Estar ansioso significa sentir-se preocupado, nervoso ou temeroso. Quando você se sente ameaçado ou em perigo real, a ansiedade age como um sistema de alarme para mantê-lo longe do dano. É uma sirene tocando no seu corpo: batimentos cardíacos geralmente são alterados e até sua expressão facial pode mudar.
Medo, angústia e ansiedade são as palavras da vez, diante do cenário causado pela pandemia. Todo mundo está preocupado ou com um parente no grupo de risco ou com a situação econômica do país. E ainda tem a questão da vacina que não chegou para todos. Estamos juntos, em barcos separados, mas na mesma tempestade. Entretanto, mesmo diante de tantas incertezas e com o cenário nebuloso, como pais ou educadores, não podemos nos esquecer dos pequenos.
Com as crianças, a situação não é diferente: elas também têm medos e ansiedade. Esses sentimentos não são privilégio apenas de adultos. Contudo, a maioria dos medos e ansiedades infantis são normais – muitas vezes decorrentes do processo de aprendizagem em cada fase – e é comum que desapareçam naturalmente. Você se lembra de quando aprendeu a andar de bicicleta ou de quando amarrou o tênis pela primeira vez? Lembra-se das primeiras palavras lidas, das primeiras frases? Certamente esses desafios geraram muita ansiedade; mas, vencido o obstáculo, a inquietude deu lugar ao prazer.
A ansiedade passa a ser um problema quando se torna disfuncional e impede a criança de realizar tarefas simples, como dormir, brincar com outra criança ou ir à escola. Nesses casos, pode-se falar em transtornos de ansiedade.
Antes de julgar que a ansiedade está se tornando um problema, é importante ficar atento aos sinais e levar em conta a idade e a fase pela qual a criança está passando. Não saia por aí rotulando, observe primeiramente.
Atitudes que a ansiedade pode provocar nas crianças:
- Alterações no apetite – não comia passou a comer demais ou o contrário.
- Dificuldades no sono – crianças com sono muito agitado, com pouco sono ou que apenas querem dormir (os exageros precisam ser considerados)
- Queda no rendimento escolar – observe como andam as questões de relacionamento com a turma, com professores e com o ambiente escolar nesse tempo de pandemia
- Desmotivação – crianças que não querem brincar, não se interessam por nada, muito quietas também chamam nossa atenção.
- Medos e preocupações excessivas – crianças com medo de que os pais morram, que choram com os pais indo trabalhar (choro desenfreado) ou outras preocupações que podem aparecer.
- Dores de cabeça – aparentemente sem nenhuma razão ou somente em algumas situações (sempre na aula online, ou quando chega uma determinada pessoas).
- Tonturas.
- Retraimento social.
- Oscilação de humor.
- Irritabilidade ou apatia.
Pais ansiosos? Crianças ansiosas? Nem sempre. Cada caso é um caso, mas não podemos esquecer que somos exemplos para os pequenos. Eles se espelham em nossas atitudes, mesmo naquelas que não enxergamos.
Fatores biológicos e familiares estão entre as origens da ansiedade. A transmissão genética de pais para filhos está estimada em cerca de 50% da predisposição à ansiedade, embora ainda haja discordância sobre essa relação (Bögels; Brechman-Toussaint, 2006).
Uma pesquisa realizada por dois psicólogos americanos, Jean Twenge, da Universidade Estadual de San Diego (EUA), e Keith Campbell, da Universidade da Geórgia (EUA), associou o uso de telas por pequenos a partir dos 2 anos à ampliação dos níveis de ansiedade e maior ocorrência de diagnósticos. O estudo também observou que, entre as crianças de até 4 anos, aquelas que eram mais expostas às telas apresentaram o dobro de chances de perder a paciência e, pouco menos da metade delas, 46%, apresentaram menor probabilidade de se acalmar em situações de excitação ou estresse. Em tempos de ensino remoto vale a pena observar o tempo de exposição à telinha do computador.
“Se fosse apenas pela demanda de atividades ou pela demasiada exposição à tecnologia, toda criança seria ansiosa”, explica o psiquiatra Fernando Asbahr, coordenador do Programa de Transtornos de Ansiedade na Infância e Adolescência do IPq, Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (SP). Ou seja, o ambiente pode influenciar, mas não pode ser inteiramente responsabilizado pela ansiedade das crianças.
De fato, os dias tem sido difíceis, então, respire fundo, seja transparente com a criança, mas não jogue sobre elas o peso dos temas cotidianos do mundo adulto. E, antes de tudo, se sentir que a situação está fora do controle, procure ajuda especializada.