ainda um terceiro aspecto: as estratégias que promovem saltos qualitativos de qualidade dependem de uma série de condições que não se encontram presentes no cenário educativo brasileiro, e, particularmente, no cenário e no horizonte das políticas educacionais e dos parâmetros dentro dos quais operam as redes públicas de ensino.

Segundo Oliveira, das estratégias que podem funcionar com ou sem pandemia, a principal tem a ver com o uso do tempo disponível. “É fundamental assegurar a frequência escolar – mais barata e mais eficaz de todas as estratégias, especialmente com alunos de maior risco de reprovação e deserção”, exemplifica.

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Para o presidente do Instituto Alfa e Beto, até aqui o que se viu tem sido muita improvisação, busca de soluções inviáveis, promessas e cobranças impertinentes: repor integralmente o calendário escolar e as horas-aula previstas na lei, apelar para as tecnologias.

“Nada disso parece ter chances de ajudar de maneira significativa a recuperar o tempo perdido. As evidências sugerem caminhos que, se bem planejados e implementados, podem ajudar a reduzir os prejuízos. E, quem sabe, fugir da improvisação, da mediocridade reinante, e promover estratégias mais eficazes, inclusive para a operação regular das escolas no longo prazo”, conclui.

No retorno às aulas, um ponto fundamental tanto para as escolas quanto para as redes de ensino será a avaliação do aprendizado dos alunos. A realização de diagnósticos para avaliar o conhecimento de cada criança é fundamental para lidar com as lacunas de conhecimento geradas nos meses em que as escolas permaneceram sem aulas presenciais, declara Oliveira.

Confira o artigo na íntegra aqui.

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