Por Gabriela Willer
Quem é mãe certamente viveu a delicada experiência do pós-parto chamada de puerpério, que se inicia após o nascimento do bebê e dura de seis a oito semanas. Nesse momento, ocorre a queda nos níveis hormonais da mulher e pode acontecer o chamado “blues puerperal”, com sintomas como cansaço, desânimo, insegurança, tristeza inexplicável e choro sem motivo. “É uma situação, normal e esperada, em que a mulher pode estar mais frágil e sentimental”, diz a ginecologista e obstetra Angélica Ferrari Dotore. É aí que as atividades físicas e culturais podem entrar como grandes aliadas para as mamães construírem suas redes de apoio, compartilhando experiências, servindo de inspiração umas para as outras e tornando o momento mais leve, desde o pós-parto até os primeiros meses de vida dos bebês.
No caso dos exercícios físicos mais intensos, como corrida e abdominais, a recomendação é que só sejam retomados 45 dias após o parto normal e três meses no caso de cesáreas, segundo a médica. Mas outras atividades exigem menos do corpo e podem trazer mais leveza às mães e aos pequenos em suas primeiras semanas juntos. É o caso da Dança Materna, projeto voltado para mulheres com bebê de colo, com aulas em várias cidades do país. No bairro de Botafogo, na zona sul do Rio, elas são ministradas pela professora Fabiana Kasprczak. Ali, a reportagem encontrou um ambiente agradável, com música baixa, tapetinhos e fitas coloridas pela sala. Com o auxílio de uma bolinha, as mães se encostam na parede e começam a fazer massagem nas regiões das costas, lombar e mãos, enquanto os bebês ficam deitados nos tapetes. Interação, exercícios de respiração e troca de experiências, como uma afetuosa roda de conversa, também fazem parte dos trabalhos. Ao final da aula, todas dançam e se divertem com os babies no sling, ao som de músicas animadas. “A Dança Materna possibilita a otimização da redução de peso, a reeducação corporal e incentiva o mútuo-conhecimento entre mãe e filho. Para o bebê, há o conforto do balanço na dança, a proximidade com a mãe e é um momento de relaxamento”, diz a professora.
Na Dança Materna podem participar mães com bebês a partir de 1 mês.A pequena Maitê, de apenas 2 meses, já frequenta o espaço com a mãe, a jornalista Vanessa Andrade, que conheceu o projeto por meio de amigas. Vanessa conta que ali consegue se desconectar e exercer o melhor da maternidade. “É quando me acalmo da rotina de uma recém-nascida e consigo curtir o momento”. Fundado em 2008 pela bailarina Tatiana Tardioli, o projeto é desenvolvido em outras 39 cidades do país.
Criado no mesmo ano por Irene Nagashima, o projeto CineMaterna tem salas especiais e sessões de cinema voltadas para mães com bebês de até 18 meses. Tudo é pensado para o bem-estar dos pequenos: ar-condicionado, som e iluminação são regulados para as crianças, e há, ainda, fraldário abastecido com fraldas, pomadas e lenços umedecidos para uso gratuito, tapetes EVA e “estacionamento” de carrinhos. A programação geralmente é de conteúdo adulto, escolhida por votação das próprias espectadoras. “O CineMaterna tem o cenário perfeito para a mãe relaxar e voltar à vida social, sem abrir mão de estar com o seu bebê. Amizades e grupos de amigos já foram formados por intermédio do projeto”, diz Irene. O sucesso foi tanto que hoje o evento já acontece em 112 cinemas de 16 redes de exibição espalhadas por 45 cidades em 17 Estados brasileiros.
Corrida e fitness
Adepta da prática de esportes a vida toda, a belo-horizontina Luciana Machado queria voltar a se exercitar logo depois do nascimento do filho Ian. Mas o cansaço inicial, principalmente por causa da amamentação, além das mudanças físicas e emocionais, a deixaram exausta nos primeiros meses. Ela tinha consciência de que demoraria a retomar a rotina anterior, o que só aconteceu quando o filho estava com três meses.
Sem ter com quem deixar o filho para ir à academia, Luciana teve a ideia de desenvolver um projeto para estimular as novas mamães a darem os primeiros passos na retomada da prática física, o Mamãe Saudável. É um treino funcional usando o carrinho de bebê, assim as mães não precisam se separar dos filhos para se cuidar. “Quando nasce um filho, nasce uma mãe. Por mais que a gente goste desse novo papel, a rotina, principalmente no início, é muito desgastante. De repente, você se lembra que não é só mãe e é preciso um apoio para voltar [a dar conta de tudo o que fazia antes]”.
Além do Mamãe Saudável, Luciana é a idealizadora do Corre Mamãe, um grupo de corrida que começou no WhatsApp para inspirar e motivar mães a correrem. O primeiro encontro foi em fevereiro, quando as participantes conheceram profissionais parceiros e ainda correram com os treinadores do projeto. Também receberam dicas de como administrar o tempo e deixar para trás o sedentarismo, apesar da correria após a maternidade. Luciana gosta tanto de correr participa de corridas de rua levando o filho junto, num carrinho próprio para o esporte. Ela acredita que seja um alívio para ela e, ao mesmo tempo, uma distração para o filho: “A prioridade é ele, se ele reclama, eu paro na hora. Também foi uma forma de eu conhecer melhor meu filho.”
Já a professora de educação física e pedagoga Susanne Weber, quando ainda estava grávida, decidiu procurar outras atividades além da ioga para gestantes e pilates. Em conversa com amigas da Alemanha, país onde nasceu, soube da existência de
exercícios destinados à recuperação da região pélvica pós-parto. Viajou, pesquisou, aprendeu a técnica, adaptou-a para o Brasil e, a partir dela, elaborou os cursos Mama Fit e Carrinho Fit. “A gente fortalece a região pélvica e a lombar, que é tudo que a mamãe precisa, além de oferecer exercícios funcionais e localizados essenciais para voltar ao bem-estar”, diz a professora.
As aulas do Mama Fit consistem em elementos de alongamento, fortalecimento da região pélvica, uma dança lúdica para a mamãe e o bebê, além da ginástica localizada. Os benefícios são múltiplos. Para os pequenos, inclui a parte de psicomotricidade, que estimula todos os sentidos, o contato e a interação com outras crianças e, claro, a conexão com a mãe. Em cada aula do Mama Fit é possível perder cerca de 400 calorias. Já nas aulas de Carrinho Fit há caminhada, exercícios de agachamento, fortalecimento da região pélvica e equilíbrio usando os carrinhos dos bebês, como o próprio nome sugere, além de movimentos com os pequenos, que são um momento lúdico para eles. O gasto calórico é de aproximadamente 500 calorias por aula.
Onde praticar
Dança Materna
Aulas em várias cidades do país. Informações: www.dancamaterna.com.br.
Mamãe Saudável
Informações: Instagram @saiadainercia, Facebook @blogsaiadainercia, site: www.saiadainercia.com.br.
CineMaterna
Programação da semana: www.cinematerna.org.br/sessoes. Geralmente as sessões ocorrem durante a semana, no horário da manhã e à tarde.
Mama Fit e Carrinho Fit
Aulas no Rio de Janeiro. Mais informações: BambooFamilyclub.com.br e mamafit.com.br.